Dança recolhida por João Carlos Paixão Côrtes, possui descrição ainda no primeiro Manual de Danças Gaúchas.

A dança tradicional gaúcha do Caranguejo faz parte das danças do ENART. Para contextualizar para quem não sabe, os blocos de danças que são apresentados no ENART são distintos dos blocos do FEGADAN e também da VACARIA.

Essa é uma das danças em comum entre os estilos, porém, ao longo dos anos a sua forma de dançar, principalmente no que refere-se ao seu ciclo ou geração coreográfica foi alterando.

Então neste texto você vai ver:

  • História;

  • Coreografia;

  • Geração Coreográfica e Interpretação;

  • Exemplos dos dois estilos.

HISTÓRIA:

“Oneyda Alvarenga diz-nos, em sua “Música Popular Brasileira” que o “Caranguejo” foi popular no país todo e sobre ele há referências desde o século XIX. Sua larga difusão no Rio Grande do Sul é aquilatável principalmente pela constância com que surgem, ao pesquisador, em todo o Estado, a música e aletra desta antiga dança. De um modo geral a coregrafia não apresentou variantes, nas diversas regiões do Estado. Há quem informe ter sido o “Caranguejo” dançado em fileiras opostas, em certos municípios rio-grandenses; mas a sua coreografia tradicional, entretanto, é a que aqui descrevemos. Os dançarinos podem cantar enquanto dançam.”

Esta descrição é o cabeçalho da dança, retirado do Manual de Danças Gaúchas de João Carlos Paixão Côrtes e Barbosa Lessa, do ano de 1961, 2ª edição.

Podemos concluir que foi praticamente unânime então a formação de roda na dança do caranguejo, e não só por aqui no Rio Grande do Sul.

No Rio Grande do Sul, o primeiro registro musical foi feito por Alcides Cruz para o anuário do Rio Grande do Sul, em 1903. A melodia perdurou em nosso Estado em cantigas de roda ou brincadeiras infantis.” – Danças Folclóricas e Tradicionais Gaúchas: Uma proposta pedagógica, Toni Pereira e Jefferson Camillo.

rodeio vacaria

COREOGRAFIA:

“É uma das raras danças graves, de pares dependentes, registradas no ambiente campeiro do Rio Grande do Sul (nos primórdios da formação rio-grandense, contudo, reconheceram-se, nas incipientes cidades, outras danças graves, como o “minueto” e suas variantes platinas).”

É importante no atermos a este ponto. Os autores consideram e tratam o Caranguejo como “uma das danças graves”, que conviveram no mesmo momento em que danças do Minueto eram executadas nas cidades.

Será que isso transporta o Caranguejo para uma Geração então de danças mais comedidas, como as da 2ª Geração Coreográfica e sua Etiqueta?

Mais adiante falaremos mais profundamente nas gerações coreográficas.

A dança em si é bastante simples, onde os pares postam-se em disposição de círculo, sendo os homens para o lado externo e as damas para o lado interno, postados frente a frente, logo, formam-se duas rodas.

A primeira figura consiste na Marcação.

“Os homens levam o pé direito à frente, e batem fortemente com toda-planta; as mulheres levam o pé direito a frente, estirando a perna, e batem levemente com a meia-planta do pé. O peso do corpo fica sobre a perna esquerda.” – Manual de Danças Gaúchas, 1961.

O pé retorna então para a posição inicial ao lado do pé esquerdo, e então os pares juntos executam três batidas de palmas.

Na sequência os pares executam um balancê com o seu par, através de 7 passos-de-marcha, e ao concluir, cumprimentam-se.

NOTA: Balancê e Meio-Balancê: “Balancê é o movimento que homem-e-mulher realizam, tomados pela mão direita à altura da cabeça, arrodeando em torno de si próprios, mediante passos-de-marcha em curva no sentido dos ponteiros do relógio, de modo a executarem uma volta completa. Mediante o “balancê”, os dançarinos voltam aos lugares iniciais. Se porém, o par realiza apenas meia volta (o homem troca de posição com sua companheira), temos então o Meio-Balancê” – Manual de Danças Gaúchas, 1961.

A segunda figura é a Troca de Lugares.

