Buenas gauchada, como estão?

A cultura gaúcha sempre teve muito enraizada essa distinção entre o Homem e a Mulher.

Cada um, no seu canto, com suas atribuições.

Porém essa “herança” cultural está ainda muito presente, mesmo frente a diversos movimentos e tentativas de mudanças.

Claro, as melhoras são notáveis, porém…

Tempos atrás, nunca se imaginava uma mulher como Patroa de um CTG, por exemplo, e hoje se torna cada vez mais comum (ainda bem!).

Porém o que ainda é um tabu muito forte aqui nos pagos, é a MULHER como INSTRUTORA DE DANÇAS.

A pergunta que sempre nos fazemos: POR QUE EXISTEM TÃO POUCAS INSTRUTORAS?

Ou ainda, por que tantos grupos não dão o devido valor para as prendas que trabalham em seus grupos?

Os nomes lembrados, sempre são os mesmos, e de Homens…

Será que mulher não pode ser a PERSONAGEM PRINCIPAL?

Para falar mais sobre esse assunto, contatamos algumas mulheres que estão envolvidas no movimento, trabalhando com grupos de dança ou então que já fizeram parte, e nos passaram um pouco da sua visão sobre este assunto:

CÁRMEN LÚCIA ÁVILA

Olá Sou Cármen Avila, instrutora de danças do CTG Aldeia dos Anjos, de Gravataí desde 1994 juntamente com meu esposo.

Geralmente, os grupos de danças escolhem o seu instrutor que conta com a ajuda de uma mulher, para o auxílio com as prendas. O que não quer dizer que esta, irá ter menos trabalho do que ele ou tão pouco, menos valor na parceria.

Nós mulheres, somos mais detalhistas, somos mais observadoras e porque não dizer, muito participativas nas decisões importantes dos grupos.

Creio que o motivo de não termos muitas mulheres como instrutoras frente à grupos, se dá pela falta de confiança dos mesmos na figura da mulher como líder.

Isto é um fato, não quer dizer que não exista aqueles que acreditam e que inclusive, tem como instrutora uma mulher.

Sei que é uma minoria, mas acho de grande valia contar com a sensibilidade feminina. Espero ter colaborado com vcs!

Agradeço o convite!

Instrutora de Danças

VANESSA ROSSATO

“A dança parte da alma, atravessa o corpo e lhe possibilita um momento de conexão intrínseca entre o eu físico, a música, a essência da mente e o coração!!!! Sendo assim, divirta-se!

É mais ou menos isso que digo aos meus alunos quando inicio uma nova etapa ou até mesmo antes de um evento. SIMMM, meus alunos! Pois além de ser professora da área biológica, sou instrutora de danças tradicionais há algunssssss anos!! Por incrível que pareça!

Digo isso, por que fui convidada a falar sobre a presença da mulher no meio tradicionalista, principalmente no papel da instrução!

O que podemos dizer que é quase inexistente.

Hiiiiiii…não, na verdade não! Ele existe! E muito!

No entanto, é lastimável que em plano séc XXI ainda exista fragmentos de maior recognição masculina perante as mulheres. Mas é claro, que esse é um dos resquícios de valores ainda obsoletos da própria sociedade, que ainda preambula em nossos âmagos, mesmo que não percebamos!

A algum tempo atrás levamos um dos nossos grupos para concorrer em um rodeio onde citaram “N” nomes de instrutores “nascidos” do CTG Rincão Serrano de Carazinho, e para minha surpresa… Somente homens!

Como assim? Imediatamente pensei, tá! E a Letícia, Camila que são atuais instrutoras lá? A Raquel, (que foi minha instrutora)? E eu? (Que também iniciei minha trajetória tradicionalista nesta casa)

Conheço tantas…tantas mulheres que possuem rico conhecimento, na contrapartida de que muitas vezes, nem são citadas ou reconhecidas como tal! Vou ser mais realista ainda! Garanto que na maioria, dos grupo há uma instrutora! Mas que não é “identificada” como tal para “os de fora”!

Já fui questionada por homens sobre movimentos de sapateios….che! Mulher também pode ensinar! Ou só o homem é capaz de passar um sarandeio? Claro que não! Eu mesmo brinco com meus alunos que eles vão ficar pra trás!

Sei que em meio a mudanças estruturais de uma sociedade tradicionalista que ainda guarda traços de uma cultura machista, não podemos depreciar a figura da instrutora, que justamente por ser mulher, possui um olhar muitas vezes diferenciado e panorâmico, e que só enriquece o trabalho de um grupo!

Finalizando…

Patrões, coordenadores, instrutores, e demais cargos dentro de entidades tradicionalistas; olhem com atenção para todas as mulheres que enriquecem esse trabalho bilateral em suas entidades!

Não é chororô não!

É existente e verdadeiro!

Em alguns momentos, eu passo por isso até hoje!

Não viemos ao mundo para sermos sozinhos, somos seres sociáveis e necessitamos uns dos outros para prosseguirmos! A cultura é rica, múltipla e pública!

