Por muito tempo, os índios foram os únicos habitantes do Rio Grande do Sul. Não havia nada além de mato fechado, pastagens, gado e indígenas.

Logo mais, chegaram os jesuítas e as reduções jesuíticas foram sendo formadas à Oeste no que hoje é o Rio Grande do Sul. Consequentemente, vieram os bandeirantes. Aos poucos, no desenrolar da história, o Rio Grande do Sul começa a ser cada vez mais habitado, as pessoas começaram a enxergar valores aqui – o couro e os muares como tendo valor comercial.

Ao chegarem os colonizadores, o Rio Grande do Sul era ocupado por três raças de índios: os gês, os guaranis e os pampeanos. Abaixo, vê-se a localização das três raças:

índios rio grande do sul
Retirado do livro “História do Rio Grande do Sul”, da editora Sulina.

A localização das primitivas reduções jesuíticas e os limites do Tratado de Santo Ildefonso e o Tratado de Madrid podem ser analisadas na seguinte imagem:

rio grande do sul
Localização das reduções e divisões decorrentes dos Tratados de Madrid e Idelfonso. Fonte: História do Rio Grande do Sul,, da Editora Sulina. 4ª Edição

O Continente de São Pedro fora constante disputado por portugueses e espanhóis. As tenções existentes entre ambas coroas levou os portugueses a criaram a Colônia de Sacramento na entrada do Rio da Prata em 1680, visando o contrabando de mercadorias portuguesas, pela prata do Peru, bem como para indicar o extremo sul das posses portuguesas.

Com a fundação de Laguna, em SC, no ano de 1686, se criou então um elo de união entre São Paulo e a Colônia do Sacramento, para melhor socorrer este reduto, se necessário. Num local, previamente escolhido e onde ser ergue hoje a cidade do Rio Grande, levantou o presídio de Jesus-Maria-José no ano de 1737. Era a primeira fundação oficial que selaria definitivamente a ocupação portuguesa do solo gaúcho.

Mas, em 1750, com o Tratado de Madrid, Portugal ficaria com a região missioneira em troca da Colônia do Sacramento. Para a demarcação dos limites afluíram povoadores pela calha do Jacuí. Surgiu logo Rio Pardo, como posto avançado, e suas imediações foram povoadas com sesmeiros.

O projeto de colonização com açorianos no oeste visava estabelecer uma cunha na área fronteiriça, garantindo o domínio português na região. De lá viriam, em contrapartida, índios aldeados para as imediações de Porto Alegre. No entanto, o Tratado de El Pardo anulou tal investida. Enquanto isso os açorianos, já apossados no territórios, ocupavam seus espaços pelo litoral e pelo corredor do Jacuí e, com o cultivo do trigo, deram início à exploração agrícola no Rio Grande do Sul.

Depois do tratado de El Pardo, o Rio Grande do Sul teve um período de lutas e, parte de seu território, bem como a cidade do Rio Grande, foi conquistada pelos espanhóis. Esta última foi espanhola de 1763 a 1777. Nesse último ano mais um tratado foi assinado: o de Santo Ildefonso, em que Portugal foi forçado a desistir tanto da Colônia do Sacramento como das Missões, mas que permitiu aos portugueses o avanço para oeste, ocupando as antigas estâncias jesuíticas, entre os Rios Vacacaí, Santa Bárbara e Irapuã. Mas os sonhos de conquista de todo território, até o Prata, nunca foi esquecido pelos portugueses que foram pacientemente preparando o terreno.

Ao mesmo tempo, em Pelotas, por volta de 1780, começava-se a se desenvolver a manufatura do charque. Bem sucedida, expande-se e passa a abastecer o mercado interno. A partir daí, o binômio “pequena propriedade” (agricultura açoriana) versus “grande propriedade” (pecuária-criação e charqueada) passou a caracterizar a formação socioeconômica do sul.

