dança gaúcha

Meus textos, às vezes se resumem quase a “pensamentos altos”, contando não só o que acontece ao meio, mas tentando buscar também de onde o que nos acontece veio e quais soluções podemos, por vezes, tomar. São como “tempestades de ideias” ou “tempestades cerebrais” (as “brainstorming”, que hoje estão tão em voga), porém em monólogo. Por isso não sei escrever de maneira sucinta!

Mas se há tempo e paciência, creio que teremos constantes assuntos para pensar e raciocinar, durante certo tempo, em relação às nossas danças gaúchas e o nosso meio, do qual tanto somos fãs.

Bueno…

Todos sabem que não sou do meio ENART, nem conseguiria ser. Sou cria basicamente (e primeiramente) do FEGART, lá do início da década de 80 e do acampamento ainda do campo de futebol do Brasil de Farroupilha, numa época onde a dança estava em evolução, mesmo que não tenhamos notado.

A posterior, acompanhando o processo da dança, frequentador do evento de danças do Rodeio Internacional de Vacaria, dos Rodeios com regulamentos baseados nas obras e cursos de J. C. Paixão Côrtes e, hoje, militante do formato que se intensifica sob a sigla do chamado FEGADAN e seus eventos batalhadores, em paralelo a esta filosofia “mais folclórica”, de “mais culto” e de “maior simbolismo” sobre a gente. Isso tudo acompanhando, justamente como dito, o amadurecimento das nossas danças e a maturação cultural do nosso meio Tradicionalista (que aconteceu e continuará acontecendo, mesmo depois de nós).

Venho de um tipo de danças de Culto, de reverência ao nosso Estado e nossa gente. Se a dança me forçasse (ou me forçar) a trabalhá-la como show ou espetáculo (como vivência pessoal de uma Arte própria), prefiro até deixá-la de lado. E o ENART trabalha a dança justamente como espetáculo, mesmo que não assuma esse rótulo e talvez nunca assuma ou se ajuste.

Afora que o ENART (e sua regulamentação) é um evento de jovens. 25 anos já é idade para um dançarino “veterano” de ENART, não conseguindo cumprir mais com suas rotinas exaustastes de ensaios (quase atléticas), compartilhadas com compromissos estudantis, profissionais e pessoais (normais a qualquer pessoa “normal”).

Conheço amigos de 21 anos que “deram um tempo na dança”, por não conseguirem conciliar trabalho, aula, vida e ensaios. Um dançarino, então, na faixa dos 30 aos 40 anos, onde, aí sim, já é um bom dançarino, com “manhas” e boas técnicas naturais de interpretação e de palco a demonstrar, pro ENART e seus Rodeios, já não serve mais.

Claro que eu estaria fora dessa rotina: filosófica e fisiologicamente falando (principalmente filosófica).

Minha filosofia não é de ENART, não é dele, nem para ele! Minha filosofia é somente de Culto e para o Culto!

Mas há fatos que, em paralelo, temos de levar em consideração. Como o de que, infelizmente, não termos mais nossos folcloristas e pesquisares de danças entre a gente (Barbosa Lessa e Paixão Côrtes, os pioneiros, principais, classificadores e fundamentadores; e Nico Fagundes e Lilian Argentina, estes quais nunca publicaram as suas pesquisas sobre danças recolhidas).

Também não temos mais a Fundação IGTF à disposição, extinta e com seu arquivo totalmente fragmentado e sem levantamento ou divulgação dos caminhos tomados (Instituto esse, que, inclusive, também norteou todos os padrões avaliativos dos concursos modernos, que hoje ainda temos. Afora muitas pesquisas que servem ainda de base para os mesmos concursos).

Em resumo, a “bomba”, agora sobrou para nossos eventos atuais (as competições – já que é somente o que temos, em relação à preservação da nossa dança gaúcha), administrados (todos) pelo nosso Movimento Tradicionalista e seus associados.

A responsabilidade de levar adiante as pesquisas, de comunicá-las com o povo, os jovens e com os professores, ficou atualmente somente para com o Movimento, seus filiados e seus concursos (infelizmente ou felizmente, com os concursos), fato este que antes era dividido entre mais braços cultos, com entidades sociais abertas, estudadas e intelectualizadas, e outros tantos ramos mais culturais que existiam.

Nosso Movimento é um Movimento de jovens, mas antes da atuação efetiva deles ao meio, há um processo natural de preparo cultural, de conhecimento da nossa gente (hoje, como comentado, sem folcloristas e sem mais a Fundação IGTF).

