O que é o caipira, se não o modo pejorativo do povo da cidade se referir ao povo do interior?

O gaúcho interiorano, aquele que bem representamos nas nossas Entidades Tradicionalistas como os CTGs era tão “caipira” para os citadinos quanto aquele chamado assim pelos paulistas em tempos idos. Porém existem nítidas diferenças evidenciadas primeiramente pelos seus aspectos regionais – clima, sociabilidade, vestimentas de festa, culinária e etc. De acordo com a sua região, o homem e a mulher rural se vestem de forma característica: no nordeste não existe frio então as roupas são mais curtas e com tecidos leves, no centro-oeste as modas citadinas imperavam, no sul sabemos bem que nossas ricas “pilchas” faziam parte da vestimenta da gauchada (não somente os rio-grandenses, mas também os catarinenses que adquiriram muito das características destes pela sua colonização).

Ahhh! Mas roupa de festa junina é outra coisa! Tem que usar remendo!

Roupa de festa é roupa de festa!

Partindo do princípio em que estamos numa festa comunitária, religiosa e invernal, o que devemos usar? As moças saias curtas como as que são usadas no Nordeste? Roupas esfarrapadas? Remendos? Penteados que ridicularizam as mocinhas? Dentes pintados parecendo podres? Crianças de bigode? Posturas inadequadas à momentos de dança comunitária e social?

Ahhh mas é festa no “Arraiá”!

Quem aqui fala “Arraiá”?

Dialetos de outras regiões imperando sobre o nosso! Formatos caricatos de “caipiras de outras querências” que não da nossa!

Se usa roupa da época representativa e observando a estação do ano que aqui no Sul é FRIO DE RENGUIAR CUSCO! E mesmo assim, constantemente nas escolas vemos inclusive as “profe” com as ceroulas mais compridas que suas saias (aparecendo as ceroulas???) com as pernas roxas de frio – e “dê-le gaita”!

Nas festas juninas escolares entre outras… saem porteira afora os tais “caipiras” para dançar “forrós e xaxados” no “arraiá” que nunca fizeram parte das nossas festas sociais sulinas e detrimento ao nosso rico patrimônio cultural: nossa música e nossa dança!

Caímos num caricato extremo difundido desde os primeiros anos da vida escolar, num desrespeito ao homem e a mulher rural, que mesmo com todas as mazelas vividas, em momento festivo estavam com “roupa de domingo” e jamais com quaisquer peças que sejam remendadas, esfarrapadas e etc.

Roupa remendada é para lidar na roça, plantar feijão, arrancar mandioca! E não para ir numa festa em devoção aos santos juninos: São João, Santo Antônio e São Pedro!

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E as danças?

Há um rol enorme de danças tradicionais de Festos Rurais de antigamente: o Pezinho, Pau-de-Fitas, Jardineira, Chotes Afigurado, Graxaim… entre tantas outras além das quadrilhas, e todas elas se dançavam em qualquer festa: casamentos, bailes sociais como os “de pé de cabra”, “de ramada”… e não somente nas festas juninas.

Deveríamos cultuar nossas Festas Típicas respeitando a nossa IDENTIDADE CULTURAL.

Se é representatividade histórica que se busca, o melhor caminho começa por aí…

Agora, se o objetivo é ser ridículo e pejorativo…continuemos assim!

E viva São João!

E viva o padroeiro!

E viva São João!

Dê-le gaita seu gaiteiro!

Em tempo: Para quem gosta do assunto vale a pena a leitura de um texto fantástico escrito pela psicóloga especialista em educação Maria Helena de Souza Patto intitulado: “Jeca Tatú – o poder de um mito” do livro “A Produção do Fracasso Escolar” que explica todo o caminho percorrido desde a caracterização jocosa do caipira paulista até a festa junina escolar de hoje. Um erro grosseiro vindo desde a época de Getulio Vargas, disseminado pela comunidade escolar pela errônea interpretação dos motivos que levaram Monteiro Lobatto a criar o personagem “Jeca Tatú” do famoso livro: Urupês, eternizado nos cinemas pelo grande ator da comédia Mazzaropi.

GIOVANI PRIMIERI – Tradicionalista Gaúcho, Instrutor de Danças Tradicionais do Conjunto Folclórico Celeiro da Tradição de Campos Novos.

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