Buenas moçada, como estão?
Este ano de 2017 completa-se 40 anos do 1º festival de danças tradicionais gaúchas do Brasil.
O Festival que foi o precursor do FEGART, e após o ENART foi um grande movimento para a época.
Recebemos um material completo do amigo Diego Muller do CTG Brazão do Rio Grande, no qual deixamos abaixo na íntegra!
Logo após, algumas reportagens de jornais que marcaram a época:
40 anos de concurso estadual
1977-2017
“O 2017 nos chegou vibrante, nos trazendo à comemoração de uma data muito importante para todo o nosso movimento de danças gaúchas e de louvação ao nosso folclore regional. É um ano único e de celebração, de lembranças e muitas histórias, todas desembocando hoje em um concurso estadual vivo e de dimensões espantosas, via sua estrutura física e virtual, somando a impressionante quantia de 80 grupos concorrentes, somente na etapa final, com 60.000 pessoas circulando no parque de Santa Cruz do Sul/RS. Afora tantos e tantos mais telespectadores, tornando o canal do youtube o segundo mais visualizado no mundo durante o concurso, colocando o Rio Grande do Sul numa das maiores potencias culturais do mundo… merecidamente!
Pois foi num sábado, em 15 de outubro de 1977, que realizava-se a final do I FEMOBRAL… a final do nosso primeiro e pioneiro concurso estadual de danças, na cidade de Bento Gonçalves, consagrando o CTG BRAZÃO DO RIO GRANDE, da nossa cidade de Canoas, no primeiro campeão estadual de danças gaúchas da história. Hoje, um marco para nossos concursos e nossas manifestações artísticas regionais, que tanta gente movimenta e ensina.
Celebramos em 2017, 40 anos de concursos estaduais oficiais… 40 anos do primeiro campeonato estadual… 40 anos do primeiro campeão… 40 campeões… e, principalmente, 40 anos de um magnífico crescimento cultural e artístico para com as nossas danças gaúchas e nossas manifestações culturais rio-grandenses.
Vamos conhecer melhor essa história!!!
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Festival estadual de arte popular e folclore E o primeiro campeão do estado
Na década de 70, o MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização – empenhava-se em combater o alto nível de analfabetismo no país. No Rio Grande do Sul, além da alfabetização, almejava divulgar a cultura como forma de elevar a auto-estima da população, oportunizando o surgimento de novos valores sócio-artísticos. O professor e advogado Praxedes da Silva Machado, responsável cultural pelo Mobral, buscou a parceria do MTG – Movimento tradicionalista gaúcho – e do IGTF – Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore – criando assim o “Festival Estadual de Arte Popular e Folclore”, que se popularizou como FEMOBRAL ou ainda somente, MOBRAL. O evento foi idealizado para ser itinerante, sendo realizado pioneiramente, a cada ano, em uma cidade distinta.
Antes, o estado já possuía outros pequenos concursos com características também estaduais, porém mais a nível estudantil, promovido pela Secretaria Estadual de Cultura e sem uma organização institucional ampla, recebendo o FEMOBRAL, então, o título de primeiro concurso estadual de cultura e dança que tivemos. O FEMOBRAL veio realmente para revolucionar, em uma época em que as “invernadas artísticas” estavam se adaptando de um modo de dançar totalmente singelo para uma característica baseado no “glamour” dos grupos de shows e de folclore platino (turísticos e profissionais), tão presentes na mídia e na TV, como Os Muúripas e o Conjunto Internacional os Gaúchos. Vários CTGs ativos na época, como Brazão do Rio Grande, Os Maragatos, Aldeia dos Anjos (da região metropolitana), O Bombeador, Caiboaté e Saudade do pago (do interior do nosso estado), tinham influencia de instrutores e integrantes participantes, em paralelo também, a esses conjuntos folclóricos (sendo atividade comum à época). Outra característica que vigorava, a partir de então, também herança justamente dos grupos turísticos, eram as indumentárias iguais e uniformizadas para os peões e prendas. Foi um choque de novidades que se alastrou perante os grupos do estado, tornando o FEMOBRAL uma novidade revolucionária para a época, mesmo alterando os rumos da nossa projeção folclórica desde já seu inicio, apesar de viver apenas num nascedouro. As eliminatórias se davam, portanto, a nível municipal, classificando os grupos para uma segunda etapa regional, desencadeando no evento itinerante estadual e final, em si.
