Bem, aqui estou eu, na difícil peleia de desenvolver um texto sobre o tema proposto, e para tanto, em primeiro lugar invoco as palavras de Paixão Côrtes: “Gaúcho é um estado de espírito, não é um nascer, é querer ser!”. Assim sendo usarei o mestre como guia para estes escritos, fazendo uso a letra da dança da Chimarrita.

É difícil mostrar a realidade do tradicionalismo gaúcho no Estado do Mato Grosso em poucas laudas, e antes que me perguntem, NÃO, não temos onças caminhando em nossas ruas. Este ano estamos comemorando os 25 anos de existência do Movimento Tradicionalista Gaúcho do Mato Grosso-MTG/MT e 30 anos do nosso CTG Aliança da Serra.

E como ponto de partida, para ilustrar nossa conversa, usarei o XXI FEMART- Festival Mato-grossense de Arte e Tradição Gaúcha realizado no CTG Aliança da Serra no período de 12 a 14 de outubro, na cidade de Tangara da Serra, ilustrando a distância que cada um dos 15 CTG participantes do evento percorre desde as cidades origem até chegar em nossa entidade.

Começo pelo CTG Centro Oeste Pampeano, Nova Xavantina(1.050km); CTG Chama da Tradição, Sapezal(240km); CTG Nova Querência, Campos de Júlio(300km); CTG Paixão Sem Fronteiras, Santa Carmem(600km); CTG Pioneiros do Centro Oeste, Canarana(1.230km); CTG Pousada do Sul, Querência(1200km); CTG Querência Distante, Primavera do Leste(490km); CTG Recordando os Pagos, Sorriso(440km); CTG Saudades da Querência, Rondonópolis(520km); CTG Sentinela da Tradição, Lucas do Rio Verde(300km); CTG Velha Querência(250km).

Então, levando em consideração que o Rio Grande do Sul tem média de 650 km de comprimento, podemos ter uma noção de distancias percorridas por nossos gaúchos para cumprirem sua missão, e lembrando ainda que esse é somente metade do seu trajeto pois após participarem do evento, devem retornar aos seus lares.

E neste ano, além de Tangara da Serra, tivemos fases do FEMART, nas cidades de Sapezal e Querência. Então podemos notar, o primeiro grande desafio aos tradicionalistas no Mato Grosso, é a logística devido ao isolamento das cidades. Mas nosso mestre falou “Pra quem tem cavalo bom Um galope não é nada”.

MTG mato grosso

Buscando nas palavras do saudoso Teixeirinha, que seus versos cantava “mocidade associem com a gente, vão ao CTG”, deparamos com o segundo grande desafio, dos líderes do movimento nestas paragens, que é a busca de jovens que perpetue a luta pela manutenção da cultura dentro dos galpões, através das invernadas artísticas, campeiras e esportivas.

Dentro desta perspectiva, e sabendo que a etapa do FEMART, de T Serra contou com a participação de aproximadamente 1.500 participantes, observamos que os desafios estão sendo vencidos, porém ainda não a contento, há muito a ser feito, e quando falamos de tradicionalismo, estamos nos referindo a um povo que mesmo distante dos seus rincões, não medem esforços para manter viva a herança dos seus antepassados.

Continuando nossa viagem pelo momento tradicionalista gaúcho em terras mato-grossenses, deparamos com o jovem Sr. Jeferson Zucchi de 32 anos, sendo deste 10 vividos por aqui, eng. Florestal, natural de Cel. Freitas-SC. Que apesar da juventude, é o Patrão do CTG Aliança da Serra, biênio 2017/18, além de ser também coordenador da 1ª RT do Mato Grosso e conselheiro do MTG/MT, que mui gentilmente nos agraciou com um dedo de prosa.

O sr. Jeferson, nos indicou que o momento atual do movimento tradicionalista pode ser resumido em uma única palavra: CONSOLIDAÇÃO.

Desta forma nos desenha sua visão sobre o processo, nos diz que se passaram 25 anos da criação do MTG/MT e ao longo dessas 2 décadas e meia tivemos altos e baixos.

Mas nos últimos 05 anos, o processo vem se fortalecendo, inclusive com a criação/inserção de novos CTGs ao sistema, além do resgate de entidades que estavam adormecidas pelo Estado a fora.

Ele nos cita ainda que a criação de novas invernadas Veteranas nos CTGs, mostra o resgate de tradicionalistas que em algum momento do passado fizeram parte de grupos culturais gaúchos, mas pelas idas e vindas da vida, acabaram se desconectando do movimento, e agora estão novamente reencontrado a felicidade de dançar e participar ativamente do tradicionalismo gaúcho no Mato Grosso.

Seguindo nossa aventura pelo Momento atual da Cultura Gaúcha no Mato Grosso, estamos com o Sr. Nélio Spolti (40) cuja trajetória se confunde com o tradicionalismo mato-grossense. Paranaense da cidade de Marmeleiro, iniciou-se na arte da dança tradicionalista, no seu estado natal, com 14 anos de idade, mudou -se para o Mato Grosso no ano de 1998, em 2001 passou a trabalhar profissionalmente com dança tradicionalista.

Seu curriculum é longo, atuou como professor de dança nos CTG Sentinela da Tradição (Lucas), Querência Rio Claro (S.J. do rio Claro), Porteira da Amazônia (N Mutum) e atualmente está no Aliança da Serra.

