“Tchê, porque balaio é o nome da dança? E como que se dança isso? Tem muitas variações? E onde que nasceu essa dança?
Buenas indiada, tranquilo e sereno? Hoje vamos contar a história do Balaio. Quem não gosta de dançar o balaio hein che? Da para fazer um monte de sapateio diferente, as prendas podem mostrar toda sua graciosidade, fora a interação com o resto da gauchada que da para fazer no girar das rodas. Enfim, é coisa das buena dançar o tal do Balaio!
Não sei se tu já parou para pensar, mas o quanto estranho para nós, e como nós gaúchos realmente não falamos no nosso dia-a-dia frases com duas negativas:
– Tchê, tu vai no ensaio hoje?
– Não vou não…
– Tchê, mas tu não vai porque não quer?
– Não vou porque não quero não…
Pois é, se tu se deu conta, isso vem lá do norte/nordeste do Brasil. E é exatamente isso. Augusto Meyer, cita em seu livro “Guia do Folclore Gaúcho” que “o balaio é brasileiro da gema e procede do Nordeste”, ou seja, é uma dança brasileira!
Foto: Lidiane Hein
Segundo Paixão Côrtes e Barbosa Lessa, em seu livro Manual de Danças Gaúchas com Suplemento Musical Ilustrativo, de 1961, o Balaio “O nome balaio, origina-se do aspecto de cesto que as moças dão a suas saias, quando o cantador diz: “ Moça que não tem balaio, bota a costura no chão”. A esta ultima voz, as mulheres giram rapidamente sobre os calcanhares e se abaixam, fazendo com que o vento se embolse nas saias.”
Que tal hein che, pelo menos já faz algum sentido o nome de Balaio, porque balaio de fato que nem aqueles que os índios fazem eu nunca tinha achado nenhum sentido na dança… E espero que mais alguém tenha lembrado desses balaios e não só eu!
Foto: TV Tradição
A coreografia é separada em duas partes, onde uma é a parte do sapateio e sarandeio, e a outra é o girar das duas rodas, uma interna formada por prendas e outra externa formada por peões.
Agora é que a coisa começa a esquentar, porque se não mostrar habilidade no balaio, e gentileza também, o peão termina o baile sozinho no canto.
Para a Posição inicial, “os pares formam-se uns atrás dos outros e iniciam passos-de-marcha, ao som da música não cantada, que representa a introdução. Marchando no sentido dos ponteiros do relógio – homens pelo lado de fora, de braço dado às moças – os dançarinos terminam por fechar um círculo. Logo que formado o círculo, cada para executa o giro-saudação.” (PAIXÃO;LESSA. 1961, pg.113)
Já nesse primeiro momento, temos um fato bem importante para posicionar. A grande maioria dos grupos do estilo “campeiro” iniciam a dança do balaio em formação de meia-lua. Já no ENART, praticamente nenhum grupo faz dessa forma, e sim iniciam todos os pares espalhados e vão formando a roda conforme os passos de marcha. Mas seguimos…
Foto: TV Tradição
A Primeira figura é caracterizada pelo girar das rodas, onde os peões (que estão para o lado de fora, voltam-se “para a esquerda e avançando inicialmente com o pé esquerdo, (…) tomam-se pelas mãos e executam 7 passos-de-marcha no sentido dos ponteiros do relógio.” (PAIXÃO;LESSA. 1961, pg.114) Ao concluir os 7 passos então, retornam a posição inicial, em sentido anti-horário, realizando novamente 7 passos-de-marcha, e ao chegar a posição inicial, soltam as suas mãos.
Para as prendas (que estão pelo lado de dentro) giram para o lado esquerdo, voltando-se todas para o centro e dando-se as mãos. “Para tal, os 3 primeiros passos-de-marcha elas executam em curva(…). Imediatamente, tomam-se todas pelas mãos, e continuam executando os passos-de-marcha (ao todo de 7), em avanço no sentido contrário ao dos ponteiros do relógio. Desta forma, elas estão rodando de modo inverso ao da roda-de-homens. Consequentemente, quando os homens mudarem a direção de seus passos, as mulheres também o farão, para retornarem a posição inicial mediante 7 passos-de-marcha.” (PAIXÃO;LESSA. 1961, pg.114)
Quanto a forma de dar as mãos, “(…) os homens devem estender ao máximo as mãos, e as mulheres devem se aproximar uma das outras o mais possível (isso porque a roda deve ser bastante menor que a exterior), levando as mãos à altura dos ombros.” (PAIXÃO;LESSA. 1961, pg.114)
Essa parte todo peão e prenda sabe que parece ser muito simples, mas pode virar um baita problema, porque sempre tem o peão que desligou o GPS e fica lá fora da roda, e ninguém consegue alcançar a mão dele, e tem sempre a prenda que tem ou os braços muito pequenos ou muito grandes, e deixa a roda toda atravessada. Aí que entra o ensaio che! Mas vamos para a melhor parte…
Foto: Estampa da Tradição
A Segunda figura é a parte que mais da beleza, som, emoção, cansaço e tantos outros adjetivos a dança. O peão aqui pode mostrar o quanto bom é na qualidade de sapateador. Como citaram os autores do mesmo livro em questão, “é evidente que se é suficientemente hábil, o dançarino enfeitará seu sapateio com os mais variados floreios.” A prenda por sua vez, “tomando da saia com ambas as mãos, e erguendo-as levemente, executa o sarandeio para um lado e outro – sem com isto, afastar-se de seu círculo de ação, isto é, à frente de seu companheiro e ladeada por outras moças.”
Observação importante: Peões, SE FOREM HÁBEIS, executem sapateios com floreios. Então che, se tu acha que não se garante, é melhor ir no mais simples primeiro, porque sabe ser feio ver um peão se quebrando para acertar o sapateio.
Observação importante 2: Prendas, erguer a saia levemente, e não “gigantemente”, ou o mais alto possível, o objetivo não é voar.
E para concluir a figura, “Quando o cantador diz: “Bota a costura no chão”, as moças realizam um rápido giro de uma pela esquerda; e se abaixam sobre os calcanhares flexionando os joelhos mas contendo as costas a prumo. Este movimento rápido faz com que o vento, embolsado, dâ a saia a forma de um “balaio”. Os homens, cavalheirescamente, alcançam a mão às suas companheiras, para que estas se ergam imediatamente.” (PAIXÃO;LESSA. 1961, pg.114)
Foto: Estampa da Tradição
Em resumo che, a dança é essa. Quanto ao número de repetições, não existe uma definição. Existe para o girar das rodas, a figura variante dos peões, onde não precisam alcançar as mãos, e também podem ser utilizadas, principalmente pela praticidade.
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