Paixão Cortês, principal nome do tradicionalismo gaúcho deixa um legado de culto às tradições gaúchas!
Logo cedo, a partir dos 20 anos, aventurou-se Rio Grande afora para registrar a história, os hábitos e os costumes do homem que habitara os campos sulinos.
Para compreender o tamanho de sua importância para o universo tradicionalista, é preciso entender o contento histórico ao qual ele estivera inserido.
Em 1947, quando inicia a sua caminhada ao resgate dos costumes do homem do campo, o Rio Grande do Sul sofria o impacto do avanço da política econômica norte-americana sobre o país; com cerca de 70% da população vivendo da atividade rural, a pecuária recuperava-se dos efeitos econômicos que atingiram o setor durante a II Guerra Mundial (1939-1945).
Através deste cenário, começam a ocorrer mudanças: penetração de multinacionais no país, evasão de recursos e a população do campo é atraída constantemente para a cidade a fim de servir de mão de obra ao setor industrial.
Não bastasse tais acontecimentos, o período também foi marcado politicamente pelo fim do regime ditatorial instaurado por Getúlio Vargas, que adotou uma política centralizadora, acabou com os partidos e com os símbolos regionais, e determinou a queima das bandeiras e a abolição dos hinos estaduais. Este episódio ficou profundamente marcado na “alma” dos gaúchos.
Foi uma época de mudanças que abalavam a identidade campesina, que apresentou a cidade como espaço para onde convergiam todas as atenções. Neste período, uma geração estava ameaçada de não vivenciar as tradições:
“Grande parte de nossa geração, que vivera sua juventude durante a ditadura de Getúlio Vargas politicamente desconhecia os símbolos oficiais (bandeira, brasão, hino) da terra gaúcha, pois tais elementos haviam sido banidos do ensino escolar, estavam ausentes dos pórticos e papéis timbrados, das repartições públicas e não figuravam nas cerimônias governamentais do Estado. (…) Vivíamos, agora, em 1947. Os veículos de comunicação escolar, mostravam-se saturados de estrangeirismo.” (Côrtes, 1994b, p.41-42).
Numa época em que ninguém mais pensava em tradição, que destruía tudo aquilo que era considerado “velharia”, teve início em Porto Alegre, em agosto de 1947, um movimento estudantil, iniciado por Paixão Cortês e Barbosa Lessa. Movimento, este, a favor da Tradição.
Com os costumes e hábitos diários do povo gaúcho sendo resgatados e registrados para, posteriormente, serem ensinados e jamais perdidos ao longo do tempo, o legado de Paixão Cortês entrou para a história. Não fosse por ele, muitos andariam perdidos neste universo, buscando algo que fizesse sentido à sua existência.
A cultura tem a finalidade de adaptar o indivíduo não só ao seu ambiente natural, mas também ao seu lugar na sociedade. Sendo assim, Paixão Cortês proporcionou aos tradicionalistas a mais grandiosa das virtudes: o sentimento de pertencimento e amabilidade para com um lugar neste mundão cada vez mais globalizado e em constante mudanças.
SOBRE O AUTOR:
Mateus Müller, 22 anos, reside na cidade de Novo Cabrais –RS.
No ano de 2016 iniciou seus passos na invernada adulta do CTG local, o Presilha Pampiana, onde permanecera até meados de abril de 2017. Começou ali a real paixão pelo Rio Grande do Sul.
Em 2018, escreveu uma peça de teatro unindo Religiosidade e Tradição Gaúcha, para um evento religioso entre jovens da região central do Estado, e foi honrado com o troféu amador de 1º lugar. Desde então, segue lendo e escrevendo sobre as coisas do pago; E seu encanto segue aumentando.