Em tempos de virtualização de eventos tradicionalistas, estamos nos aproximando ou nos afastando dos ideais tradicionalistas?
A pandemia do vírus SARS-CoV-2, causador da COVID-19 (“coronavírus” ou “novo coronavírus”), declarada pela Organização Mundial da Saúde – OMS no mês de março deste já marcante 2020, tem sido amplamente divulgada pela mídia nacional e internacional e vem repercutindo em inúmeros âmbitos da vida humana, do social ao político, da saúde à economia.
Não tem sido diferente com o Movimento Tradicionalista Gaúcho – MTG. Seus Centros e Departamentos de Tradições, Piquetes Tradicionalistas e demais entidades reconhecidas, muito especialmente com suas atividades de convívio social que são por assim ser a mola propulsora do culto às tradições, considerando o espirito do que consta na Carta de Princípios, Estatuto e demais diplomas normativos do MTG.
Fato é, nesse contexto, que pela pandemia do coronavírus, o Movimento Tradicionalista Gaúcho viu seu planejamento de eventos ser verdadeiramente engessado, paralisado quase que por completo, dadas às recomendações de isolamento social vivenciadas desde meados de março de 2020.
Nessa toada, inúmeros eventos foram suspensos, outro adiados, e outros tantos cancelados. Exemplos disso foram os rodeios da região do litoral (Capão da Canoa, Xangri-lá e Osório), bem como rodeios da região da Serra (Flores da Cunha, Muitos Capões, Lagoa Vermelha, entre outros); mais emblemático foi a suspensão da Festa Campeira do Rio Grande do Sul (FECARS), e o cancelamento do Entrevero de Peões e da Ciranda de Prendas em 2020.
Seguimos todos na expectativa da realização de outros tantos eventos para que o ano de 2020 não passe em branco, muito especialmente dos ditos principais, que são o ENART e o FEGADAN, além de outros que embora não oficiais são muito requisitados e prestigiados pela comunidade tradicionalista, como FestMirim, o JuveNart e o FestXirú.
Em meio a tudo isso, a gauchada resolveu entrar na onda das “lives”, e assim foi inaugurado com força a série de eventos virtuais, no que se destacaram fóruns de debate abordando diversos assuntos do mundo tradicionalista, e especialmente artístico, com especial atenção às danças tradicionais, à chula, e assim por diante.
Até concurso de CHULA na internet tivemos nesses tempos de isolamento social; um promovido pelo próprio MTG, para crianças até 13 anos (ChulaWeb), e outro promovido pela Academia Brasileira de Chula, esse com mais de uma categoria, envolvendo sapateadores de todas as idades (ChulaNet).
Considerando o momento vivido, sem dúvida que a ideia, ou as ideias, foram muito válidas, como forma de manter viva nos chuleadores a vontade de seguir ensaiando e de confraternizar, ocupando o tempo ocioso das crianças nesse momento de quarentena.
Contudo, tem-se notado que outros “atores” da cena artística (e seus interesses…), pegaram carona na ideia do momento para assim se promover, e possivelmente promover seus intentos pessoais.
Pela experiência que temos, graças aos já completados 30 anos de envolvimento com o Movimento, sabemos que quando os interesses pessoais são colocados à frente dos interesses coletivos, perde-se os fins.
Sem dúvida que a tecnologia é muito boa; ela aproxima as pessoas que estão longe fisicamente, mas o temor que se apresenta é que ela termine por afastar de vez a pessoas dos eventos tradicionalistas…e óbvio que não falamos aqui das pessoas que se acham à centenas, ou milhares de quilômetros de distância das divisas do Rio Grande do Sul. Fala-se aqui de quem está bem perto dos eventos, as vezes na própria cidade em que eles se realizam, e preferem por comodidade visualizar tudo de casa, pela TV, pelo computador, ou mesmo hoje em dia pela tela de seus celulares.
Isso tem ocorrido, a partir do belo trabalho que fazem a TV TRADIÇÃO, a TV DO GAÚCHO, a TV CHULA e outras tantas…que são muito louváveis a partir do trabalho de divulgação que fazem (“…tá no Enart, tá no mundo!”), mas, por outro lado, os eventos sofreram uma sensível redução no número de expectadores, e o ENART é a maior prova disso…o conforto de ficar em casa, assistindo tudo “AO VIVO”, da comodidade do sofá, faz com que muitos tradicionalistas e admiradores deixem de ir no local, viver o evento, e prestigiar os artistas in loco.
Isso tudo, junto e misturado, pode estar nos apresentando, a temida “quarta onda” do Movimento Tradicionalista. Senão vejamos…
PRIMEIRA ONDA:
Nossos eventos tradicionalistas eram bem frequentados, especialmente os artísticos; as pessoas e os grupos ficavam acampados e aproveitavam tudo que os eventos ofereciam; Quem não se lembra da cidade de lona do FEGART em Farroupilha???