“Tchê, como assim estilo campeiro? É diferente do ENART não é? Mas por quê? O que mudou? Quando mudou? Mas de novo esse assunto? Quem vai contar agora? O que é a tal Carta de Vacaria?”
Foto: Acervo Moacir Gomes
Buenas moçada, tudo certo? Como não podia ser diferente, toda história sempre tem pelo menos dois lados. E nós da Estância Virtual gostamos de ouvir e aprender o máximo possível, com o maior número de pessoas (e histórias!) possíveis. Com isso, chegamos a outra versão sobre o início do “Estilo Campeiro”. Quem nos contou, foi o Sr. Moacir Gomes dos Santos.
Então se tu quer saber de que história eu estou falando, CONTINUA LENDO, e te concentra que vem coisa buena por aí!
Apenas antes, gostaria de ressaltar que fomos procurados pelo Sr. Moacir, para que pudéssemos apresentar também a história mediante a sua ótica. Para quem não sabe o Sr. Moacir hoje é quem coordena as danças tradicionais do rodeio da Vacaria. Participa do Movimento a mais de 50 anos, e participou juntamente com o Sr. Paixão Côrtes de diversasreconstituições de danças, através do grupo folclórico Tropeiros da Tradição.
Foto: Rodrigo Risson
Então segue o texto do Sr. Moacir:
“Em março de 1991, iniciada nossa luta pela desuniformização e pelo fim do militarismo em nossas danças tradicionais, juntamente com essa gurizada da invernada adulta do CTG Brazão do Rio Grande, pois nesta época a rigidez com que dançavam era impressionante. O apelido veio em seguida, os “jécas”. Por muito tempo fomos chamados assim. Nesta época íamos aos Rodeios e éramos ridicularizados, zombados… a gozação corria solta. “Chegaram os jécas”, era o que ouvíamos. E esta gurizada da foto aguentava firme, pois eles sabiam o que estavam fazendo e aonde queriam chegar.
Eu conversava com o senhor Paixão e dizia que ele precisava voltar a escrever sobre o assunto para ver se revertíamos toda aquela situação, ele me respondia: “me deixa quieto no meu canto, não quero mais me envolver”.
Em 31 maio de 1991, o Senhor Paixão foi fazer uma palestra no CTG Porteira do Rio Grande em Vacaria, onde estavam grande parte dos instrutores do Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Durante a Palestra o Senhor Paixão instigou os presentes com alguns questionamentos a respeito do rumo que o movimento havia tomado: danças engessadas, trajes uniformizados… Tudo o que eu estava tentando mudar e era criticado. Dessa palestra resultou um manifesto chamado “A CARTA DE VACARIA”.
Em dezembro de 1991 fomos a Santo Antônio da Patrulha no Rodeio promovido pelo CTG Cel. Chico Borges e continuávamos a ouvir todo o tipo de deboche.
Na segunda feira conversei com o Senhor Paixão e lhe disse que estava jogando a toalha, que se ele não escrevesse sobre o assunto, nós iríamos desistir. Passaram-se alguns dias ele me telefonou dizendo que havia recebido uma cópia do manifesto de Vacaria e que ele iria aproveitar e escrever em cima do assunto, lhe respondi que se isso acontecesse eu daria um jeito de publicar. O senhor Paixão ia escrevendo, me passando, e a saudosa Luci dos Santos e a Maria Eliana iam digitando, e eu preocupado, pois havia prometido que iria publicar e estava difícil arrumar dinheiro para isso.
Fizemos um boneco do livro e fomos à luta. Meu compadre João Albino Aquino conseguiu um patrocínio na Xerox do Brasil e fizemos três mil cópias. Tínhamos que fazer a capa e o saudoso parceiro Camilo Ferrari e mais o Deoclides Agostinho da Silva (Kid), patrocinaram. O Paulo Silveira conseguiu que a gráfica Linck grampeasse os livros sem custos. O proprietário da Gráfica me ensinou como fazer uma tabua com um sarrafinho em dois lados para dobrarmos as folhas, fiz duas. Reuni toda a gurizada na minha casa e fizemos uma linha de montagem, dois dobrando as folhas, pois tínhamos duas tabuas para isso, outros juntando as folhas, outros conferindo, outros colocando a capa e depois de tudo conferido levei para a gráfica grampear e fazer os recortes.
