Segundo a tradição dos romanos antigos, a cidade de Roma foi fundada no ano de 753 a. C., nas proximidades do Monte Palatino, que abrigaria séculos depois o Fórum Romano. Apesar de arqueólogos encontrarem vestígios bastante anteriores, de até 14.000 anos, a história que ficou mais conhecida foi justamente a que se funde entre mito, realidade e tradição.
Corre a lenda que uma loba teria amamentado os gêmeos Rômulo e Remo em meio às colinas próximas ao rio Tibre, e que Rômulo, após matar seu irmão, fundou a cidade que se tornaria eterna.
De uma rústica vila de incipientes agricultores, a cidade se tornou capital de um dos maiores Impérios que já existiram na face da Terra, atingindo seu auge no século II, e que a transformaria – séculos depois – num verdadeiro museu a céu aberto. As muitas Romas ainda estão lá, assim como seus monumentos. A Roma republicana, imperial, a sede da Santa Sé, a sede do Reino da Itália ou ainda a capital da República Italiana moderna.
Caminhar por suas ruas é voltar no tempo, é ver séculos onde a trajetória humana deixou suas marcas. Nossa atenção – como um transe – se alucina, buscando conservar na memória todos aqueles rostos de mármore, os frisos das colunas ou as cores das paredes e jardins.
Tudo é inebriante. Cada pedra tem uma história para contar e as muitas praças e museus reclamam para si a nossa limitada atenção, nas curtas permanências de um turista normal. Ao fim da Via del Corso, que depois continua pela Via dei Fori Imperiali, está a Piazza Venezia e a sua frente, o imponente monumento ao rei Vittorio Emanuele II, primeiro rei da Itália depois da unificação.
Talvez imponente não seja a palavra adequada para descrever o impacto que é estar em frente da colossal construção em mármore branco, inaugurada em 1911. Em primeiro plano, uma majestosa estátua equestre dá as boas-vindas aos milhares de visitantes que seguem pelas escadarias para encontrar a segunda atração: uma cripta com os restos mortais do soldado desconhecido. Ao fim, chegamos ao Museu do Ressurgimento, que conta os passos desse movimento ocorrido entre os anos de 1815 a 1870. E como se é de esperar, alguns pertences de Giuseppe Garibaldi estão lá!
A importância de Garibaldi na história italiana justifica a existência de um espaço exclusivo para rememorar os feitos do herói. Nele podemos encontrar bandeiras com seu rosto retratado além de objetos pessoais como uma pistola, documentos, gravuras e uma bota. Mas certamente o item do acervo que mais chama atenção é um antigo lombilho, acompanhado da respetiva carona de sola ricamente adornada com repuxados.
Como se já não fosse suficiente, o conjunto ainda é completado por estribeiras de sola e requintados estribos de campana, possivelmente em prata. Não cabem dúvidas a respeito da origem do conjunto: o sul da América. Rio Grande do Sul? Uruguai?
Desafortunadamente, a euforia do momento me desvirtuou de uma análise mais profunda. No entanto, o lombilho está lá – silencioso guardião da memória gaúcha. Em quantas jornadas terá carregado nosso “herói de dois mundos”? Em quantas batalhas? E os estribos, terão se “batido” com os de Bento, ou Netto? Se o lombilho falasse talvez diria alguma coisa mais ou menos assim:
“Eu vi corpos de tropas mais numerosos, batalhas mais disputadas; mas nunca vi, em nenhuma parte, homens mais valentes, nem cavaleiros mais brilhantes que os da bela cavalaria rio-grandense”.