Não tardou, porém, novo choque entre Portugal e Espanha. No decorrer dos conflitos, surge o Tratado de Santo Ildefonso, assinado em 1777, que levava Portugal a perder as Missões e Colônia do Sacramento. Em tais circunstâncias impunha-se uma reação enérgica de recuperação da parte leste sul-rio-grandense, que é quando a coroa portuguesa desobedece o tratado com a coroa espanhola e oferece lotes de terra em grandes quantidades para serem ocupadas, o que torna fácil a tomada das Missões no ano de 1801.

Com a incorporação definitiva dos Sete Povos, tomava o território a configuração aproximada do Rio Grande do Sul atual. Era a hora de organizar a sociedade gaúcha.

Com o intuito de dar início à organização da sociedade e do espaço gaúcho, em 1803 o governador Paula da Gama propôs a divisão do território em quatro municípios, sugerindo Porto Alegre, Rio Grande, Rio Pardo e Santo Antônio da Patrulha para serem as vilas-sede.

Em 1807, a Carta de Lei de 19 de setembro de 1807 possibilita o desanexo do Rio de Janeiro a Capitania de São Pedro, ficando-lhe subordinada Santa Catarina, passo que, facilitando a administração rio-grandense, acelerou sua subdivisão territorial. Era o inicio mais agudo de um processo integrador, confirmado com a Provisão de 7 de outubro de 1809, que criava a primeira rede de municípios, conforme sugerira Paulo da Gama.

A partir deles foram ordenados os rumos da expansão do povoamento, cujo tripé Rio Grande, Rio Pardo e Porto Alegre eram os mais populosos, os que proporcionavam maior arrecadação e, interligados por caminho fluvial, eram importantes entrepostos comerciais, além de tripé de defesa militar. Santo Antônio da Patrulha, por sua vez, acantoado exercia sua ação polarizadora sobre as freguesias do nordeste.

Descentralizada a administração com a ação de quatro câmaras de vereadores, facilitou-se a incorporação política e econômica de 1801. Isto é, mais diretamente podia ser feito o controle territorial, na perspectiva do domínio definitivo do território missioneiro ainda disputado, que continha uma área rica em gado e o Rio Uruguai, com o intuito de servir como via de acesso ao Rio da Prata.

O Litoral gaúcho era de difícil acesso, e quando acessado, não oferecia boas terras e condições para plantios e moradias, o que levou o povoador a migrar adiante. Como exemplo, o município de Santo Antônio da Patrulha, uma das primeiras povoações do litoral norte, foi por muitos secundarizada, em preferência às terras da calha do Jacuí, mais bem posicionadas. Assim, se a repulsão litorânea retardou o povoamento, recompensada foi a política de dominação portuguesa, com o empuxe de penetração interiorana que lhe redundou depois de vencidos os primeiros óbices da fronteira marítima.

No ano de 1814 foram concedidas 336 sesmarias, o que retrata a extensão e o alcance da penetração ocidental no Rio Grande do Sul. No entanto, ainda havia áreas a serem habitadas e precisava-se de homens de defenderem as fronteiras. Chegara a hora da importante imigração alemã.

Os alemães, a partir da década de 1820, foram os grandes responsáveis pelo nascimento de pontilhadas aglomerações e povoados em torno do rio Jacuí. Esta expansão, com base na ocupação agrícola, aumentou consideravelmente o número de vilas e povoados. Entretanto, há de se considerar que as colônias, dadas às implicações políticas, na sua maioria, com exceção de São Leopoldo, não gozaram do título de vila até 1850, apesar das possibilidades econômicas de algumas.

Entretanto, elas foram sustentáculo do vilamento de muitas freguesias já existentes, pois, uma vez instaladas, a pouca distância dessas povoações, dinamizaram o comércio de muitas em decadência. O aumento populacional das redondezas e a vitalidade despertada nas relações de produção constituíram-se em variáveis desse processo.

