“Tchê, por que cada dança é tão diferente da outra? Por que as interpretações não são iguais? O que muda de uma para a outra? Como começou tudo isso?”
Buenas gauchada! Quem dança com certeza já ouviu falar nos Ciclos Coreográficos de cada dança. O mundo do ENART respira isso o tempo inteiro, a cada ensaio, a cada dança… Ciclos coreográficos são diferentes das Gerações coreográficas, a qual falaremos sobre futuramente. O ruim é que pouco se fala sobre a história de cada ciclo, e sim, somente o que tem que ser feito.
Então se tu quer entender mais sobre cada ciclo, CONTINUA A LEITURA, que com certeza vai te ajudar na hora de dançar che!
Para falar sobre os ciclos coreográficos, foi utilizado o novo livro do MTG: Danças Tradicionais Gaúchas, 4ª Edição, de 2016.
CICLO DO MINUETO
“Como música, o minueto foi usado em várias composições para piano ou orquestra por Mozart, Haydn, Bach, entre outros compositores. O minueto teve sua origem, como dança, na região de Poitu e seu nome vem de “pas menu”, que significa passo miúdo.”
Então já está explicado o motivo da Quero-Mana, por exemplo, ser em passos miúdos, passos contidos, e não passos largos. Seguimos…
Sob o reinado de Luís XIV, invadiu salões da corte e espalhou-se pela Europa, a ponto de tornar-se a principal dança da aristocracia, atingindo o mais alto grau de luxo e magnificência. É uma dança em andante, com a formação de figuras geométricas e mesuras. O homem e a mulher, quando tomados pelas mãos, o faziam de maneira suave, executando lentos giros e reverências um para o outro.”
Resumidamente, era uma dança de extremo respeito. Como foi influenciado por Paris, e acabou sendo dançado no mundo inteiro, também veio para o Brasil. E claro, de uma forma ou outra chegou no Rio Grande do Sul, trazido não se sabe por quem, e ganhou características locais. O ciclo do Minueto presente em algumas danças, impõe alguns limites quanto ao excesso de pacholismo e liberdade de movimentos, visto que na sua origem e na sua essência era dançado de forma comedida.
O Minueto caiu em desuso no século XIX.
CICLO DO FANDANGO
“A manifestação do fandango, segundo alguns pesquisadores, teve sua origem na Espanha, herança árabe deixada pelos mouros. Os portugueses adotaram-no dos espanhóis no tempo da dominação filipina, sendo muito popular no século XVIII, constituindo-se de música e dança.
O fandango era muito apreciado em todas as camadas sociais, desde a nobreza até o povo.”
Deu para notar que o fandango rodou alguma estrada hein che? Nota-se que, diferente do Minueto que teve seu foco nos grandes salões, o Fandango foi dançado por todos.
O Fandango substituiu o minueto na alta sociedade portuguesa. Teve uma enorme aceitação, principalmente pelos detalhes da dança.
“O fandango assumia características voluptuosas em que se destacavam os meneios femininos e o jeito galanteador do homem.
Esse caráter foi amenizado com o tempo, o que não impede de o considerarmos, ainda hoje, uma dança de galanteio e sedução, mesmo quando a sua evolução a conduziu a puras demonstrações de agilidade e exibicionismo.”
Aqui já da para entender a diferença! Aparece a figura do homem que quer conquistar uma mulher, e não simplesmente execução de passos. No Rio Grande do Sul, foram os tropeiros que trouxeram o fandango para cá. Inicialmente fora dançado apenas por homens, baseadas no Fandango Vicentista (vindo de São Paulo), onde deu origem ao nosso primitivo Fandango Gaúcho, que nada mais era que um gaúcho rasgando uma viola, e uma gauchada sapateando e realizando as mais variadas figuras, normalmente imitando animais, ferramentas e por aí vai…
Só depois, em um segundo momento, é que surgiu a presença feminina, trazendo então a graciosidade e o poder de sedução.
CICLO DA CONTRADANÇA
“O seu nome original “country dance” (dança campestre) revela a sua proveniência popular e inglesa.
Segundo Curt Sachs, havia dois grandes tipos de country dance: a primeira, os rounds, que eram as danças circulares em que os homens alternavam com as mulheres, e o segundo, os “longways”, que eram danças de fileiras em que a fila de homens se posicionava em frente à das mulheres.”
Já da para imaginar que, por ser uma dança campestre, era extremamente animada. Normalmente, os Reis buscavam no povo as danças que estavam em maior destaque, as modificavam a seu gosto, e então propagavam pelos salões. No século XVIII, ela já fazia parte da abertura de praticamente todos os bailes. Passou a se chamar também de “quadrilha”, e com esse nome chegou a Portugal.
“A quadrilha chegou no Brasil no século XIX, com a vinda da corte Real portuguesa e, rapidamente, essa dança de salão, típica da nobreza, caiu nas graças do nosso povo animado e festeiro.
Ainda no Brasil e, principalmente no Sul, as contradanças foram enriquecidas com a chegada dos açorianos e luso-brasileiros de forma viva, alegre e descontraída.”
Quem é do ENART, com certeza já ouviu essas três palavras juntas: vivo, alegre e descontraído. E foi graças a festividade dos açorianos, que já chegou aqui com essas características, e é claro, sendo “agauchadas” pelo povo daqui.
CICLO DAS DANÇAS DE PARES ENLAÇADOS
“A primeira dança de pares enlaçados (danças fechadas de par) que se tem notícia foi citada pela primeira vez em Paris, em 1536, com a denominação de “Volta”, que tomou conta dos salões e dominou a Inglaterra, Alemanha e a Basiléia (História da Dança – Eliana Caminada).”
“Sua característica alegre e envolvente logo levou o ritmo à preferência de muitos, com exceção das classes aristocráticas e camadas sociais mais altas, que a consideravam imoral e vulgar. Em algumas regiões da Inglaterra e em cortes alemãs a danças foi proibida por décadas.”
Imagina só a situação. Proibiram a dança por ser enlaçada. Imagina se esse pessoalzinho desse um pulo por aqui nos dias de hoje, ia mandar largar uma bomba e acabar com tudo, porque é cada coisa que se vê que bah… Mas voltando ao foco, a dança que ganhou maior fama foi a Valsa. Graças a ela, o mundo inteiro, aos poucos, passou a aceitar a dança de maneira enlaçada, vencendo o preconceito.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
“As danças gaúchas originaram-se das antigas danças brasileiras e das danças trazidas pelos imigrantes que aqui chegavam. Estas danças possuíam algumas características dos ciclos coreográficos e aqui se “agaucharam”, adquirindo. (…) Nesse aspecto, não é repetitivo salientar que as duas principais características da alma do gaúcho, que são a teatralidade e o respeito à mulher, chamada carinhosamente de “prenda”, norteiam o bem dançar.”
Em resumo: nada chegou pronto, nada chegou concreto. Toda dança é mutável, e ainda hoje é.
Boa noite, vivo no Rio de Janeiro e sinto falta de aprender as danças tradicionais gaúchas, aqui não existem escolas de dança que ensinem os passos de nossas danças, gostaria de saber se existem vídeos do Rio Grande do Sul que ensinem o passo a passo de nossas danças, agradeceria a informação. Obrigado somos muitos desgarrados do pago…
Buenas Nelson,
Ensinando passo a passo não existe não, infelizmente…
Recomendo assistir vídeos dos festivais ou então verificar a possibilidade de alguém ir para aí ensinar.
Abraço