Sou uma pessoa bem firme nos meus pensamentos e no que aprendo, principalmente nas questões que domino ou que lidero. Em resumo, confio no que aprendo.
Sei onde aprender! Mas, não me conformo em somente escutar e acreditar…
Contesto, penso, vejo, revejo, repenso, analiso e concluo. Depois posso “reconcluir” novamente. Não me estanco. Isto dentro de um processo de amadurecimento natural e ideal. Não me acomodo com o que aprendo, nem com o que o tempo me trás de novo. Para se tirar, depois disso, algo da minha cabeça, há de realmente me provar. Se não mostrar, não creio.
Isto tudo facilita nosso modo de trabalho, com os pés firmes no chão, sem “fés exacerbadas” e “sonhares inalcançáveis”… Como muito se vê por ai.
Penso (e defendo sempre) de que não tenho mais talento para ensinar do que para aprender. Isso conforta, diante das dúvidas, pois sempre estaremos curiosos, atentos, lendo, vendo, testando, errando, acertando, analisando e chegando a denominadores comuns que buscamos e cremos serem os melhores…
Mas não podemos nos acomodar. Não podemos achar que o nosso tempo é agora e só o de agora. Não podemos ter visões saudosistas, do que é ou o que foi melhor… Não podemos desmerecer o que nos vem ou o que outros enxergam, diferentemente… Temos que ter em mente de que sempre estaremos aprendendo, recebendo, mudando, voltando atrás se necessário (perdendo orgulhos ou vaidades) e passando o mínimo que possamos aos outros, como cultura. Sempre devemos achar que nosso tempo é o de SEMPRE: Nosso tempo não é só o da infância, da adolescência, do tempo adulto, o tempo das vitórias, o das derrotas, o dos melhores momentos, da saudade, etc. Nosso tempo não é e não deve ser saudosista, pois isso repreende, engessa e estanca.
Nosso tempo é, sempre, o do todo. E assim ele ensina. O saudosismo não, esse preocupa.
É como uma pessoa antiga (mesmo culta, cheia de capacidades e de oportunidades novas), que ganha um celular novo e moderno (“IPhone” talvez), com varias e diversas funções, possibilidades e “apps” para baixar… E não quer aprender todas ou as mais importantes possibilidades, por achar que não precisa, pois a vida toda só usou telefone para ligar e receber ligações… e basta.
Daí surgem aquelas expressões clássicas: É besteira, é desnecessário, bobagem. Argumenta achar que seu tempo que era bom, que aquilo que era vida, que o resto não interessa, que a nova geração só complica… Que os novos ensinamentos e novos recursos só vieram para prejudicar a todos… Não enxergando e criticando o fato, inclusive, de que novas tecnologias foram pesquisadas justamente para facilitar, nascendo de novos estudos, novos ensinamentos, da troca de aprendizados, das oportunidades geradas… Se “olvidando” de que, até muitos novos empregos nasceram para a mesma tecnologia chegar às suas mãos… Mas, mesmo assim, no seu orgulho e, principalmente, comodidade, pensa SAUDOSAMENTE de que “seu tempo que era bom”.
E, de novo, os argumentos se repetem: Bobajada… Desperdício… Complicação… No meu tempo não era assim… Nunca vi isso… Não precisa… Pra que isso… Façam como antes… Sempre foi assim… Quem disse que era assim… Quem mudou… Pra que mudar… Sempre foi assim (esta última frase, a mais constante, disparado)!
Já ouvi algumas vezes que: “no meu tempo que era bom”… Essa juventude de hoje não sabe o que é viver no campo, passar trabalho… E que tempo bem bom. Claro, alguns “escondem” o fato de que moravam em casas de barro e que, apesar de serem bem confortáveis, em relação às temperaturas, era um ninho para a proliferação do “fincão” (como diziam), do “barbeiro”.
Mais fácil é trazer um tempo passado para o tempo presente, do que, realmente se adaptar aos novos meios… Mesmo que já tenha feito isso em épocas passadas.
Para completar o entendimento, estava eu num Festival Nativista da cidade de Campo Bom, em 2013, conversando sobre “novas e antigas gerações festivaleiras”, com um grande músico, amigo e parceiro musical de tempos – ativo nas gerações de fins de 1980, 1990 e 2000 – onde comentávamos, justamente, sobre a crítica e a falta de espaço hoje, de certos colegas músicos e compositores (os mais antigos), exatamente pela comodidade em entender e “reentender” o meio atual, em aprendendo coisas novas e o que as novas gerações “consumidoras” alcançam. Sempre a grande crítica das antigas gerações musicais, para com os novos, era em cima das novas informações: que harmonias complexas atrapalhavam, que violões elétricos eram desnecessários, afinadores nos mesmo também, arranjos incrementados eram alienígenas, aprender cultura brasileira não ajudava em nada, entender o que o mundo vê musicalmente não nos pertence, temas diferenciados nas letras eram invenções, etc. e etc.
Aprender não rouba espaço! Ou seja: havia uma crítica grande com novas informações, que mais pareciam comodidade no aprendizado do que falta de capacidade de aprender. Até porque, “nas suas épocas”, suas praticas que eram as “inovações”!
E, de novo, os argumentos: “No meu tempo que era bom!”
Porém, o tempo anda e o mundo gira… mesmo que não queiramos! Não temos poder sobre isso! Em alguns casos, esse argumento parece mais a preocupação em perder um determinado espaço, criticando novos implementos, sem nem ao menos tentarem conhecer ou melhorar em cima das novidades impostas pelo progresso.
Era um caso isolado, o da conversa do Festival, mas aqui o uso para me fazer entender a todo um meio Tradicionalista.