Deixo um carinho especial as instrutoras que trabalham atualmente mais próximas: GAN Sepé Tiarajú (Mônica, Sabrina, Paula e Bianca); CTG Guido Mombeli (Jossandra e Iara). Beijão a todas!

AGRADEÇO AO CASAL GUILHERME E JÉSSICA, PELA POSSIBILIDADE DA CHARLA!”

Catelini Padilha

CATELINI PADILHA

Para iniciar a resposta a essa pergunta, desejo citar 4 momentos dos primórdios do movimento tradicionalista aqui do Rio Grande do Sul:

· No final da década de 40, 8 jovens, todos homens, iniciam atividades voltadas a valorização do meio rural e de hábitos nativos do Rio Grande;

· Em 1948 é fundado o primeiro CTG, sob liderança masculina, com uma estrutura de administração moldada com inspiração nos moldes rurais;

· Em meados dos anos 50, é lançado o Manual de Danças Gaúchas, pesquisadas por Paixão e Lessa, 2 homens, com explicações um pouco mais detalhadas aos movimentos masculinos (até porque a maioria dos entrevistados nas pesquisas eram homens);

· No final da década de 70, Paixão Côrtes lança seu livro O Gaúcho – Danças, Trajes e Artesanato, com ricos registros da sociedade rural do Rio Grande do Sul no início de sua formação.

Não há como negar que, desde as coreografias dos grupos de danças até a gestão das entidades, as ações em CTGs são determinadas (ou muito influenciadas) por esses (ou pelo menos um desses) quatro momentos até hoje.

Se pensarmos nesses quatro episódios de forma analítica, não podemos extrai-los do contexto social da época, onde a mulher não tinha uma atuação tão ativa (externa a familiar) como hoje se dispõem. Desta forma, acredito, que continuamos a replicar (dentro das entidades tradicionalistas) um modelo que traz o homem como líder maior, ficando a mulher em papéis secundários, principalmente apoiando e servindo essa liderança masculina. Penso que isso se replique de forma automática, sem valor intencional. “Sempre foi assim, sempre será assim”, criou-se um modelo mental e institucional.

Sinceramente, não acredito que o machismo seja a resposta para essa pergunta. Embora o povo gaúcho (e o mundo de forma geral) tenha o patriarcado como base social e muitos tradicionalistas façam questão de vender a imagem de que o homem daqui é um ser grosso e sem sensibilidade, bem sabemos que a mulher gaúcha tem personalidade forte, talvez herança também de uma sociedade forjada a guerras, onde então as mulheres assumiam papéis de protagonismo no seio familiar e da comunidade.

Também sabemos que muitas mulheres ocupam cargos estratégicos de liderança nas entidades tradicionalistas, sendo determinantes para o bom funcionamento das atividades, mas acabam ficando novamente a sombra de líderes homens (novamente) por hábito, por comodismo ou (talvez) por imposição mesmo. Penso que é hora de nos apresentarmos aos papéis principais, não no sentido de ofuscar a participação masculina, mas na necessidade de aplicação de uma nova visão as potencialidades que habitam um centro de tradições gaúchas.

Mais especificamente quanto a liderança na parte prática de danças tradicionais, para mim também fica evidente que todo grupo necessita de uma referência feminina e que não é a mesma coisa um homem ensinar as prendas.

A maioria dos instrutores de dança que conheço (e conheço muitos, mas não conheço todos) tem suas prendas auxiliares. Essas prendas repassam as orientações que o instrutor transmite a elas, ou seja, as ideias e conceitos são do instrutor, muitas vezes sem debate, sem ponderação.

Penso que o ideal seria que mais prendas se interessassem em estudar a respeito dos conceitos das danças, dos trajes, dos festivais, dos propósitos, do contexto todo. Ler, participar de forma ativa de cursos e painéis, questionar, colocar seu nome na responsabilidade técnica do grupo. Não somente participar do ensaio, mas participar das decisões, com argumentos bem baseados.

Nós mulheres, temos visões distintas dos homens, enxergamos outras possibilidades, que podem contribuir com os resultados. Não é uma competição para ver quem é melhor (homem x mulher), é uma necessidade de ruptura de um modelo que já está ultrapassado.

Recentemente vimos diversos festivais cancelados, os Festejos Farroupilha com realização ameaçada em diversos locais, grupos com poucos integrantes, muitos CTGs com dificuldades financeiras. Esses são outros exemplos de que o modelo que dava certo até então precisa ser revisto. Estamos no século XXI, lidando com pessoas do século XXI, não podemos nos dar ao luxo de não evoluir.

Tradição é o culto das coisas boas do passado, não é o culto do passado.

Então, que tal?

São visões com pontos de vista diferentes, porém com uma essência muito similar.

Como podemos mudar isso?

Comenta lá no nosso FACEBOOK, e MARCA as mulheres que fazem a diferença no teu CTG, e conta a tua história!

Forte abraço!

#Mulher #DANÇA

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