“Tchê, que tal dançar um chote bem largado? Mas como assim largado? Só tem um tipo de chote? É chotes ou chote? E aqueles gaúcho que sabem fazer 287 figuras nos bailes? É certo aquilo?”
Buenas gauchada, firme e forte? Hoje vim contar um pouco da história do “Chotes” ou então popularmente conhecido como Chote, e é assim que vamos chamar porque é mais comum. Foram buscadas informações no livro “Manual de Danças Gaúchas” de Paixão Côrtes e Barbosa Lessa (1961), “E dê-le Chotes, parceiro…” de Paixão Côrtes (2004) e “Danças Tradicionais Rio-Grandenses – Achegas” de Paixão Côrtes (1994).
Mas bueno, para começar temos que entender um pouco do contexto da época, para ver porque do seu surgimento e porque tantas variações.
“A gaita, ao se transformar no instrumento típico do gaúcho, deu margens para que o Chotes, já então mais vivo e mais alegre (…), se transformasse na dança por excelência do gaúcho, a partir de fins do século passado. Na sua coreografia, observou-se por vezes, a influência dos imigrantes alemães (…)” (Côrtes, Paixão. 1994)
Foto: Estampa da Tradição
Para fazer um resumo do que aconteceu na época, temos que fazer o seguinte raciocínio: primeiro, não se dançava nem mesmo uma valsa, pois parecia desrespeitoso que um homem e uma mulher se “abraçassem”. Após um longo período, e graças a influência germânica, a valsa passou a se espalhar pelos salões da França e da Inglaterra. Ao se tornar a nova “moda”, deu oportunidade para que o “schottisch” também se propagasse. Com a imigração alemã em nosso estado, veio também os seus bailares, e dessa forma, a nossa dança que basicamente era do fandango (com seus sapateados), passou também a se diversificar, incluindo o schottish ao seu novo estilo.
Aqui cabe um comentário: como qualquer outra dança trazida de fora para dentro do RS, nós as moldamos com as características do povo daqui, inclusive na forma de nomear essas danças. Notou-se que por volta de 1825, gaúchos e imigrantes alemães dançavam danças com exatamente as mesmas características, porém com ritmos e nomes diferentes.
Foto: Estampa da Tradição
“Tal como acontecera com as danças de anteriores ciclos coreográficos, o “schottisch” veio a se moldar, no Rio Grande do Sul, à instrumentação típica (então a cordeona já se fixara como instrumento solista por excelência, nos bailes campeiros), e deu margem a uma nova criação musical, bastante viva, e que hoje constitui verdadeira manifestação folclórica do gaúcho: é o “chotes”. (É usual também a pronúncia “chote”)” (CÔRTES;LESSA.1961)
Agora que deu para entender um pouco de como surgiu aqui no estado, vamos para algumas colocações importantes do mestre Paixão, quanto as “estilizações” vistas nos bailes Rio Grande a fora.
“No chote fundamental há uma correspondência sentimental marcante entre o par, seja na troca de olhar, seja no enlevo dos gestos e da forma fidalga, e não como frequentemente temos visto, em muitos bailes, onde se registra um amontoado de frenéticas figurações e empurrões, nos quais parece que cada dançarino, individualmente, tem uma ânsia de salientar-se vaidosa e exibicionistamente, com complicados passos, que atentam, muitas vezes, à própria herança moral e tradicional dessa dança campestre.” (Côrtes, Paixão. 2004)
Che, que tal essa? Te digo hein, o que mais tem são os galo véio dançador de chote que inventam cada coisa. Paixão quando viu, pelo jeito ficou bem faceiro, já que até um livro escreveu para comentar o fato. Mas seguimos para mais uma das boas…
Foto: TV Tradição
“O Chote Gaúcho, para quem sabe realmente dança-lo, é o tipo de baile que se dança toda a noite, sem cansar, o que não vem acontecendo em muitos fandangos de CTGs, onde as figuras abusivamente “encordoadas” e realizadas de formas bruscas, desordenadas, desrespeitosamente, roubando espaço do bem dançar do salão.”(Côrtes, Paixão. 2004)
Nenhuma parte para mim é melhor do que a frase final: “roubando espaço do bem dançar do salão”. Bah, mas sabe ser chato quando tu está dançando bem tranquilo, e passa um furacão dançando chote por ti (o famoso chote “figurado”), leva metade da prenda embora, tu se perde nos passos, e vira uma bagunça a dança. Se tu que está lendo é um desses, tenta dar uma maneirada na próxima che!
Foto: Estampa da Tradição
Quanto a dança em si, não vou falar muito. O importante é saber que o chote fundamental é caracterizado por três passos em avanço, e uma pausa com o pé em elevação, com o par tomado por uma mão. Na sequência, entram todas as variações de Chotes pesquisados, dentre alguns deles: Chote de Carreirinho, Chote-de-par-trocado à moda serrana, Chote de duas damas, Chote de roda à moda do litoral, Chote-de-par-trocado à moda da fronteira, Chote de roda à moda serrana, Chote-das-Sete-Voltas, Chote Ponta-e-Taco, Chote dos Sete Passos, Chote Inglês, Chote de 4 Passi, Chote do dedinho…
É chote pra mais de metro! Gostou de conhecer um pouco mais sobre os chotes, não deixa de curtir nossa página no Facebook, compartilhar com toda gauchada que se perde no salão de tanto chote que inventa, e um forte braço che!