A eliminatória municipal do I FEMOBRAL, em Canoas, se realizou nas dependências da biblioteca pública municipal, no dia 24 de setembro de 1977. Já a regional do mesmo ano realizou-se em São Leopoldo, no dia 8 de outubro (exata uma semana antes da final), contando com as melhores 6 entidades regionais, campeãs em suas respectivas cidades.
A etapa final desta primeira edição histórica teve, então, sua consumação na cidade de Bento Gonçalves, numa tarde chuvosa de sábado, a 15 de outubro de 1977, nas dependências do ginásio municipal.
As danças do Mobral eram realizadas em uma vertente geral de espetáculo, onde o grupo que apresentava danças do folclóre gaúcho no formato que mais agradasse ao público vencia o concurso. As avaliações eram feitas em cima do impacto que os grupos causavam nos avaliadores. Não havia sub-divisões de avaliações (correção coreográfica, interpretação, harmonia, música, indumentária). Basicamente era avaliado o brilho do grupo e a criatividade nas coreografias apresentadas em cima de cada dança: a qualidade artística. Neste período não existiam as entradas e saídas, onde alguns grupos mais arrojados realizavam até quadros-vivos e temas musicais da época para se adentarem no palco.
Nico Fagundes, Gilberto Carvalho, Edson Otto, Marco Aurélio Campos, Ery Assenato, Carmen de Mello Matos, Nei Zardo, dentre outros vultos do nosso folclore e cultos da nossa arte gaúcha passaram pela avaliação do evento, mostrando a necessidade do mesmo de ser ramificador da cultura como um todo, e não somente da didática prática das danças tradicionais em si, sem conversa com o público leigo que aplaude. A direção geral do evento se deu por Edson Otto, Praxedes da Silva Machado e pelo então vice-presidente do MTG Carlos Campos.
E foi, então, dentro desse nascedouro cultural que o CTG Brazão do Rio Grande, de Canoas, consagrou-se no primeiro grupo campeão do estado, em danças tradicionais rio-grandenses, há exatos 40 anos atrás. Celso Luz da Costa (como primeiro posteiro) e Ivalmir Brás de Oliveira (como segundo posteiro), foram, portanto, os primeiros instrutores de danças campeões do estado no RS, estando os dois na ativa ainda hoje: um como avaliador e parte da equipe técnica do MTG do RS (no concurso FEGADAN) e outro como professor de danças de salão.
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E não parou por aí
A 2ª edição do MOBRAL realizou-se em 1978, na capital Porto Alegre, no palco maravilhoso do clássico Araújo Viana, com os concursos individuais e acampamentos abraçados pelo centro esportivo Geroge Black. A etapa regional da grande Porto Alegre realizou-se em Montenegro, com outros 6 grupos concorrentes. E o evento naturalmente cresceu, incluindo então 2 grupos mirins, se apresentando ao mesmo. Novamente o CTG Brazão do Rio Grande levou o troféu maior de campeão do estado, se apresentando já como favorito, concorrendo já com outros 10 grupos dos quatro cantos do nosso estado. Um bi-campeonato consagrando a grandiosidade daquele grupo de danças pioneiro. Em 1979, a 3ª itinerante realizou-se já em Lajeado, após uma etapa regional metropolitana sendo abrigada pelas dependências do CTG Poncho Crioulo, da cidade de Esteio. E para a felicidade da comunidade canoense, o CTG Brazão do Rio Grande leva o tri-campeão do estado, levando consigo para Canoas, e para a grande Porto Alegre, o primeiro troféu rotativo de danças, por ter vencido consecutivamente o primeiro concurso estadual (único tri-campeão consecutivo do estado até hoje). A 4ª edição do Mobral, em outubro 1980, assim foi abraçada por Cachoeira do Sul. E o CTG Brazão do Rio Grande, atual tri-campeão da época, como convidado “hors-concurs”, não participou do evento, realizando um espetáculo de abertura, no ginásio do clássico parque da Fenarróz. No mesmo ano de 1980, devido à vinda do Papa João Paulo II ao Brasil e a Porto Alegre, se realizou uma integração entre os CTGs mais conceituados da época e os campeões do Mobral, para uma apresentação histórica e em conjunto ao pontífice. Os CTGs convidados foram selecionados pelo IGTG, tendo João Carlos Paixão Côrtes como líder, auxiliado também por Edson Otto, se baseando nas características mais fiéis aos temas folclóricos da época. O CTG Brazão do Rio Grande foi selecionado, tanto no conjunto musical quanto no corpo de baile, apresentando ao Santo Padre as nossas danças do Pezinho, do Balaio e da Cana-verde, em frente ao Gigantinho lotado, no Beira-rio, em um dia histórico para toda a tradição gaúcha e nosso povo sulino.
