Já parou para analisar quanto os grupos gastam para dançar o ENART e quanto gira a economia?
Em épocas atuais onde cultura tem sido tratada com ato secundário, ou ainda fora das pautas da Educação (tratada como algo “desnecessário para a formação e o bem-estar de sociedade“), números podem ser levantados facilmente para, ao menos mostrar, o quanto ela mexe também com a nossa economia.
Já disse esses dias um especialista, que: “É preciso ver o alcance para a juventude e a educação. Há ainda uma visão atrasada para o que o setor representa. Música não pode ser encarada só como atividade cultural, mas também como atividade desenvolvimento econômico. As duas devem estar fundidas e em todas as esferas de governos.”
E isso pode ser intensificado para a área da dança e da cultura, como um todo.
As conversas entre as bancadas militantes da cultura, dentro da Câmara Estadual de Deputados, tem sido também (além da desburocratização da LIC) em quantificar os valores econômicos e populacionais que a cultura gere, para justamente tirá-la das zonas confortáveis de “crescer pelas macegas” (sem apoio, sem cuidado, participando somente de evento “autossustentáveis”).
Temos levantado (em dados muito precisos) uma média de 500 rodeios por ano em nosso Estado, por exemplo, sendo esse número mais de 1 evento por dia. Eventos estes que deixam dinheiro nas cidades, deixam nos ônibus, nos transportes, táxis, Ubers, postos de gasolina, nos restaurantes, nos hotéis, no rapaz que guarda os carros, estacionamentos, a que vende xis, pastel, cachorro quente, cerveja, água, ingressos, etc., etc. e etc.
O montante e potencial econômico que gira na cultura (já que não se quer ditá-la como Educação), é muito grande… E esse viés, sim, pode ser fomentado, junto a nossos legisladores e executivos.
Um dos exemplos claros (que aqui viemos apontar) é justamente o que, somente a dança do ENART gera em torno da sua circulação de renda.
Já pararam pra pensar e imaginar o quantitativo? Somente dos grupos de danças, dos 80 grupos que estão ano a ano na sala? Fora os que ficam pelas Inter´s e regionais, os que não participam, os pré-mirins, mirins, juvenis, veteranos, xirús (que participam de outros concursos)… Os grupos do Fegadan… dos Rodeios… Também fora os individuais, intérpretes, musicais, trovadores, danças de salão, declamadores, etc. e etc… E também fora o que circula no evento, como a confecção do palco, aparelhagem e técnica de som, transmissões de rádio, transmissões de TV´s, avaliadores, camisas de avaliadores, sistemas de avaliação eletrônica, hotéis, restaurantes, transportes, instrumentos musicais de quem participa, sistemas de portarias, de ingressos, bebidas, praça de alimentação, palcos, pirâmides, coberturas, arquibancadas, comércio diverso, venda de livros… E tanto e tanto e tanto mais.
O cálculo seria astronômico, somente neste evento, porém muitíssimo real (e ainda, mesmo assim, não sabemos se mexeria com os legisladores e executivos, dos governos municipais e estaduais).
É assim que segue abaixo, este pequeno exemplo que levantamos, somente nos custos dos 80 grupos de danças do palco do ENART. Claro, tudo são médias, calculadas sobre amostras de valores atuais, captados na internet e com vendedores os quais temos constante acesso.
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*COMPOSIÇÕES: R$ 160.000,00 (80 grupos com músicas de entrada e saída, a R$ 1.000,00 cada);
*COREOGRAFIAS: R$ 160.000,00 (80 grupos com coreografias de entrada e saída, a R$ 1.000,00 cada – valor pode oscilar em demasia, já que há coreógrafos bem mais baratos, assim como gastos maiores, dependendo das distâncias, complexidade da coreografia, o que acarreta em mais hotel, transportes, alimentação, etc.);
*ACESSÓRIOS DE COREOGRAFIAS: R$ 160.000,00 (80 grupos com acessórios com gastos médios de R$ 1.000,00 por coreografia – valor bem médio, já que o evento possui grupos sem gasto algum com acessórios, chegando a outros com gastos de R$ 25.000,00);
*TRAJES DE PRENDAS: R$ 960.000,00 (80 grupos com uma média de 12 prendas cada, com valor de R$ 1.000,00, em média, por vestido, com tecidos e costureiras);
*SAPATILHAS DE PRENDAS: R$ 134.400,00 (80 grupos com uma média de 12 prendas cada, com sapatilha no valor de R$ 140,00 em média);
*PENTEADOS DE PRENDAS: R$48.000,00 (80 grupos com 12 prendas em média cada, com penteados sob custo de R$ 50,00 médios cada – não contabilizando os possíveis 40 grupos que classificam-se para as finais);
