Buenas amigos, vão bem?
Este título pode ser um tanto “ofensivo”, e creio que tenha sido a intenção para a época.
Digo época, pois se trata do ano de 2002, mais precisamente 21 de Setembro de 2002, onde o Jornal Zero Hora, na época, lançou em seu “caderno cultural” uma série de matérias com este título, buscando algumas opiniões dos “fazedores de tradição” do Rio Grande do Sul.
Para responder tal reportagem, João Carlos Paixão Côrtes publicou no seu livro “Na roda dos Folguedos Guascas“, de 2002, na última página, a sua crítica pesada a tal série de reportagens.
Transportando para o momento atual, não parece que tanta coisa assim mudou. A verdade é que a informação está cada vez mais disponível para todos, onde muitos podem escrever sobre assuntos pouco pautados, embasado em livros antigos (como nós o fazemos) ou então simplesmente falar qualquer coisa sem nexo algum, sobre qualquer tema.
Mas bueno, vamos deixar abaixo o texto na íntegra para que tirem as suas próprias conclusões.
GAUCHIDADE E TRADICIONALISMO
Zero Hora de 21/09/2002 publicou, sob o título Gauchidade – Tradição ou Invenção – uma série de artigos em que o tradicionalismo é também enfocado. Alguns articulistas colaboradores atêm-se com coerência sobre o assunto, nos parece. Outros, não.
Sobre tradicionalismo gauchesco atual, há aqueles que criticam o assunto de forma graciosa, testemunhando seu desconhecimento documental das verdadeiras causas do seu nascer, sua fundamentação e sua abrangência grandiosa no presente universo terrestre, como fonte espontânea de manifestação popular e de identidade rural.
Essas avaliações gracejadoras fizeram-se lembrar de uma máxima campestre que aprendi com meu avô, lá pras bandas de Santana do Livramento: “Praga de urubu não mata cavalo gordo”.
Estou com 75 anos, dos quais 55 estão ligados intensamente ao tradicionalismo atual, que venho ajudando a revitalizar através de pesquisas campechanas, sérias, “in loco”. com conceituação autóctone de nosso folclore pastoril, por intermédio de publicações livrescas, merecedoras da edição de 300 mil cópias (anos de 2000 e 2002) distribuídas gratuitamente às bibliotecas públicas, às universidades, aos Centros de Tradições Gaúchas, acompanhadas no palco por manifestações cultuais-artísticas ao vivo e distanciadas de repetitivos picoteios literários, ornados de papagaiadas.
Neste mais de meio século, tenho visto surgir, por vezes, “mecenas crioulos” que não sabem “o sol que anuncia seca”, “o pasto que faz mal”, que “ovelha não é pra mato” deitando regras sobre criação.
Disso concluo que as referidas máximas acima aludidas – frutos da cultura popular, do saber folclórico campesino – estão cada vez mais presentes. Como andam soltos e voando ultimamento pelos “pagus”, abutres à procura de carniça para justificarem seu odos, onde fazem pousada!
Tem fente que só enxerga como culatra de carreta. Não adianta. No dizer de nossa tradição, “é querer indireitar sombra de pau torto”, sabendo-se que o graxaim é que uiva com fome atrás de cordeiro. Isto é folclore de campanha, mas não para recabém acomodado em cadeira de veludo, sem identidade rurícola, cujo filosofar só aparece como tripa de linguiça: cheia de ar.
O melhor mesmo é abrir a porteira e deixar sair campo afora, de cola erguida, e que se percam sozinhos pelo pampa, enfolidos por algum barrocal.
Hoje no mundo – no Brasil (em vários Estados), na América do Norte, na Europa, no Japão, na Rússia – existem cerca de 3715 entidades congregando um milhão de pessoas configurando e praticando a cultura tradicionalista rio-grandense.
Este movimento é irreversível; vem de baixo para cima, da alma nativa do povo. Não aguenta tampão deste ou daquele pretenso bostejador sapiente.
De reto é frouxar a cincha. E os Centros de Tradições sabem que tem alta responsabilidade em contribuir e traçar límpidos horizontes à preservação de nossas nobres heranças.”
E então moçada, que acharam? Uma dura crítica à época, que ficou marcada por alguns anos, talvez sendo um dos maiores “ataques” a uma instituição privada que tentou (ou não) dar uma cutucada no assunto Tradição Gaúcha.
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Aproveita também por já ler alguns outros materiais do Mestre Paixão Côrtes.