E a conclusão da mesma? Antigas gerações também devem aprender e olhar o que acontece pela volta, buscando evoluir no que se necessita, sem perder as essências e raízes, sem renegar nada, abraçando novas tecnologias, idéias e informações, os novos elementos que se somam e se agregam. Isto, em paralelo e proporcional ao quanto os novos aprenderam e aprendem com os mais antigos, respeitando, escutando e amadurecendo, em amalgama com outras visões e outros elementos distintos.
O conhecimento e o respeito deve ser mútuo e de via de dois lados. Isso é geral, tanto musical como no meio Tradicionalista da dança!
Bom, o que aqui escrevo nunca foi crítica às gerações anteriores, da qual sempre respeitarei, e é por eles que estarei sempre aqui, exaltando-os. Óbvio que não é. De modo geral, é um alerta a mim mesmo, analisando os meios em que vivo. Penso na crítica como protesto quanto ao desrespeito com a capacidade das novas gerações, com os novos elementos e novas informações… Crítica com a COMODIDADE APRENDIZADO, que nunca quero ter em relação à dança e à música… E quando essa comunidade não pode, nunca, se resumir a criticar o novo.
Quantas críticas escutamos do meio, quanto a novos processos modernos de avaliações, por exemplo (os que mais temos de atualizar, para uma avaliação justa e realmente premiando os melhores)? Ou ainda à novos meio de apresentar e representar algo (de dança, música ou trajar)? Ou ainda à busca de novos cuidados, que podem melhorar a capacidade de um corpo de baile, como um todo?
Esses tempos, escutando uma rádio Tradicionalista, me apeguei com a pergunta de: “porque algo mudou”, ou “muda tanto”? A resposta é clara: nem sempre o antigo estava correto. Pode ele, sim, passar por um processo de amadurecimento. E esse processo é natural e temos de manter, para fins de nossa evolução. As tecnologias, em determinado tempo, eram precárias… Então, hoje podemos (mesmo bem posterior ao fato) identificar mais claramente coisas que antigamente não conseguíamos.
O meio da dança amadureceu muito… Isso em 1977, com o surgimento do MOBRAL… Amadureceu mais ainda em 1983, com o curso de Panambí… Com a introdução do IGTF no processo da dança e da música… Com a formatação de Planilhas pelo IGTF… Com a criação do FEGART, em 86… Nos FEGARTS de 89, 90 e 91 (já citados)… No FENART de 91 (também já citado)… Na Vacaria de 92… Na reunião histórica dos instrutores com o folclorista no MTG em 92… Com o ENART nascido de 99… Com o MOGAR, iniciado em 2001… e em tantos e tantos momentos, dos quais temos de valorizar e, entender realmente, que foram um processo de amadurecimento do momento anterior. Nesses casos citados, nunca o “antes que era bom” foi um argumento que carimbou a cena… E sim “vamos fazer um novo futuro” parece que foi o lema de todos.
Mas… Ainda nos deparamos com atos que querem nos retornar há décadas atrás, onde nem havia a tecnologia e as gerações atuais de juventude, que entendem o processo às avessas. Ou seja: temos que nos atualizar. Como já disse um folclorista mestre: “quem não se atualizou não ficou, já passou!”
Não tenho interesse de ser como outros, meu interesse é de aprender mais, para acrescentar mais. Cada um faz a sua função, respeitando e sendo respeitado. As coisas se somam, e uma pedra em cima de outra pedra são duas pedras, em matéria maior do que a primeira: sem tirar a importância de BASE dessa tal. Porém entendendo de que não se lida sozinho.
Vejo, assim, uma falta de atenção, quanto aos novos, a novos elementos, novas fórmulas e novas informações, onde (sou um deles) buscam justamente o que falta no meio para completar essas lacunas e aumentar as informações ao público interessado. Me causa uma grande preocupação, quando se procura incansavelmente aprender e buscar novos elementos para se somar, e os mesmos são tratados com descaso, como besteira, elementos desnecessários e até exagerados. Do outro lado da moeda vemos tudo sendo colocado no mesmo saco. O que trabalha, do que não trabalhou, se nota longe. Porém é mais fácil nivelar por baixo, pois a quantidade aumenta. E quantidade é melhor que qualidade e que cultura!
É mais fácil nivelar por quem não tem cultura, pois a grande maioria não se interessa, não busca, não aprende, não lê, não ensina…
Reclamar se torna mais fácil do que realmente aprender!
Fechando a porteira (que já esta grande essa milonga), espero que as novas gerações culturais sejam vistas com mais oportunidade e como pólos irradiadores de ensinamentos também, como fomentadores de novas formatações, como novos idealizadores e trabalhadores, ao invés de receberem pré-conceitos de quem veio antes da gente. Que as novas gerações também sejam pólos culturais e de projeções do nosso folclórico, para que a ponte cultural seja de ida e vinda, de duas vias… E nunca de mão exclusiva!
Que as informações distintas sejam, ao menos, respeitadas. Que novos elementos tecnológicos não sejam desperdiçados. Que novas visões sejam vistas como acréscimo para as antigas ideologias. Que novas conclusões sejam vistas como maturações. Que leituras venham a ensinar mais. Que o novo não seja visto como afronta ou mudança, mas sim, SEMPRE, como AMADURECIMENTO!
Menos “no meu tempo que era bom”… Menos “nunca vi disso”… Menos “sempre foi assim”… E mais “capacidade de aprender”!!!
Nosso tempo é o de sempre, não o de antes nem o de agora, muito menos o que só nos deu vitórias ou só alegrias… Que não sejamos SAUDOSISTAS e sempre possamos buscar o APRENDIZADO, sem confrontos!
Eu não quero seguir os de antes…
…Quero é buscar o que eles sempre procuraram!!!
Salve!