Por fim, também no mesmo ano, o folclorista Paixão Côrtes, conhecedor e próximo aos trabalhos do CTG Brazão do Rio Grande, se via necessitado em possuir um segundo grupo de danças para sua quantidade de shows, a que era requisitado na época. Havia diversos pedidos de apresentações e demonstrações das nossas manifestações folclóricas, acima da demanda. E nasceu dessa oportunidade a honra de um convite do folclorista, para o CTG Brazão do Rio Grande ser o seu segundo grupo de shows, quando requisitado. Infelizmente o convite não pode ser aceito pela entidade, devido aos compromissos dos dançarinos da mesma (inclusive já bailarinos de grupos profissionais da época). Mas aqui fica o registro da glória desse convite único, qual somente o CTG Brazão do Rio Grande possui.
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O ônibus, o vice e o caminhão
Era comum dos grupos irem aos eventos da época com ônibus sem os confortos que temos hoje. O custo não permitia. Muitas vezes os motoristas tinham horário marcado para ir e retornar. A caravana de 1977 do CTG Brazão contou com 40 pessoas num ônibus de linha municipal… comum… se não fosse uma diferença, notada depois: era um ônibus que transportava caixões fúnebres em seus horários de serviço, cedido pelo município ao grupo. Imaginem o tipo da viagem até o evento: uns iam com medo, rezando, uns cantando, enquanto outros até deitavam no local onde os caixões eram transportados, imitando a posição de um possível ali morto. Dizem os participantes da época que o dia 15 de outubro foi de muita chuva e água. O telhado do ginásio em Bento era de zinco. Quando CTG Brazão se preparava para entrar em palco caiu um mundo d´água, não conseguindo se escutar uma só fala no ginásio.
O som de 77 também não possuía a tecnologia de hoje: era um microfone apenas, para 5 músicos, sem cabos. Não se escutava nada do musical. Foi preciso esperar passar aquela tormenta passar para a entidade entrar em palco. O grupo e a torcida do Brazão retornou a Canoas logo após a apresentação, devido ao motorista, ficando somente 2 integrantes para o baile, logo mais à noite, esperando justamente a entrega da premiação… os posteiros Celso Luz da Costa e o Bráz Ivalmir de Oliveira, popular Xarope. Ficaram com pouca “plata” no bolso, nem para umas cervejas… só com a fé de encontrar uma carona com amigos ou outro CTGs da grande Porto Alegre.
Durante a premiação, descrentes por total, ao anunciarem o vencedor foi aquela festa dos dois sós no baile. A premiação, para o Brazão foi inesperada, já que tudo era novidade a todos, concorrendo inclusive com outros grupos também conceituados na ocasião. Realmente… voltaram de carona, justamente com o CTG vice-campeão das danças, O Bombeador, de Pelotas, na maior integração no ônibus, trazendo para Canoas o inédito troféu de segundo lugar em chula do Xarope, de campeão do estado em danças e o troféu primeiro rotativo, enorme, lustroso, chamado “troféu cidade de Bento Gonçalves”, no domingo de madrugada. Ao chegarem a Canoas, na manhã de domingo mesmo, passaram de casa em casa dos colegas de grupo acordando a todos (pois na época não existia celular, muito menos watts e Faces da vida), com os troféus de campeão nos braços. Um dos participantes do CTG tinha um caminhão… já beberam umas na taça… reuniram a todos… subindo no caminhão… e desfilaram numa passeata improvisada e digna de campeão do estado, mostrando a toda Canoas a premiação histórica que ficaria para sempre, como um marco. Tempo bom!
Ah… só uma observação: A sede do CTG Brazão do Rio Grande pegou fogo em 1976, numa noite trágica para a cultura canoense, nunca desvendada. A entidade ficou sem sede de 76 a 83, tendo-a reconstruída aos poucos, via doações, ensaiando em salas de aula de escolas municipais, cedidas pela prefeitura, cruzando de escola em escola. Essa dificuldade não esmoreceu ninguém, fortalecendo a tradição e a vontade da entidade, sendo ela a válvula propulsora da força e superação. Ensaiando em salas de aula de 5×6 o CTG Brazão do Rio Grande se tornou assim o primeiro campeão do estado em danças gaúchas, e uma das maiores potencias em danças entre o fim da década de 70 e início da década de 80 – num ciclo de ouro!”
Que história em gauchada?
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