(…E fora dela!)
Nessas épocas de pandemia, isolamento social e quarentena, alguns estão conseguindo mais tempo para fazer algumas práticas que antes não tinham tempo…
Muitos colocam a leitura em dia, outros as suas rotinas pessoais, ajeitar aquela parte da casa, ou assistir aquele filme há tempo na lista.
É nessa possibilidade de filmes, onde pouco se acha com a temática regional nossa, por ai, que alguns amigos tem me pedido indicações de longas-metragens – mais antigos ou mais atuais, independente – justamente com a paisagem do nosso Rio Grande do Sul de fundo, protagonizando passagens da nossa cultura gauchesca ou da nossa história “gaúcha”, para que possamos apreciar, conhecer e, por que não, nos identificarmos nas telas tão constantes, atualmente, em nossas frentes, nessa época.
Para isso, separei 10 temas que assisti e que gosto muito, identificados em ordem de produção, junto a um breve resumo de seus roteiros e curiosidades. São poucos, mas que, de certo modo, marcaram época e nos trouxeram imagens que, constantemente, nos permeiam as imaginações, acerca do nosso tipo sulino e suas paisagens, sejam pampeanas, serranas, missioneiras, etc.
Há alguns dias mais, por casa (tomara que poucos), mas, os que puderem, procurem essas referências e degustem sem moderação, pois, apesar de tudo, é o mais perto de nós mesmos, circulando através do cinema a nossa cultura.
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01 – O SOBRADO (1956)
Este filme é um clássico, foi rodado em 1956. É parte da história de O Tempo e o Vento, o enredo tenso de “O Sobrado”, classificado como Drama, se constrói pela situação em que a residência dessa personagem se encontra, sitiada pelas forças dos maragatos.
Estes estão para ser derrotados e precisam deixar a cidade. Mas sendo comandados pelos descendentes da família Amaral, com quem Licurgo tinha uma rixa antiga, o cerco ao Sobrado é sustentado com insistência.
Lá dentro, os membros da família de Licurgo e seus capangas passam graves necessidades de água, comida e cuidados médicos. A tensão é aumentada pelo fato de que a narrativa é fragmentada e interrompida por longos trechos (quase como flashbacks da história da família Terra-Cambará), adiando a solução, assim, continuamente.
Curiosa é a cena da Chula, dança que pela primeira vez, neste filme, é registrada em formato de culto. Também é neste momento onde ela aparece por primeira vez sendo executada em uma “lança”, devido ao contexto guerrilheiro do filme, apenas (não é um fato histórico). Contando no elenco com figuras como Lima Duarte, Fernando Baloroni e Bárbara Parisi, o filme é realmente um clássico.
O filme “O Sobrado” pode ser adquirido através da empresa Mercado Livre, dentre outras também especializadas.
02 – PAIXÃO GAÚCHO (1957)
Este é outro clássico. Mesmo. Pouca gente conhece, mas vale muito a pena. Seu roteiro é baseado e adaptado totalmente a partir do livro “O Gaúcho”, escrito por José de Alencar, em 1870, onde a história se passa em 1836 e trata sobre a amizade de dois homens, abalada pelo amor a uma mesma mulher. Quando eclode a Guerra dos Farrapos, eles ficam em lados opostos e a disputa pelo amor daquela “prendada” só impulsiona o atrito.
Com algumas canções de Barbosa Lessa (como a “Chimarrita Cafuné”), Barbosa Lessa foi convidado a ser o “consultor de costumes” da película, através de uma carta recebida diretamente do diretor e amigo Walter George Dust (mesmo diretor de “O Sobrado”, citado anteriormente). Impossibilitado, devido a um estágio obrigatório, que deveria de cumprir, como aspirante, junto ao IX Regimento de Cavalaria de São Gabriel, Lessa indicou o seu primo Sady, para tal função. Barbosa Lessa só pode fazer parte do filme durante os últimos dias de gravação, conseguindo, inclusive, participar da cena do casamento, onde baila o Anú, dança recém publicada por ele e por Paixão Côrtes, no mesmo ano.
Igual fez em “O Sobrado”, Lima Duarte volta a atuar, fazendo o papel de um gaúcho campechano, com maestria, inclusive compartilhando cenas com a cantora Inhána, que canta temas os temas do Lessa na película.