Essa dinâmica impunha-se na linha leste-oeste e praticamente ficava o nordeste gaúcho  excluso de sua aplicação ou de seus efeitos. Apesar das dificuldades do período farroupilha (1835-45) e dos entraves da política colonizadora, adensava-se paulatinamente a população da Província. Em 1857, 25 eram os municípios (lGRA, s.d. p. 3) e 25 as colônias instaladas (NOGUEIRA & HUTTER, 1975, p. 49).

Até a interrupção da imigração, pela suspensão de subsídios em 1830, haviam entrado 4.853 imigrantes. Com elementos de profissões tão variados, e que assim continuaram chegando, não é de se estranhar que, já em 1929, houvesse em São Leopoldo “oito curtumes e outros tantos moinhos, uma fábrica de sabão, um engenho para lapidação de pedras de toda qualidade , trabalhava-se ainda em toda espécie de obra de chifre e de crina, bem como, produziam-se todas as qualidades de grãos e de batatas”.

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O lote, a linha, as picadas, o condensamento populacional, mais o afluxo de serviços básicos de funcionamento dessas comunidades fixaram o traçado colônia-vila.

Com algumas promessas não atendidas pelo governo imperial, muitos colonos, em vários casos, infringiram cláusulas de contrato, o que desencadeou uma verdadeira corrida para o mato. Essa penetração por terras até então pouco ou nada exploradas decidia, fundamentalmente, para a tomada do território, o domínio de fronteira, a conquista do oeste. Muitas terras então devolutas na linha do Alto Uruguai, com exceção de algumas áreas de mato na extremidade fronteiriça, só ocupadas no século XX, eram articuladas na rede de povoados que se formava.

Robert Avé-Lallement, um médico viajante da Alemanha, escreveu sobre o estilo de vida dos alemães no livro Viagem pela província do Rio Grande do Sul (1858). Ele relatou:

Na planície seguinte, num capão de mato, uma casa. Para lá me dirigi; de novo uma casa de alemão cheia de vida e atividade, onde vivia um correeiro com filhos vigorosos, procedentes igualmente de São Leopoldo. Demorei um pouco. Interessava-me encontrar uma vida alemã num campo solitário. E era perfeitamente alemã. Cada filho executava sua parte do trabalho com habilidade e cuidado e respondia amavelmente a todas as perguntas. (…) Mas por trás dessa maneira inteiramente alemã, um traço de gaucharia. Um dos meninos devia ensinar-me o caminho.

Enquanto arranjava seu laço, o irmão tangeu em nossa direção uma tropa de cavalos. Com a perfeita segurança de um adulto, o pequeno laçou um cavalo, atirou sobre o animal sua sela rio-grandense e trotou para frente, sem pestanejar; o rapazote era dos pés a cabeça um gaúcho, um centauro!

Em 1869, deu-se o início ao processo de imigrantes vindos da Itália. Estes ajudam a aumentar a população gaúcha e agregam muito à culinária e agricultura do Rio Grande do Sul. Com os italianos, a depressão central passou a ligar-se ao planalto, até então deslocado da órbita populacional, que era até então um verdadeiro deserto.

Os primeiros imigrantes italianos chegaram a Nova Milano, distrito de Farroupilha, onde se radicaram a 20 de maio de 1875. A 27 de agosto, junto com os imigrantes franceses, se estabeleceram os primeiros italianos em Conde d’Eu, hoje Garibaldi. Desta localidade partiram 48 pessoas destinadas à Dona Isabel, hoje Bento Gonçalves, dando ali início ao povoamento.

Por muito tempo os imigrantes italianos sustentaram luta em condições desfavoráveis: a distância e a falta de meios de comunicação; o desconhecimento do clima e das culturas aptas para este clima; e, sobretudo, além de terras menos aptas, a impossibilidade de sustentar a concorrência com os habitantes de Baixo da Serra que contavam com a comunicação fluvial fácil e com o mercado consumidor da capital. Os colonos italianos da serra só podiam vender e comprar através do porto fluvial de São Sebastião do Caí, dependendo assim de intermediários, situação que só se resolveria com a estrada de ferro que chegou em Caxias em 1910.