*TRAJES DE PEÕES: R$ 288.000,00 (80 grupos com média de 12 peões, com trajes atuais – bombacha, colete e camisa – com tecidos médio de 3,50m por pessoa, a R$ 50,00 o metro do tecido, e feitio médio de R$ 60,00 a bombacha e R$ 40,00 Reais colete, com camisa social pronta média de R$ 25,00 – esse valor, claro que é bem médio, já que trajes de épocas aumentam muito desse valor, casaco aumenta mais um pouco neste valor, e a qualidade dos tecidos e costuras também variam muito);
*BOTAS DOS PEÕES: R$ 240.000,00 (80 grupos com média de 12 peões, com botas no valor de R$ 250,00 em média);
*GUAIACAS DOS PEÕES: R$ 144.000,00 (80 grupos com média de 12 peões, com guaiacas no valor de R$ 150,00 em média);
*LENÇOS DE SEDA DE PESCOÇO: R$ 96.000,00 (80 grupos com 12 peões em media em cada, com lenços a R$ 100,00 cada);
*CHAPÉUS DE PEÕES: R$ 172.800,00 (80 grupos com média de 12 peões em cada, com chapéus modelos atuais – pêlo e lã, clássico – ao valor de R$ 180,00 cada);
*BARBICACHOS PARA CHAPÉUS: R$ 38.400,00 (80 grupos com 12 peões em média cada, usado barbicachos ao valor médio de R$ 40,00 por peça);
*ESPORAS: R$ 144.000,00 (80 grupos com média de 12 peões cada, usando espora com valor médio de R$ 150,00 cada);
*FAIXAS DE CINTURA: R$ 43.200,00 (80 grupos com 12 peões em média cada, usado faixas ao valor médio de R$ 50,00 por peça);
*TRAJES DE “PASSEIO” DOS PEÕES: R$ 336.000,00 (80 grupos com 12 peões em média cada, usado bombachas “ditas campeiras” a R$ 180,00 por peça, camisa social a R$ 80,00 por peça, alpargata a R$ 50,00 a peça e cinto a R$ 40,00 a peça);
*TRAJES DE “PASSEIO” DAS PRENDAS: R$ 336.000,00 (80 grupos com 12 prendas em média cada, usado trajes de “passeio” proporcional ao dos peões, com bombachas “ditas campeiras” a R$ 180,00 por peça, camisa social a R$ 80,00 por peça, alpargata a R$ 50,00 a peça e cinto a R$ 40,00 a peça – modelos e tipologias variam muito, sendo aqui calculado um valor médio);
*LENCINHOS DE BOLSO PARA TIRANA E TATU: R$ 38.400,00 (80 grupos com 24 dançarinos em média por cada, cada um com seu lencinho de bolso, com custos de R$ 20,00 médios por cada – tecido e confecção);
*MUSICAIS: R$ 200.000,00 (80 grupos, com musical médio de 5 integrantes, com valor médio de R$ 500,00 com ensaio e apresentação no ENART por cada);
*INSTRUTORAS DE PRENDAS: R$ 400.000,00 (80 grupos, cada um com sua instrutora, num valor médio de R$ 500,00 por mês, com ensaios preparatórios para ENART quantificados, de Fevereiro a Novembro);
*INSTRUTORES: R$1.600.000,00 (80 grupos, cada um com seu instrutor, num valor médio de R$ 2.000,00 por mês – R$ 500,00 por semana – com ensaios preparatórios para ENART quantificados, de Fevereiro a Novembro – não quantificados os valores de transportes, alimentação e hospedagens).
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*TOTAL MÉDIO POR GRUPO:
R$ 71.240,00 POR GRUPO DE DANÇAS
*TOTAL MÉDIO:
R$ 5.699.200,00 NO EVENTO DE DANÇAS
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LEIA MAIS: ATÉ ONDE AS CRIAÇÕES COREOGRÁFICAS DEVERIAM IR?
É muito dinheiro, não?
E esses são só os valores que se gasta antecipadamente… Como dito, falta ainda todos os custos que ficam na cidade de Santa Cruz do Sul.
Só umas observações mais, quanto aos quantitativos:
*OBS. 01: Não contabilizado trabalhos extras de instrução, referente à “revisão coreográfica”, “trabalhos de interpretação”, “expressão corporal”, montagem de “pau-de-fitas”, “sapateios” e outros mais que se contrata por aí;
*OBS. 02: Não contabilizado também trabalhos de “pesquisas de temáticas”;
*OBS. 03: Não quantificados trabalhos com musicais em meses anteriores ao do ENART;
*OBS. 04: Há peças, referente aos trajes, masculinos e femininos, que possivelmente podem ser reaproveitados nos anos seguintes, sem custos adicionais, de acordo com a viabilidade;
*OBS. 05: Os valores atuais são médios, levantados via propagandas de sites e canais de comércio via internet;
*OBS. 06: Os quantitativos foram levantados para os 40 grupos da etapa A e da etapa B do Enart (grupos e quantitativos de etapas regionais e inter-regionais estão nos quantitativos descartadas).
E por fim, lembramos importantemente que: USAR RENDA PARA TRANSMITIR, DISTRIBUIR E FAZER CIRCULAR A NOSSA CULTURA, É UMA COISA… Já, usar a cultura para gerar renda, como sendo o fator mais importante de todos (até do que a própria cultura), aí é outra bem diferente (a ser combatido, claro e com razão obvia)… Esta segunda opção é a que mais tem sido usual hoje em dia (a renda acima de tudo e de todos. Educação cultural? Pra que!?!)!
Mas isto merece uma pauta muito particular, somente para ela!
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