Após a extinção do IGTF muito material ficou perdido. Porém, aos poucos novas descobertas estão aparecendo.
Através de pesquisas de uma equipe de estudiosos e parceiros da Estância Virtual às Instituições estaduais (do Governo do Estado do Rio Grande do Sul), catando referências aqui e ali, reunindo materiais antigos encontrados em bibliotecas, buscando “pegadas” lá e acolá, por todo lugar onde foram distribuídos os acervos do extinto IGTF (a Fundação Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore), buscamos resgatar os elementos (ou alguns elementos) divulgados ao público em décadas passadas ou ainda nunca antes difundidas para a leitura, pesquisa científica e conhecimento da população em geral.
São arquivos de coletas folclóricas de uma equipe que nunca chegou a classificar ou publicar suas pesquisas (por motivos que não conhecemos, talvez opcionais, qualitativos, econômicos ou ainda institucionais), ficando arquivados em pastas e envelopes, muitas vezes puídos e empoeirados.
Sabemos que as pesquisas originárias do IGTF diferem (e muito) das coletas realizadas por L.C. Barbosa Lessa e J.C. Paixão Côrtes, inclusive porque Lessa e Paixão foram os mais antigos, ativos e detalhistas, sendo além de coletores também Tradicionalistas, buscando sempre os temas mais originais e verdadeiros da nossa terra, representativos de um tipo social Gaúcho e Crioulo.
Em contraponto, o acervo do IGTF se estende a todas as geografias, etnias, culturas e épocas, sem buscar compromisso próprio e único com o tipo rural Gaúcho, em si, do Rio Grande do Sul, trazendo uma abrangência e um apanhado mais amplo.
De modo geral, são linhas de pesquisas distintas: umas Tradicionalistas e outras Científicas, sem o cunho de um Culto para com a nossa Tradição genuína (talvez, não podendo, por isso, nem se misturarem).
Observamos, portanto (sob análises de ética e compromisso) que as estrofes abaixo fazem parte de um livro inédito, ainda não publicado, chamado provisoriamente de “Danças Folclóricas do Rio Grande do Sul”, organizado pelo “Instituto Gaúcho de Tradição e Folclore”, com coordenação de Antônio Augusto Fagundes e Rose Reis Garcia, sob pesquisas de campo de Petronilha M. Sholl, Antônio Augusto Fagundes, Lilian Argentina e Rose Reis Garcia, com textos pertencentes à lavra de Sonia Terezinha Siqueira Campos.
Alguns dados podem se fazer confusos ou ainda incompletos, principalmente em termos de informações, justamente por a distribuição do acervo se fazer também confusa, incompleta e sem informação. Portanto não cremos que podemos abraçar a culpa destas “brechas”, mutiladas pelo tempo e pelo desmembramento das pesquisas, junto com a extinção das Instituições.
Por fim, é assim que trazemos, em primeira mão, ao público, arquivos ainda existentes em arquivos (mesmo não mapeados) disponíveis a todos aqueles que quiserem consultar e buscar em meio ao acervo do Governo do Estado do Rio Grande do Sul coisas da nossa geografia para uma possível consulta científica.
Também observamos que, possivelmente, assim como as pesquisas bibliográficas sobre nossas danças são permitidas em concursos ENART, devidamente identificados aos avaliadores musicais, os versos encontrados em Museus, Bibliotecas, Fonotécas, Arquivos, Manuscritos, Teses e Polígrafos pertencentes ao Governo do Estado do Rio Grande do Sul também devem ser “liberados”, pois, como já dito, são parte do acervo histórico e disponível nos arquivos do nosso Estado, institucionalmente guardado.
LEIA MAIS: PRA ONDE FOI O ACERVO DO IGTF?
Segue…
CHIMARRITA
“Chimarrita bem cantada,
Faz chorar, faz ‘padecê’…
Também faz um triste amante
Dos seus ‘óio’ se ‘esquecê’!”
TATU
“O Tatu subiu a Serra,
Foi serrar o taboado…
Uma cuia de farinha
E um porongo de melado!”
“O Tatu subiu a Serra
Com fama de laçador…
Bota laço, tira laço,
Bota pealo de amor!”
(*) Versos recolhidos em Osório com Dona Pedra, por Antônio Augusto Fagundes.
VOLTA-NO-MEIO (Tatu)
“Aí vem o Tatu
Que é bicho do mato…
Casar sua filha
Que eu darei sapato!”
“Aí vem uma cobra,
Toda enrroscadinha…
Casar sua filha,
Que eu darei madrinha!”
“Aí vem uma cobra,
Que é bicho de escama…
Casar sua filha,
Que eu darei a cama!”
“Aí vem o Tatu,
Que é bicho do céu…
Casar sua filha,
Que eu darei o véu!”
(*) Versos recolhidos em Osório com Dona Pedra, por Antônio Augusto Fagundes.
MEIA-CANHA
“Aí vai, Meia-Canha…
Aí vai, canha e meia…
Aí vai meu amor
Pela porta do meio!”
“Aí vai, Meia-Canha…
Aí vai, canha e meia…
Aí vai as mocinhas
Pra porta do meio!”
“Aí vai, Meia-Canha…
Aí vai, canha inteira…
Reparte a metade
Com as moças solteiras!”