O filme “Paixão de Gaúcho” não é fácil de achar, mas pode ser adquirido através da empresa Mercado Livre, dentre outras também especializadas.
LEIA MAIS: 10 FILMES GAÚCHOS PARA ASSISTIR NA QUARENTENA!
03 – PÁRA PEDRO! (1969)
Filme rodado em 1969, este já foi feito a cores, retratando nossos regionalismos. Classificado como Comédia, o “Pára Pedro” é baseado na canção homônima, de autoria de José Mendes, canção até hoje conhecida e cantada Brasil afora.
Na história, filmada e perpassada na região de Vacaria e arredores, o personagem Pedro precisa sair fugido da cidade, após arrumar um confusão com um secretário de um político local, candidato a Deputado, tudo por causa de um equívoco que envolveu a namorada de Pedro, a Rosário, e sua madrinha, que não se agradava muito dele e não aceitava o romance dos dois. Sem receber explicações dos motivos da fuga de Pedro, Rosário contrata um pistoleiro para trazer seu namorado de volta, aprontando as mais variadas estripulias.
Com roteiro de Antônio Augusto Fagundes, a história traz à cena a típica vida do gaúcho da região serrana, com usos, costumes e arquitetura local. Vale a pena!
Quem quiser, pode encontrar o filme completo no youtube, através do link:
https://www.youtube.com/watch?v=IDyHpJ8B1XI
04 – Não Aperta Aparício! (1970)
Outro filme interpretado pelo cantor José Mendes, também baseado em uma de suas clássicas canções (de mesmo nome), filmado na região de Dom Pedrito e na Base Aérea de Canoas, este teve no elenco a grande participação de Grande Otélo, assim como de José Lewgoy, Angelito Mello e de Edson Acri (inclusive, novamente, com seus desenhos de abertura).
Na história, o tal Coronel Amaro Silva, criador de gado, é proprietário de uma grande estância de gado no interior da cidade gaúcha de Dom Pedrito. Seu filho Aparício é o capataz da estância, tendo como seu auxiliar o negrinho Tonico (personagem de Grande Otélo), afilhado do coronel.
Certo dia, surge ali um novo vizinho, o Dr. Azevedo, que acaba de comprar vastas terras lindeiras. Com ele vem sua filha Aurora, e, num certo dia, ela e Aparício encontram-se e iniciam um romance. Porém, quando parte do gado do Dr. Azevedo é roubado, Aparício é acusado pelo crime, em virtude de pistas falsas deixadas pelos ladrões, fazendo-o precisar provar a sua inocência.
Quem quiser, pode encontrar o filme completo no youtube, através do link:
https://www.youtube.com/watch?v=8KSKc2E2OZQ
05 – UM CERTO CAPITÃO RODRIGO (1971)
Um Certo Capitão Rodrigo é um dos meus preferidos, principalmente por ser quase que um documentário, visto (e ouvido dos participantes) do cuidado com que cada detalhe foi criteriosamente levado às cenas. Desde a escolha do cenário (com filmagens rodadas nos casarões de arquitetura portuguesa de General Câmara, Triunfo e Santo Amaro) até aos costumes, tudo foi categoricamente definido, passando somente pouca coisa (visto a exigência do grande diretor Anselmo Duarte).
O projeto inicial tinha Tônia Carrero como protagonista, porém, com o passar dos anos e o arquivamento do projeto, por um tempo, tornou inviável. O elenco, assim, contou com as participações de Francisco Di Franco (como Capitão Rodrigo), Newton Prado, Pepita Rodrigues , o folclorista João Carlos Paixão Côrtes, como o pai da Bibiana, o Pedro Terra (além de magistralmente ser o “consultor de costumes” da obra), além de 400 cavaleiros e mais de 300 figurantes.
A história todos conhecem, é a mesma das partes clássicas do livro de “O Tempo e o Vento”, filmada e refilmada, contando aquele andejo Rodrigo Cambará, adentrando na pacata cidade de Santa Fé, arrebatando o coração da jovem Bibiana Terra, gerando, inclusive, outras tantas inimizades pelo local.
06 – ANA TERRA (1972)
Este filme (assim como “Um Certo Capitão Rodrigo”) também era uma ideia já antiga, do produtor paulista Alberto Ruschel, também junto à Tônia Carrero, ainda da época da antiga Companhia Vera Cruz, mas não saiu do papel. A história é, como também se vê pelo título, outraa adaptação para o cinema do clássico e homônimo personagem, criado por Érico Veríssimo em sua obra “O Tempo e o Vento”, porém contando outra parte, distinta das dos filmes anteriores.
