Muitos termos foram criados para poder Institucionalizar o Movimento, em virtude da perda dos usos e costumes locais.

Buenas gauchada, como estão?

Sempre tivemos algumas dúvidas quanto a certos termos, onde muita gente toda hora está discutindo aqui e ali.

Exemplo: qual o verdadeiro significado da palavra “pilcha”, que hoje é utilizada para Indumentária? E o aperto de mão do gaúcho, que a cada esquina se encontra uma teoria diferente?

E essas perguntas me levaram a um livro SENSACIONAL do genial LUIZ CARLOS BARBOSA LESSA.

Esta sim, deveria ser uma leitura obrigatória a todos os Tradicionalistas do Estado, pois traça um panorama histórico desde a nossa formação, até o momento atual que o Movimento vive, de forma organizada e Institucionalizada.

O livro se chama “Nativismo: Um fenômeno social gaúcho“, e foi lançado pela primeira vez em 1985 e a segunda em 2008.

A Invenção da Tradições é um capítulo do próprio livro, onde vamos citar os trechos que mais nos chamaram atenção, para que esse conhecimento seja disseminado.

Uma ótima leitura a todos!

A INVENÇÃO DAS TRADIÇÕES

O Centro terá por finalidade zelar pelas tradições do Rio Grande do Sul, sua história, suas lendas, canções, costumes…”

História é uma ciência social muito séria, e não éramos historiadores; e História não se inventa. Folclore é uma ciência social muito séria, e não éramos folcloristas; e Folclore não se inventa. Antropologia é uma ciência social muito séria, e não éramos antropólogos; e Antropologia não se inventa.

Mas éramos tradicionalistas. Gente mantendo ativamente no presente aspectos do passado, com vistas ao futuro. Quando algum elemento faltasse para nossa ação, nós teríamos que suprir a lacuna de um jeito ou de outro. Assim, por exemplo, qual o adjetivo que daríamos a nós mesmos quando estivéssemos vestidos à gaúcha? Alguém sugeriu “aperado”. Mas “apero” é arreiamento, é roupa de cavalo, o termo não ficava bem. Então, na ata de 8 de maio de 1948 o secretário Antônio Cândido se lembrou que pilcha é dinheiro ou objeto de uso pessoal que possa ter um valor pecuniário. “Vamos oferecer ao patrão de honra Paixão um churrasco, ao qual a indiada deverá vir toda pilchada”. E esse invento colou!

Che, quer algo mais claro do que isso? Lessa não tem vergonha nenhuma em dizer que foi necessário inventar diversos termos, claro que com fundamentação, mas que sim, fora uma invenção!

Seguimos…

Para conhecer as lendas, procuramos em sebos e livrarias os livros de Simões Lopes e Augusto Meyer, e para conhecer a História fizemos visitas a Dante de Laytano, Moisés Vellinho e Walter Spalding.

O problema maior se apresentou no terreno das canções. (…) Canção folclórica, praticamente só uma conhecida: o Boi Barroso.

Outra dificuldade era a escassez de poesias gauchescas. (…) Quem quisesse declamar suas obras – e as de Juca Ruivo ou Aureliano Figueiredo Pinto – que fosse “pegando de orelhada“…

Quem não quer, manda – diz o ditado – e, quem quer, faz. Tivemos de fazer.

Uma antologia corajosamente custeada por nosso próprio bolso: As mais belas poesias gauchescas. Primeira munição para a guerra dos declamadores – hoje um regimento inteiro de adultos, moças e piás…

E como é que é o aperto de mão típico do gaúcho? Apenas fazendo cruz com os antebraços, à moda da fronteira, ou também confirmando, à moda da Zona Sul? Isto teve de ser posto em votação, e venceu o “abracinho com confirmação”…

Imaginem isso…

Até aperto de mão foi feito votação para definir qual seria a “mais tradicional” para se perpetuar por aqui… É uma loucura, não?

Vamos em frente!

E como é que é o vestido das moças? Como modelo, aproximado, só havia vestidos caipiras, das festas juninas de São Paulo, ou as “folhinhas” anuais distribuídas pela Cia. Alpargatas na Argentina. Paixão encasquetou que deviam ser vestidos compridos até os tornozelos; eu argumentei que se nós, rapazes, estávamos trajando nossas costumeiras bombachas, não carecia que as moças se voltassem para tão longe nos antigamentes; isto não chegou a ser posto em votação, mas o bigodudo Paixão nos venceu pelo cansaço…

Onde a cultura tradicional se mostrava obscura, não havia outra solução senão a de lançarmos mão de uma nascente cultura tradicionalista.

E, de lá para cá, continuou o tradicionalismo evoluindo, como a confirmar que ninguém pretende ficar estagnado no passado.

Por isso tantas e tão boas novidades têm aparecido, e continuarão aparecendo.

barbosa lessa

A sabedoria e certeza com que o Lessa coloca as palavras chegam a deixar a gente espantado… Quem nunca leu, precisa ler alguma obra e sentir a mesma sensação.

Logo adiante, ele cita as tais criações que se seguiram, como os Piquetes de Laçadores, os Galpões Crioulos dentro das cidades, os Festivais de Música Nativista como a Califórnia da Canção em Uruguaiana, as payadas de Jayme Caetano Braun, o concurso de 1ª Prenda (ou miss tradicionalista, como ele cita)…

Para encerrar, deixamos a conclusão por conta do próprio autor, que cita Eric Hobsbawn e Terence Ranger, e o livro “A Invenção das Tradições”.

“Hobsbawn que já alcançara notoriedade com seus ensaios sobre a era das revoluções e a era do capital, aqui analisa a função social das tradições – sem as quais, pelo jeito, a humanidade não consegue viver. Quando a tradição não existe completamente formalizada, completa-se o que está faltando para fortalecer o alicerce nacionalista. “E parece claro que os exemplos mais bem-sucedidos de manipulação são aqueles que exploram práticas oriundas de uma necessidade sentida – não necessariamente compreendida de todo – por determinado grupo”. (p. 215 tradução brasileira, Paz e Terra).

Adaptando para o nosso caso: se um peão de estância de Soledade sente necessidade de desfilar bem pilchado no dia 20 de Setembro, pouco adianta um teórico fazê-lo compreender que isto seja bom, bonito, feio, atrasado, cívico, lindo ou reacionário…”

Bueno amigos, o texto se alongou um pouco, mas espero que tenha sido interessante e que gere diversas dúvidas e questionamentos como aconteceu conosco.

 

Abraço forte, e seguimos na luta!

#BarbosaLessa #PaixãoCôrtes #História #RS

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