(*) Versos pertencentes ao tema cantado, recolhidos por Antônio Augusto Fagundes.
PEZINHO
“Ai bota aqui, bota aqui
O seu Pezinho…
Ai bota aqui, ai bota aqui
Junto com o meu!”
“Ai bota aqui, bota aqui
O teu Pezinho…
Ai bota aqui, bota aqui
Perto do meu!”
“Ai, depois dele
Bem juntinho,
Ai, um abraço
E um beijinho quero eu!”
(*) Versos recolhidos em Osório com Dona Pedra, por Antônio Augusto Fagundes.
HERR SCHIMIDT
“Herr Schimidt, Herr Schimidt,
Was bringt dia Yule… mit?
Ein schileier und ein federhut
Das steht der Yule gar zu gut!”
(“Senhor Schimidt, Senhor Schumidt,
O que traz a Yule consigo?
Traz um véu e um chapéu de pluma,
Que isto cai muito bem na Yule!”)
“Herr Schimidt, Herr Schimidt,
Was bringt das Mädschen mit?
Ein schileier und ein federhut
Das steht der Mädschen gar zu gut!”
(“Senhor Schimidt, Senhor Schumidt,
O que traz de dote a moça?
Traz um véu e um chapéu de pluma,
Que isto cai muito bem à moça!”)
CHOTE CARREIRINHO
“Blau, Blau, Blau sind
Die alle meine kleider!…
Blau, Blau, Blau sind
Die alle meine kleider!”
“Drum ileb ich,
Was Blau ist,
Weil mein schatz ein
Blau farber ist!”
(“Azul, azul, azul
São todas as minhas roupas!…
Azul, azul, azul
São todas as minhas roupas!”)
(“Sinto muito
Que é azul
É porque, minha querida,
O azul é de fazendeiro!”)
(*) Tema musical recolhido em Osório, em 1966, por Antônio Augusto Fagundes.
SIRIRI
“As moças lá do Pontal – Bem-te-vi –
Carregam seus gravetinhos!…
E o pobre do siriri – Bem-te-vi –
Não pode fazer seu ninho!”
(*) Tema recolhido em Vacaria, em 1985, por Antônio Borges Cunha, Rose Garcia e Lilian Argentina com o Sr. João Maria da Rosa.
CHEGADINHO
“Vamos dançar minha gente
A dança do Chegadinho!…
Chega, chega um chegadinho…
Chega, mais um bocadinho!”
“Chega mais um bocadinho
Pra perto do coração!…
Chega, chega um chegadinho…
Chega, mais um chegadão!”
(*) Tema recolhido em Tramandaí, em 1967, por Lilian Argentina com os Srs. Pescadores, Pedro Barbosa e Enéias Rodrigues.
QUEROMANA (Fandango Parnaense)
“Lairi-lai-lai, Queromana,
Queromana estou querendo…
De saudade ninguém morre,
Triste de mim, vou morrendo!”
“Lairi-lai-lai, Queromana,
Queromana, eu vou e volto…
Trato bem do que é meu,
O que é dos outros não me importo!”
(*) Estrofes recolhidas pelo folclorista paranaense Fernando Corrêa de Azevedo, publicadas em seu livro “Fandango do Paraná” (coleção “Cadernos de Folclore”, n. 23 – Editora LE/Paraná). Os versos não pertencem ao Folclore do Rio Grande do Sul.
DANDÃO (Folclore Paranaense)
“Se o cantar desse dinheiro
Eu já tinha enriquecido, Dandão…
Como cantar não dá nada
Tudo o que eu canto é perdido!”
(*) Estrofes recolhidas pelo folclorista Alceu Maynard de Araujo, no Estado de São Paulo. Os versos não pertencem ao Folclore do Rio Grande do Sul.
DANDÃO (Folclore Gaúcho)
“Subi na Roseira,
Trepei pelo galho…
Morena segura,
Se não eu caio!”
“Subi na Roseira,
Trepei pelo galho…
Caí no teu colo,
Nunca mais saio!”
(*) O Dandão Rio-Grandense é executado na mesma melodia e canto da Roseira. Versos recolhidos em São Jerônimo.
RIACHÃO (Folclore Mineiro)
“Seu Mané, do Riachão,
Que descuido foi o seu?
Todos os riachos correm,
Seu riacho não correu!”
(*) Estrofes recolhidas pela escritora Ruth Guimarães em Minas Gerais, publicados em seu livro “Os Filhos do Medo”. Versos também identificados na Bahia, porém não pertencentes ao Folclore do Rio Grande do Sul.
RIACHÃO (Folclore Gaúcho)
“Seu Mané, do Riachão,
Que riacho é esse seu?
Um barco, tão bom de vela
Foi ao fundo e se perdeu!”
(*) Tema recolhido em Tramandaí, em 1967, por Lilian Argentina com os Srs. Pescadores, Pedro Barbosa, Enéias Rodrigues, Valdemar Servino Martins, Altiva dos Santos e João da Costa Vilar.
Bueno, nesta feita era isso, e podemos dizer com convicção que os acervos não param por aí… Tem muita coisa ainda, basta vontade de encontrar.
Salvem nossos arquivos folclóricos!