Classificado como um drama histórico brasileiro, o filme, rodado em Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, tem músicas do gaúcho, grande sapateador, cantor e compositor Carlos Castilho, que também atua no filme, inclusive bailando uns passos de Chula.
Sua história se passa em fins da década de 1770, durante o Império brasileiro, onde a partir da destruição das missões jesuítas, o fazendeiro bandeirante Manuel Terra leva sua família (sua esposa Henriqueta e os seus filhos Ana, Antônio e Horácio) para uma região gaúcha de fronteira, onde organiza uma estância de criação de gado.
Constantemente ameaçados pelos bandoleiros armados e grupos de índios sobreviventes das missões, além do temor de invasão por parte dos países vizinhos, Manuel só pode contar com ele e seus filhos e a proteção esporádica das milícias para se defender, uma delas comandadas pelo Major Pinto Bandeira. Certo dia, a família socorre um mestiço índio ferido a bala, o Pedro Missioneiro, tencionando mandá-lo embora logo que consiga andar novamente. Mas quando se recupera, Pedro permanece com a família como um valoroso ajudante nas domas e nos serviços da estância, além de fascinar Ana Terra com sua religião, artes e alfabetismo que aprendera na missão, até que engravida a moça. E assim a história segue, exatamente como contada nos livros de Érico Verissimo…
Por serem esses (“O Sobrado”, “Um Certo Capitão Rodrigo” e “Ana Terra” – não nessa ordem cronológica) os três clássicos filmes sobre a obra de Érico Veríssimo, preferimos exclusivamente traze-lo à lista, apesar do seriado da década de 1980 ou do mais atual, “O Tempo e o Vento”, dirigido por Jayme Monjardím. Mas todos valem a pena!
Quem quiser, pode encontrar o filme completo no youtube, através do link:
https://www.youtube.com/watch?v=N0zWFZLaAHg
LEIA MAIS: 10 FILMES GAÚCHOS PARA ASSISTIR NA QUARENTENA!
07 – A INTRUSA (1979)
“A Instrusa” é um curioso, mas grande filme, baseado no conto clássico de Jorge Luis Borges, intitulado “La Instrusa”. Seu roteiro foi escrito por Carlos Hugo Christensen (que também foi o diretor), contando com as falas e os trajes idealizados pelo grande poeta uruguaianense Ubirajara Raffo Constant.
O filme levou às telas a história de dois irmãos, brutos e rudes, apesar de unidos na solidão da campanha, que viviam em um rancho simples de nossa Província, a meados do ano de de 1897. Certo dia, o irmão mais velho leva uma moça, a Juliana, para viver justamente com ele e com seu irmão, onde, pela primeira vez, sua presença traz uma grande discórdia ao rancho.
O filme foi rodado em Uruguaiana, tendo, nada mais e nada menos que Astor Piazzolla, colaborando com a trilha sonora do mesmo, isto além dos também grandes Mário Barbará, Telmo de Lima Freitas, Francisco Alves e o Biratuxo (Ubirajara Raffo Constant).
Seu elenco conta com grandes nomes do cinema nacional, como José de Abreu, Arlindo Barreto, Maria Zilda Bethlem, Palmira Barbosa, Fernando de Almeida e Heloisa Helena Rodrigues Gedel. Um salve, inclusive, para os trajes e as canas campechadas, dotadas de autenticidade e essência, realmente campechanas, da nossa gente.
Quem quiser, pode encontrar o filme completo no youtube, através do link:
https://www.youtube.com/watch?v=mvejnjc-DCc
08 – ANAHY DE LAS MISIONES (1997)
O Drama conta a saga de Anahy, uma “andeja”, descendentes de guaranis (“por supuesto”, visto pelo nome), que durante a Revolução Farroupilha percorre os campos da então Província, junto a seus quatro filhos (Teobaldo, Leonardo, Luna e Solano), o revoltoso Manuel e a prostituta Picumã, recolhendo os trajes, pertences e “valores” daqueles que tombaram em combate, para então repassar a outros soldados, não importa o lado.