Os dançarinos realizam 1/8 de volta para a esquerda, fazendo que ao se cruzarem todos estejam face-a-face. Nos 4 primeiros compassos, prendas e peões erguem os braços próximo a altura do rosto e estalando os dedos, imitando castanholas, trocando de lugar com o dançarino que está a sua esquerda.

“Ao concluir os 4 passos, os dançarinos realizam 1/4 de volta para a direita, e assim retornam naturalmente ao face-a-face anterior. Em continuação a esse movimento, ocorre um meio-balancê.”

Esta troca de lugares ocorre sempre para a mudança dos pares.

Aqui vale uma ressalva importante para a finalização da Dança.

Segundo Paixão Côrtes e Barbosa Lessa, a dança pode finalizar ou quando os pares iniciais reencontram-se, ou ao bel-prazer do mandante, que pode determinar o final da dança movimentos antes, em função de um número muito grande de pares.

No ENART essa característica está um pouco perdida, pois sempre são realizadas 3 trocas de lugares.

danca gaucha

GERAÇÃO COREOGRÁFICA e a INTERPRETAÇÃO

Para quem dança o ENART, está mais habituado com os Ciclos Coreográficos: Minueto, Contradança, Fandango e Pares Enlaçados, um pouco diferente da gauchada do lado Campeiro, onde trabalham mais com a classificação das danças de acordo com suas Gerações Coreográficas (1ª, 2ª, 3ª, 4ª e Hibridismos).

Para o ENART, a dança do Caranguejo está classificada como uma Dança do Ciclo das Contradanças, ou seja, com caráter Vivo, Alegre e Descontraído durante toda a dança, podendo haver interação com os demais pares da sala, e não somente com seu próprio par.

Isso faz com que as expressões faciais e corporais sejam mais “soltas”, algo como uma brincadeira entre os pares.

Cristiano Barbosa, em seu livro: Bailar Gaúcho – Entre a Técnica e o Sentir, trata o Caranguejo como uma dança também do Ciclo das Contradanças, e ressalva a importância de manter a naturalidade na realização dos movimentos, mesmo que estes o sejam de forma Viva e Alegre.

Porém, retomando o Manual de Danças Gaúchas lá de 1961, temos a citação abaixo:

“O caráter maneiroso da dança é acentuado por cumprimentos entre os dançarinos, e “balancês” (evolução originária da quadrilha), que permitem à gauchinha demonstrar toda a sua graça. No “balancê”, cada par, tomado pela mão direita, evolui com passos-de-marcha de modo a completar uma volta em torno de si mesmo.”

Voltamos então a falar no “caráter maneiroso” da dança, o que difere da característica das Contradanças, porém também não é falado no mesmo grau de cerimonialidade de um Passeio do Anú ou da Queromana, por exemplo.

O que teria feito a dança do Caranguejo passar a representar as Contradanças, e não o Minueto? Será que por se tratar de uma dança de roda, ou então porque com o passar do tempo, foi se tornando uma brincadeira de roda das crianças, e consequentemente, deixando de ser uma dança mais cerimoniosa?

A dança do Caranguejo também é citada no livro Danças e Andanças de Paixão Côrtes e Barbosa Lessa, no capítulo que trata sobre as danças de 2ª Geração Coreográfica, citando:

Os gestos refinados, os passos comedidos, influíram em todo o relacionamento coreográfico entre o homem e a mulher. É o que se observa no caranguejo, e nos “passeios” de danças anteriormente só sapateadas, tais como o anu.”

Outro detalhe importante: a Segunda Geração, é de meados do século XVII, enquanto a Terceira Geração, que é o das Contradanças, é apenas do século XVIII. Ou seja, nasceram principalmente a partir do clima de rebeldia da Revolução Francesa, tão logo, é impossível que o Caranguejo tenha sido uma contradança, por aspectos temporais.

Então fica a pergunta: por que mudou?

EXEMPLOS DOS DOIS ESTILOS:

Dança do Caranguejo, na VACARIA – pular para o minuto 03:48.

Dança do Caranguejo, no FEGADAN: Pular para minuto 08:40.

Dança do Caranguejo, no ENART:

CONCLUSÃO:

Não sabemos o real motivo desta mudança na dança do Caranguejo.

É algo que realmente nos chamou atenção e por isso decidimos levantar esta “lebre”.

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Forte abraço aos amigos!

#Caranguejo #Danças

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