Foi o folclorista Paixão Côrtes mesmo quem analisou e nos disse, em 29 de Outubro de 1989, em entrevista ao Jornal O FARROUPILHA, quando foi o responsável pelas comissões avaliadoras do IV FEGART:

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“Os jovens não sabem ainda os reais motivos do Tradicionalista, mas, mesmo assim, o integram. Com o decorrer do tempo, certamente procurarão inteirar-se disso. Não se pode exigir demasiadamente de uma juventude que não teve a oportunidade de ser escolarizada nesse sentido. Alguns adultos estão querendo entregar a essa juventude a responsabilidade sobre um assunto que ela está querendo descobrir, mas para o qual não teve a fundamentação necessária.” 

Como este processo de aprendizado, do que é ser Tradicionalista, sobre o que é o Tradicionalismo e sobre o que são as nossas danças, é muito lento – afora a falta atual de conhecimentos, como bem citado acima, e que nem ainda notamos maciçamente – a informação necessária e básica para se trabalhar com danças nativas está realmente nas mãos de poucos (nas dos que mais se dedicaram ao longo da vida a isso, e que se propuseram, pessoalmente, a buscá-las).

Tudo vai hoje da dedicação pessoal (e parece cada vez mais seguir por esse caminho). Não era para ser, mas é e parece que será assim. Pode se mudar esse quadro, passo a passo, com o passar dos tempos, mas hoje ainda é um conhecimento de poucos.

Em resumo: a quantidade de envolvidos e interessados cresceu, mas as fontes de divulgação da nossa cultura diminuíram. E o reflexo disso? Nossa cultura está se tornando, cada vez mais, leiga (em breve balizaremos nossa dança, necessariamente, por baixo, assim).

O conhecimento deve ser igual e parelho a todos, mas antes disso acontecer ele deve chegar até todos.

Esta é a comunicação básica, o elo, a ponte, a pedra fundamental de qualquer construção. E para os mais novos, no meio Tradicionalista atual, ganharem esse conhecimento (mudanças de gerações normais e constantes ao Tradicionalismo, como um todo e em todos os setores), há de se “terceirizar” o aprendizado.

O aprendizado hoje é “terceirizado”!

O meio atual terceiriza muito e demais o conhecimento, onde, por sua vez, encarece em demasia os grupos de danças e as entidades (principalmente as mais novas e mais longínquas). Porém, esse é o quadro atual, e já é de um bom tempo!

O ENART também não possui uma grande continuidade de padrões, se alternando, constantemente, junto às mudanças (de organizações, avaliadores, chefias, quesitos, administradores e etc., como observamos há mais de década). E essas mudanças constantes levam também os participantes a se balizarem, basicamente no concurso em si, ao invés de ver nas danças as necessidades reais de um prosseguimento ao nosso Folclore regional e nosso povo.

Muda-se a supervisão, então mudam as filosofias… Mudam as filosofias, mudam os instrutores… Mudam assim também os trabalhos… E mudam forçadamente os grupos… As personalidades… Os estilos… Os prosseguimentos… As didáticas… Os custos aumentam… Etc., e etc., e etc…

O concurso se torna cada vez o mais importante, mais até que a própria dança em si!

E é aí que muitos colegas, inseridos nas filosofias e nas danças de Culto (principalmente do FEGADAN), se tornam comunicadores de muito desses conhecimentos, levando processos ausentes ao ENART até o palco dos CTGs, das Inter´s e das Finais de Santa Cruz do Sul (nem todos os processos “aceitos” ou com possibilidade de execução), levando procedimentos filosóficos e intelectuais da dança a uma metodologia focada, basicamente, no concurso.

É aí que temos de ajudar o meio!

Não vejo o Evento e a Regulamentação do FEGADAN como um acontecimento para “proteção” de algo, mas sim de “divulgação” e de “didática” (numa responsabilidade muito maior do que a que se tem hoje, de proteção)…

E, em paralelo, cremos sim, que o ENART é um evento em constante maturação (se ele mesmo se permitir a isso). Muitos setores dele sabem disso (e os que sabem são justamente os que avançam), e aprendem mais assumindo isso. E, sem ajuda de pensadores compromissados, pode tomar caminhos perigosos (como já tomou em sua história) para com todo nosso Folclore e nossa gente.

Por isso temos de ajudá-lo…

…Levando o CONHECIMENTO!!!

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