Foi Diretor Artístico do MTG-MT (2009 a 2011), fez parte do Conselho de ética do CBTG 2010/2011, Presidente do MTG-MT 2012-2013, diretor Artístico da CBTG 2014, e é Conselheiro Vitalício do MTG-MT.

Em nossa conversa, Nélio a princípio tímido nos atendeu com a simplicidade e carisma tipicamente sulista, e com o desenrolar do tema passou a ter a firme postura, de quem vivenciou e participou ativamente do desenvolvimento e fortalecimento da cultura tradicionalista gaúcha nestas terras.

Dissertou que o nosso movimento já foi mais fortes no até meados da década de 2010, porem entrou em declínio por conta da crise financeira do agronegócio ocorrida no país.

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mato grosso CTG

A manutenção do movimento demanda muito recursos, para manutenção de professores, viagens, curso, indumentárias, músicos, animais para campeira e das próprias instalações físicas dos Galpões dos CTGs.

Tudo isso foi afetado pela crise financeira no país, uma vez que os tradicionalistas basicamente vivem do agronegócio. Isso levou ao enfraquecimento do movimento e dispersou a união tradicionalista no Mato Grosso.

Um fenômeno derivado dessa desarticulação foi a diminuição do tempo da renovação das gerações participantes das atividades dos CTGs, que no início girava em torno de 10 anos, e hoje gira com o período médio de 2 anos, que está havendo a renovação, que também dificulta o processo de continuidade do movimento.

E como havia citado o Sr. Jeferson Zucchi, Nélio, diz estamos em um momento de reagrupamento do movimento, através de uma forte atuação da Direção do MTG-MT, que está conseguindo aglutinar novamente os tradicionalistas dispersos.

Nélio destaca que nos primórdios do tradicionalismo mato-grossense foi alavancado pelos pioneiros nascidos em terras do sul que haviam vindo desenvolver agricultura nas terras do centro oeste, e traziam consigo além do tradicionalismo, o sentimento nativista que fortalecia ainda mais o movimento.

Passado mais de 40 anos da chegada dos primeiros desbravadores, hoje temos os filhos e netos deles, muitos já nascidos em terras distantes das querências natais, e que, portanto, não beberam na fonte da vivência cultural gaúcha, tornando, este, mais um evento que alimenta o conflito de gerações existente.

Relatou que assim como ocorre nos movimentos tradicionalistas do Sul, existe a busca das entidades pelo resultado (troféus e títulos), que leva a alguns participantes esquecerem do real sentido de estarem dentro dos galpões.

Chegando mesmo, a esquecer o respeitos a cores, a indumentária, a simbologia do tradicionalismo, e como diria um saudoso companheiro de lida nascido no noroeste Rio-grandense, em um baile de galpão jamais se permitia a entrada de pessoas trajando “brim coringa” ou trajes não condizentes.

Destacou também que a sobrevivência das entidades tradicionalistas também precisam passar por mudanças, devido a falta de disponibilidade de tempo para dedicação integral dos líderes (patrões), e que deslumbra a chegada da hora de uma profissionalização gerencial do sistema, para que ele possa sobreviver.

Encerrando nossa trilogia, converso com a Sra. Kheuren Xavier Gregorio, natural de Videiras-SC, que vive no Mato Grosso desde 2001, inserida no movimento tradicionalista desde 2012, primeiramente como mãe, posteriormente passou a ser coordenadora das invernadas mirim do CTG Aliança da Serra entre 2013 a 2015, e atualmente faz parte da Gestão do CTG no Biênio 2017/18.

Tivemos nossa conversa durante um ensaio da invernada mirim, da qual minha filha participa, a conversa com uma mãe cuja prole participa do movimento tradicionalista possui uma aura de emoção indescritível, pois como sabemos a família é a base de toda a estrutura da cultura tradicionalista gaúcha.

Percebo pelo brilho no olhar, que este sentimento principalmente no momento em que menciona a participação de sua filha no movimento, e muito além disso, quando cita as demais crianças e adolescentes pelas quais é responsável, juntamente com as demais coordenadoras, nas vivencias do galpão.

Demonstrando que inegavelmente, por esta responsabilidade, estas crianças passam ser tratados como filhos seus, irmanados pela tradição gaúcha.

Sabemos que o desejo de toda mãe, demonstrado por suas palavras, é que seus filhos se tornem bons cidadãos, membros valorosos da sociedade, então o conceito tradicionalista de fortalecer os vínculos familiares, se torna a base de tudo.

Segundo sua visão, em algum momento da vida as crianças iram se tornar membros de nossa sociedade, e que para isso ocorra de forma estruturada, elas tem que estarem preparados emocionalmente e com formação de caráter solida.

A vivencia dos galpões dá a segurança as mães que isso será em um ambiente socialmente saudável, onde os preceitos de família, como disciplina, respeito aos mais velhos, a si mesmo e aos demais pares sejam fortalecidos.

Sobre o autor:

Joel Mark Oliveira de Sá, 50 anos, formado em engenharia elétrica pela Escola de Engenharia de Lins – SP – Natural de Porto Velho – RO

Faz parte da Primeira Região Tradicionailsta do Mato Grosso (MTG-MT), CTG Aliança da Serra – Cidade de Tangara da Serra – MT, onde participa do grupo de dança tradicionalista Veterana da entidade.

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