Aliás, os imigrantes, tanto alemães quanto italianos, foram os responsáveis por aberturas de estradas, que acabaram por resultar na chamada de atenção para que novos moradores se interessassem em habitar o Rio Grande do Sul.

Em 1939, a estrada de ferro no Rio Grande do Sul tinha uma importância significativa, pois poderia abastecer todo o estado.

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Estrada férrea do RS no ano de 1939. Fonte: Arquivo Histórico Regional

Enquanto isso, ao sudoeste do Rio Grande do Sul, havia consumo fácil para tudo quanto viesse das Missões: o gado para as charqueadas; os couros para o porto de Rio Grande; cavalos e mulas para serra acima, a caminho da Feira de Sorocaba. E isso ajudou a região a ser habitada.

Até 1872, estava praticamente apossada a metade sul da Província. Por outro lado, na linha noroeste, coube aos ervais o vínculo de atração, além dos efeitos do comércio do gado em pé para o centro brasileiro, via caminho das Missões.

Posterior ao ano 1950, o monopólio exercido pelos grandes comerciantes alijou o pequeno agricultor, marginalizando-o, e conseqüentemente acabou por deixá-lo empobrecido.  A saída foi a “corrida para o mato”. Terras novas, ao norte, tiveram de ser exploradas, e isso resultou na multiplicação de unidades povoadoras a partir do vale do Taquari, seguindo o planalto médio até o vale do alto Uruguai.

Nessas condições, o Rio Grande do Sul transitou para uma economia de estrutura monocultora, o que resultou no aceleramento da decadência da agropecuária colonial. Em nome da soja, especialmente, muitos abandonaram a horta da porta da casa, o chiqueiro do fundo do quintal, prejudicando a lavoura de subsistência, ficando obrigados a comprar os produtos essenciais que, antes, eles mesmos produziam e se abasteciam.

As pessoas nesse períodos também passaram a buscar uma forma de subsistência da cidade, pois se endividaram no campo devido ao ingresso do capitalismo na área rural. A migração rural-urbana daí advinda provocou um desordenado crescimento das cidades industriais, tornando-as centros urbanos “inchados”. Estes encontraram no homem expulso do campo a força de trabalho de que necessitavam. Daí a explosão das grandes cidades como pólos industriais.

Dos 232 municípios existentes em 1980, 56 desmembraram-se de Porto Alegre, 137, de Rio Pardo, 14, de Rio Grande e 21, de Santo Antônio da Patrulha.  Se formos analisar, Santo Antônio da Patrulha e Rio Grande obtiveram pouco êxodo e imigração, tendo sempre um número administrável de moradores e poucas cidades como pólos industrias. No entanto, há maiores desmembramentos no centro e oeste, o que significa maior

SOBRE O AUTOR:

Mateus Müller, 22 anos, reside na cidade de Novo Cabrais –RS.

No ano de 2016 iniciou seus passos na invernada adulta do CTG local, o Presilha Pampiana, onde permanecera até meados de abril de 2017. Começou ali a real paixão pelo Rio Grande do Sul.

Em 2018, escreveu uma peça de teatro unindo Religiosidade e Tradição Gaúcha, para um evento religioso entre jovens da região central do Estado, e foi honrado com o troféu amador de 1º lugar. Desde então, segue lendo e escrevendo sobre as coisas do pago; E seu encanto segue aumentando.

#Índios #História

 

1 COMENTÁRIO

  1. Parabéns Mateus pela belíssimo trabalho . Pessoas deste teu gabarito é enobrecem e engrandecem este nosso Rio Grande do Sul. Um Abraço. Paulo Müller.

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