O filme, dirigido por Sérgio Silva e com produção de Gisele Hilti, reconstituiu em detalhes uma suposta atmosfera da época, por meio de locações, figurinos e elementos históricos pesquisados pela equipe. No elenco, o filme conta ainda com Dira Paes, Marcos Palmeira, Matheus Nachtergaele, Paulo José e Araci Esteves, que vive a protagonista. Vale a pena!
Quem quiser, pode encontrar o filme completo no youtube, através do link:
https://www.youtube.com/watch?v=WIfHkXPXHmQ&list=PLvh5Xf0_y_vqXA_q0TFD9A_pEns8XKsUv&index=1
09 – NETTO PERDE SUA ALMA (2001)
Este é o primeiro filme dirigido pelo escritor Tabajara Ruas, repartindo a função com Beto Souza. O filme é uma adaptação se um livro homônimo seu, que conta a história de Antônio de Souza Netto, então General brasileiro, ferido por uma bala durante a Batalha do Tuiúti, durante a Guerra do Paraguai, em fins de Maio de 1886, enviado, então, para um hospital de guerra montado em Corrientes, na Argentina.
Lá ele percebe acontecimentos estranhos, como o capitão de Los Santos acusar o cirurgião de ter amputado suas pernas sem necessidade e reencontrar um antigo camarada, o sargento Caldeira, ex-escravo com quem lutou na Guerra dos Farrapos, ocorrida algumas décadas antes. Juntamente com Caldeira, Netto rememora suas participações na guerra e ainda o encontro com Milonga, jovem escravo que se alistara no Corpo de Lanceiros Negros, além do período em que viveu no exílio no Uruguai.
O filme, que tem no elenco, atores como Werner Schünemann, Araci Esteves e Sirmar Antunes, pode ser adquirido através das empresas Amazon, Submarino, Mercado Livre, dentre outras especializadas.
10 – CONCERTO CAMPESTRE (2005)
O último filme desta lista traz a temática musical ao cinema, de maneira criativa e curiosa, baseada no romance, de mesmo nome, de autoria de Luiz de Assis Brasil, lançado em 1997.
Dirigido por Henrique de Freitas Lima e elencado por Antônio Abujamra, Araci Esteves, Leonardo Vieira e Samara Felippo, o enredo relata a história de um gaúcho estancieiro, que deseja formar uma orquestra sinfônica, mas, para isso, tira um maestro da cadeia. O maestro, assim, é encarregado de transformar uma turma de índios e negros escravos, em verdadeiros instrumentistas, mas acaba por se envolver justamente com a filha do seu mecenas.
Segundo Assis Brasil, “a história da moça abandonada no Boqueirão me foi contada por uma amiga, a escritora Hilda Simões-Lopes, e aconteceu no século passado, nos campos de sua família. É portanto, uma história real, o que lhe dá certa nota picante; mas aqui, como em todas as realidades, a fantasia ocupa o lugar do trivial e do desconhecido – e isso é apenas uma homenagem à Literatura.”
Hilda Simões-Lopes é descendente do troco da tradicional família pelotense dos Simões Lopes, com parentescos diretos com o barão e visconde da Graça João Simões Lopes e com e o escritor e empresário João Simões Lopes Neto.
A cena das Charqueadas, logo no início, é de nos inspirar, e, assim como as outras “películas”, acima citadas, vale a pena.
Quem quiser, pode encontrar o filme completo no youtube, através do link:
https://www.youtube.com/watch?v=X-dUBEMCS9k
Bueno… Espero ter contribuído e, dessa maneira, que todos possam desfrutar a vontade, apreciando o bom do que foi feito no e sobre o nosso Rio Grande do Sul, evidenciando a nossa cultura, a nossa gente e a nossa história, através das telas grande do puro cinema nacional.
#Salve
Grato pelas indicações. Tentarei aproveitar a “quarentena ” e assistir os filmes. Um abraço. Paulo Müller
Está faltando na tua lista o LUA DE OUTUBRO com trilha de Sergio Rojjas, com os atores Sirmar Antunes, Oscar Simch, Paulo Bombachudo, Maria Luiza Benitez entre outros. Primeiro longa metragem do RS, direção de Henrique de Freitas Lima
A Guerra do Paraguai terminou muito antes de 1886 diferentemente do que está no texto: “durante a Guerra do Paraguai, em fins de Maio de 1886”. Deve haver ao menos uns 20 anos de erro na frase.