Assim foi feito DANÇAS GAUCHESCAS E A CARTA DE VACARIA.
Durante o 19º Rodeio Internacional de Vacaria, em fevereiro de 1992, toda essa gurizada estava de barraca em barraca distribuindo os livros. No 20º Rodeio Internacional de Vacaria em fevereiro de 1994, já estava valendo o jeito “Jéca” de dançar, e assim ficamos conhecidos por mais alguns anos. No decorrer do tempo substituíram o jeito “Jéca” pelo jeito da “Vacaria”.
Depois passaram a chamar erroneamente de “estilo Paixão”. E hoje está consagrado como “ESTILO CAMPEIRO”
Todo o grupo sabia que o que estávamos fazendo não traria como resultados títulos e premiações, mas eles não estavam preocupados com o ganhar, e em nenhum momento fui cobrado pela patronagem do CTG Brazão do Rio Grande pelos resultados que não estávamos obtendo. Fiquei três anos como instrutor (1991, 1992 e 1993).
Em 1994, com os Tropeiros da Tradição, seguimos com o mesmo trabalho, e o CTG Brazão do Rio Grande também seguiu adiante.
Comecei a levar os Tropeiros para os Rodeios, lembro que o primeiro evento que fomos nesta nova fase, foi em São José, no CTG Os Praianos. O senhor Paixão estava na comissão avaliadora e me disse: “pode ficar tranquilo e concorrer, por mim não tem problema”.
Levei um texto pronto e quando subimos ao palco o apresentador que era o saudoso Vilmar Romera, leu o documento que dizia que os Tropeiros da Tradição não iriam concorrer, pois o senhor Paixão fundador do grupo estava na comissão avaliadora.
Várias outras vezes esta situação se repetiu, sempre achei que era falta de ética, pois com o envolvimento que tínhamos na época, com o senhor Paixão, colocar o grupo para concorrer e ele avaliar..
Em 1994, como havíamos publicado o livro Danças Gauchescas e a Carta de Vacaria, falei para o senhor Paixão que era o momento de lançar outro livro com as danças inéditas. Lembro que era um final de semana, fui até Cidreira com a proposta que de imediato o senhor Paixão recusou, mas no final do dia já estava empolgado e na segunda feira começou a escrever. Ele escrevia me passava os rascunhos e o meu filho Rodrigo digitava.
Eu fazia as correções, corrigia no computador, e levava uma cópia para o senhor Paixão conferir, e novamente imprimíamos uma nova cópia. Assim fazíamos dança por dança. Quando tínhamos algumas danças que achávamos que estavam prontas, eu reunia alguns pares dos Tropeiros e dava uma cópia para cada par montar a dança. Quando tinha alguma parte que eles não entendiam, eu anotava e levava para o senhor Paixão esclarecer melhor. Depois, montei todas as danças com os Tropeiros da Tradição e levei o senhor Paixão para olhar. E assim foi feito o livro DANÇAS TRADICIONAIS RIOGRANDENSES – ACHEGAS. Em dezembro de 1994 foi feito o lançamento do livro em Passo Fundo juntamente com o primeiro curso prático. E depois íamos para os Rodeios fazendo uma dança nova de entrada e outra de saída, e dessa for fomos divulgando as danças.”
Ass. José Moacir Gomes dos Santos
Então che, o que achou? Não quis interromper a história com comentários como de costume, para que tu conseguisses imaginar toda a cena.
Ficamos felizes que o Sr. Moacir tenha vindo nos contar esta história que garanto que muita gente não saiba.
Espero que tenha gostado, então não esqueça de COMPARTILHAR com a gauchada, assim todo mundo fica sabendo como começou esse tal “Estilo Campeiro”. Aproveita que tu está por aqui che, e entra na página das DANÇAS TRADICIONAIS e a especial sobre PAIXÃO CÔRTES, tenho certeza que não vai te arrepender. Nos segue também nas redes sociais que estão aqui abaixo!