Somos eternos aprendizes.
Já falei diversas outras vezes por aqui, mas caso tu não saibas, eu repito sem problemas. Dancei alguns ENARTs – 6 no total – por uma entidade aqui da minha cidade. Das 6 participações, dancei um domingo.
Ensaiei praticamente todos os finais de semana durante estes 6 anos, para buscar o sonhado objetivo, que inicialmente sempre fora o tal Domingo.
Bueno, nada diferente da maioria dos dançarinos. Claro, outros que já estão mais habituados a sempre estarem na final, buscam outros objetivos: ficar entre os 10, entre os 5, vencer…
Com essa busca meio “doentia” pelo tal sonho, consegui aprender muita coisa. Inclusive listamos 100 COISAS QUE APRENDEMOS DANÇANDO EM CTG.
Brincadeiras a parte, foi possível aprender alguns atributos para a vida pessoal.
Normalmente nos momentos mais difíceis é que conhecemos quem são as pessoas de verdade. E isso nem é choro nem nada, é só uma constatação que milhares de livros já contaram por aí.
Esse “conhecer as pessoas de verdade” serve para os dois lados – negativo e positivo.
O negativo não precisamos falar, porque de problema os CTGs já estão cheios.
Melhor é lembrar tudo de bom que ficou marcado, sem dúvidas!
Tenho certeza que graças a esta busca pelo objetivo, consegui entender que um grupo sempre precisa ter uma base sólida, com uma coordenação que realmente queira que as coisas aconteçam e que as lideranças do próprio grupo nunca abandonem a barca.
Foi ensaiando horas e horas todos os finais de semana, que aprendi a conviver em grupo, e não só com os melhores amigos, mas também com aqueles com menor intimidade.
Aceitar que não somos todos iguais não é a coisa mais fácil do mundo, porém é necessário.
Entender que os problemas para um, refletem de maneira distinta para o outro, e que tudo certo, bola pra frente…
Hoje acho loucura quando algum amigo meu me conta que vão começar a ensaiar quatro ou cinco vezes por semana, porque querem chegar fortes na Inter e mais ainda na final.
Normalmente penso que “isso não me pertence mais…”
Tudo gira em torno do que cada um busca, e eles buscam um resultado.
A busca pela “perfeição” leva o povo do ENART a ensaiar tanto, horas e horas, buscando sincronismo. E junto com essa alta carga horária, diversos outras qualidades vão aflorando em cada um.
Tudo pelo tão sonhado ENART.
Mas preciso também falar um pouco sobre como é estar fora do ENART.
Hoje danço na outra banda, que está crescendo ano a ano – o tal FEGADAN.
Ainda desconhecido por muitos, talvez mais lembrado como estilo Campeiro ou ainda Vacaria.
Do lado de cá, as coisas acontecem um pouco diferente, mas no fundo – nem tanto.
Quem sonha com um objetivo, também trabalha para alcançá-lo. De maneira diferente acredito eu, com menos ensaios e mais trabalho “intelectual” da dança.
Não se cobra tanto a harmonia do conjunto em forma de sincronia, mas sim em “hamonizar as diferenças”, para que no contexto, fique bonito.
Essa menor carga horário de ensaios, faz com que o contato dentro do galpão seja menos frequente, porém abre uma janela grande para o contato externo.
Como a dedicação é menor – em termos de horas de ensaio – os eventos são levados também de forma mais leve. É muito comum ver os grupos assistindo uns aos outros ao dançarem, inclusive meio misturado. E logo depois que saem do palco, já tem gente interagindo com quem dançou, e arriação pra cá e pra lá.
A integração é gigante, onde a maioria se conhece. Talvez muito por ser um número menor de CTGs que participem, e vira e mexe os mesmos estão nos mesmos Rodeios.
Mas talvez não seja isso. Seja a real vontade de fazer com que o momento de gauchismo, não seja somente dentro do palco. Seja todo um contexto!
Acho que a maior diferença que senti foi essa. Os eventos são diferentes. Parece que há mais parceria entre os “adversários”. Mas não sei, pode ser apenas uma impressão. Talvez quem tenha mudado tenha sido eu, e não o contexto.
Não sei se um estilo ou outro cumpra melhor o papel frente ao Movimento Tradicionalista Gaúcho.
Creio que simplesmente sejam coisas totalmente diferentes, mas que no aperfeiçoamento pessoal, acabam sendo muito parecidos.
A interação social que a dança proporciona, faz com que a cada novo contato, seja possível aprender algum detalhe novo com alguém. E isso não falo apenas detalhes de dança, mas de como se portas, conversar, expor opiniões…
Se alguém pudesse um dia mensurar o benefício que essa convivência em grupo trás para toda a sociedade gaúcha, com certeza todos nós nos surpreenderíamos, pois são poucos locais onde as “diferenças” precisam ser quebradas, ou melhor, harmonizadas entre todos para um bom conviver, e então, chegar aos seus objetivos.
Não vamos dançar só por dançar gauchada. Vamos pensar em todo o contexto e todo o aprendizado que isso nos trás como pessoas e cidadãos.
“Ah, mas como vou pensar em tudo isso, se não tenho tempo mais pra nada, só passo ensaiando??”
Aí que está a grande questão. Faça com que cada ensaio valha a pena. Converse com teus colegas de grupo, tente ajudar no que for preciso, cresça como pessoa a cada dia.
Se eu pudesse, ao final deste texto, resumir o que eu realmente aprendi dentro e fora do ENART, eu diria:
“Quanto mais aprendemos, mais temos a certeza de que sabemos tão pouco ou quase nada.”