Como bailar determinada dança se não entendermos o contexto onde ela estava inserida?

Estamos tratando bastante sobre o assunto mais determinante para que qualquer dança tradicional gaúcha seja bem bailada: as gerações coreográficas.

Apresentamos já o ponto de vista do manual do ENART, sobre o Minueto, Fandango, Contradança e Pares Enlaçados… Falamos também sobre a 1ª Geração Coreográfica e os Continentinos e agora vamos tratar da 2ª Geração Coreográfica, e a Etiqueta para o bom dançar.

Como base, utilizamos a obra de J.C. Paixão Côrtes, com título: “Bailes e Gerações dos Bailares Campestres“, do ano de 2002.

Contexto Histórico:

Em 1643, Luiz XIV é coroado Rei da França. Convencido do caráter de sua onipotência, Luiz XIV deu a si próprio o cognome de Rei-Sol. A fim de alcançar a submissão da nobreza ao absolutismo real, ele mandou construir em Versailles um palácio-monumento e procurou avassalar os nobres através do esplendor de uma Côrte de maravilhas.

Em meio a maior faustosidade, movimentou-se a Côrte do Rei-Sol dentro do mais complicado cerimonial – a “etiqueta” – que se tornou quase uma arte. Luiz XIV encarnou as aspirações de seu povo, e pode dar à França uma enorme irradiação pela Europa, não só política como cultural e da Arte de dançar.”

Então, entende-se que graças a polidez do tal do Luiz XIV, tudo debandou para o lado da fineza, do requinte, do glamour, e assim também o foi com as danças. Não só isso, a França se projetou muito no campo da filosofia, música, ciências, etc… Criando nomes como Descartes e Pascal.

Quadro de Luiz XIV, com seu traje de danças

A Etiqueta na Dança

Numa Côrte banhada pela Arte e subjugada pela Etiqueta, não poderiam subsistir bailados como a “Sarabanda”, a “Galharda”, o “Canário” onde a sensualidade era por demais brutal, cujo espírito tumultuante era um atentado à Etiqueta.

O século de Luiz XIV – “que pela primeira vez na História do Mundo assinala talvez uma fortemente marcada divisão entre o ativo e o passivo na cultura humana, entre os criadores e os espectadores, entre o artista e seu auditório” – dá margem ao mais intenso desenvolvimento artístico do danças.

Mestres-de-dança abandonam as corporações de músicos para formar uma associação autônoma, nos moldes da “Académie de La Peinture et de la Sculpture”, e a “Académie de la Danse”, que evoca a si o mister de ensinar à Côrte palaciana o bailado representativo do Século do Rei-Sol. Nasce o espetáculo “Triunfo do Amor”, com a presença marcante da mulher em cena. Nasce também o “ballet”, sem sapateados nem estardalhaços.

Esse final nos traz para um mundo bem conhecido. Se formos pensar no ballet que estamos acostumados a ver, conseguimos imaginar como fora o século do Rei-Sol. Quanto requinte em cada movimento teriam feito os dançantes.

Imaginem só que escolas de danças foram criadas para poder ensinar os mais nobres, nos seus grandes palácios, a bailar com Etiqueta, nos mais finos e leves movimentos.

Que momento!

Ballet na época de Luiz XIV

CTG S.A.Powered by Rock Convert

Características das Danças:

A nova dança do laboratório francês veio a se caracterizar por vários pares dançando simultaneamente, distribuídos numa fileira de homens à frente de uma fileira das respectivas damas; um mestre-de-danças coordenava, com seu próprio exemplo, os passos e gestos – comedidos, refinados – de todo o conjunto. Homem e mulher tomavam-se suavemente as mãos, executavam lentos giros, faziam reverências um para o outro.

Era assim o minueto, próprio para um Rei, que usava sapatos de salto alto para dançar, talco retocando o rosto e abastadas perucas em cachos e ricamente empoadas (frequentemente com piolhos)!

O Seu Paixão e os comentários em final de parágrafo! (hahaha)

Mas seguindo o raciocínio, aqui encaramos duas características que são a base para todo o ciclo do Minueto: movimentos comedidos e requintados. Claro, que ao chegar aqui, esses movimentos foram de certa forma sendo “agauchados”, mas nunca deixaram de ser movimentos com maior cuidado.

Danças Gaúchas de 2ª Geração Coreográfica

Prestigiado pelo novo centro mundial de moda – Paris – o minueto se difundiu pelos salões do mundo ocidental e deu início à nova geração coreográfica das danças em duas fileiras, por homens e mulheres agindo dependentes.

No Rio Grande do Sul, a moda universal da época, a gavota, foi evocada por Cezimbra Jacques, Achylles Porto Alegre e num capítulo do romance histórico “O Vaqueano”, de Apolinário Porto Alegre. Os gesto refinados, os passos comedidos, influíram em todo o relacionamento coreográfico entre o homem e a mulher. É o que se observa no caranguejo, e nos “passeios” do anu, o chote inglês, e a queromana, em momentos significativos que relembram as cerimônias palacianas.

Para completar gauchada, vale sempre lembrarmos ao dançar que a moda chegava dos grandes salões da Europa ao Brasil, que de certa forma já se deturpava um pouco, e ao chegar ao ambiente rural, se modificava novamente. Dependendo ainda da classe social que iria dançar (casa grande ou gauchada da lida) poderia tomar cores ainda um pouco diferentes.

Porém, a principal característica do seu ciclo, da sua época, não se perdia.

O máximo que poderia vir acontecer seriam hibridismos de duas gerações, pois uma geração não precisa necessariamente deixar de existir para que outra ocupe o seu espaço. É uma constante evolução.

Espero que ajude os amigos que estão buscando mais conhecimento sobre as gerações coreográficas, cada vez mais faladas e discutidas no ambiente da Dança Tradicionalista Gaúcha!

Ah, escrevemos também sobre A Música de cada Geração Coreográfica, que com certeza poderá te agregar ainda mais conhecimento!

Forte abraço!

FEGADAN

#GeraçõesCoreográficas #PaixãoCôrtes #Dança

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui