gaucho martim fierro

(…E fora dela!)

Em época de isolamento social, que tal esses 10 Filmes “Gauchos” Argentinos para assistir?

Muito da imagem que hoje temos do Gaúcho, do tipo social Gaúcho (ou “Gaucho”, para nossos irmãos lindeiros, de língua espanhola) vem desses filmes, agora citados. Não desses filmes, em específico, mas das histórias que esses carregam em seus roteiros, dos livros que basilaram esses roteiros e de todo um sentimento de recuperação histórica (digamos assim), sobre um tipo que estava se perdendo e se adaptando às novas paisagens, impostas pelas conquistas europeias (já que as conquistas queriam, realmente, “civilizar”).

O gaúcho foi um tipo de entre meio de épocas, de entre meio de conquistas, nascido e perdido, através das mudanças mundanas locais, se adaptando (era preciso) para permanecer e sobreviver aos novos tempos. Como rude e nativo, a adaptação, claro, que não seria um problema, porém novas circunstâncias sempre foram também rudes com o modo de vida e os vícios da raça, que esse tipo carregava (e ainda carrega) em si.

Estes filmes retratam isto… Muito das mudanças mundanas locais, de paisagem, de política, de raça, de vestir, de viver, conviver e, também, se divertir.

Martím Fierro (1872), Juan Moreira (1879) e Santos Vega (definido, por primeira vez na história, através de um poema de Bartolomé Mitre, em 1838, mas levado à literatura por Ascasubi somente em 1872) formataram o “gaucho” literário, sendo, estas três obras, o tripé fundamental sobre aquele fogo – ainda em brasa – permeando as paisagens do quase final do século XIX, fazendo, assim, deste tipo, um símbolo de um espírito nacional (que, por muito, se buscava), trazendo à tona o sabor do pictórico presente de histórias ausentes, mas bem acolhidas no estrangeiro, principalmente por ser sobre um tipo ausente em outras regiões do mundo (sem descartar, também, a proximidade dessa história, às paisagens dos livros românticos acerca do “Far-West” americano, também em ascensão, à época, como bem nos diz a escritora americana Madeline Wallis Nichols, qual estudou o nosso tipo deste sul de América).

Muito desta recuperação (e construção) de uma identidade, antes e mesmo proporcional aos escritos sobre o mesmo tema, feitos no Brasil e no Rio Grande do Sul (“O Gaúcho”, de José de Alencar, foi escrito em 1870, por exemplo), muito tem se feito ausente, não só das nossas estantes literárias caseiras, mas como de uma plena análise de como chegamos até aqui, como forma de culto e determinação em levar nossas bombachas e chiripas adiante (como símbolos de épocas, tipos sociais e identidades próprias – ou conjugadas).

A coluna é sobre películas, sobre filmes feitos com a temática do Gaúcho… Mas é muito mais do que isso… Podem acreditar!

O cinema é somente uma das maneiras artísticas de se levar adiante uma história e uma motivação, que nos permeia diariamente…

É assim que separei aqui, novamente, porém de maneira, agora, bem distinta (por ordem de gosto e carinho), alguns filmes que considero tão fundamentais como realmente ótimos, acerca do que é nosso e nos gerou. São filmes rodados na Argentina (não porque o nosso não vale à pena, não: nunca!), porém escritos em uma época (na sua grande maioria e não na sua totalidade – esclarecemos), onde pouco, ou quase pouco, sabíamos de nós mesmos…

São filmes rodados em pampas, planícies, campos largos, quando não, por rios e bolichos, todos remontados através de uma “verdade” que pouco vemos em nossas atuais manifestações artísticas, com atores realmente “gaúchos” (podemos dizer assim), artistas regionais interpretando o que eles realmente são… Alguns embalados por milongas payadorescas, outros por cifras, outros por chamamés (incluindo aquelas clássicas peleias correntinhas, “de crudas alpargata en las manos”).

Talvez a língua prejudique os curiosos… Mas até creio que não… Pois a linguagem das imagens falam mais do que a da palavra.

Por isso, em tempos de pandemia (que tanto usei para ver e rever essas obras – quase que na sua maioria), trago aqui algumas das que mais gostei… Algumas, porque são muitas, realmente muitas – tão ótimas quanto – rodadas nas plagas da Argentina (gostaria dessa rotina de películas por aqui, em nosso Rio Grande do Sul).

Espero que apreciem e que, a cada um dos filmes assistidos, possam, cada um de vocês, buscarem outros tantos que existem, para entender a essência que tanto deve permear as nossas manifestações culturais (de culto) e artísticas, cá, em nosso Estado.

Abraço a todos e apreciem!

01 – MARTÍM FIERRO (1968)

santos vega

Este filme foi rodado originalmente em 1968, com história extraída do poema de 1872 escrito pelo poeta argentino José Hernández, amplamente considerado o poema nacional da Argentina. Vale totalmente à pena, principalmente pelos cenários, tão crioulos quanto a história. A história é centrada na vida de um gaúcho renegado. Martin (interpretado por Alfredo Alcon) é um gaúcho e homem de família feliz, convocado pelo exército. Enviado para um posto avançado e remoto para combater índios, ele é relegado a trabalhar na estância do comandante do campo.

Após sua missão, Martin é mantido sob uma arma de fogo e forçado a continuar trabalhando na estância. Ele finalmente escapa, mas volta para seu rancho e descobre que sua família se foi e seu rancho destruído. Bêbado e vagando, em uma bailanta de campanha ele mata um homem negro em uma luta e é forçado a fugir. Quando um tal de Cruz (interpretado por Mural do Altar) vê quão bravamente Martin luta contra o grupo, ele ajuda Fierro a matar seus adversários e fugir.

Os dois então, andarengueando, se mudam para um campo índio, de índios Pampas, onde homens brancos, então, são aceitos. Após, portanto, da morte de seu amigo Cruz (Sargento Cruz), Fierro retorna à civilização, reencontrando os seus dois filhos, antes de ter um confronto, em disputas de décimas, em payada e cifra, com o irmão do homem que ele matou.

A história é clássica, e teve muitas regravações, ou adaptações do poema histórico, onde podemos citar: “La Vuelta de Martím Fierro” (A Volta de Martim Fierro, de 1974, com a participação de Horácio Guarany – https://www.youtube.com/watch?v=mELOdUPK-wc), “El Ave Solitaria” (A Ave Solitária, de 2006 – https://www.youtube.com/watch?v=4J4qIQTZ5Jw) e Martím Fierro (versão em desenho animado, de 2007 – https://www.youtube.com/watch?v=om_wrWchxoI)

Quem quiser assistir (além dos outros, já acima apontados), pode encontrar Martím Fierro (de 1968), esse clássico, através do YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=om_wrWchxoI

02 – SANTOS VEGA (1971)

santos vega

Santos Vega é um filme histórico argentino de 1971, dirigido por Carlos Borcosque Jr., de acordo com seu próprio roteiro escrito em colaboração com o roteiro de Arturo Pillado Matheu, inspirado no poema de Rafael Obligado, no romance de Ricardo Gutiérrez e no livro de Robert Lehmann. A película foi estrelado por nada menos que José Larralde, grande cantor pampeano argentino, isto junto a Ana María Picchio e Walter Vidarte, sendo, portanto, o quarto filme a ser baseado na história de Santos Vega.

A história, também clássica, conta uma passagem da vida de Santos Vega, um gaúcho argentino, da província de Buenos Aires, que viveu por volta de 1830 e deu origem a uma lenda na qual, sendo um payador invencível, acaba sendo derrotado por ninguém menos que o Diabo, encarnado na pessoa de Juan Without Clothes, o único que poderia vencê-lo. Essa história de disputa em décimas entre o homem e o Diabo é antiga em nossas culturas latino-americanas, podendo ser encontrada, inclusive, na Venezuela, através do poema e canto “El Florentino y el Diablo”, cantado e recantado por tantos, ao longo dos tempo.

O filme se encontra a disposição através do Youtube, no link:

https://www.youtube.com/watch?v=zNKaMhzG6Fs

03 – DON SEGUNDO SOMBRA (1969)

dom segundo sombra

Esta história se passa em San Antonio de Areco, nos pampas argentinos. O personagem Fabio Cáceres lembra sua infância como órfão e sua juventude trabalhando nos campos, ao lado de seu padrinho, um tal gaúcho chamado de Don Segundo Sombra, porém um homem solitário que ele admira e de quem aprenderá a ser gaúcho, seguindo-o, em todas as suas aventuras. Don Segundo será o modelo de Fabio.

Vencedor do prêmio Silver Condor de Melhor Filme, foi inscrito no Festival de Cannes de 1970, Don Segundo Sombra é classificado com um filme de drama, rodado na Argentina, em 1969, tendo a direção de Manuel Antín, baseado no clássico romance de mesmo nome, escrito pelo grande Ricardo Güiraldes.

O personagem Don Segundo Sombra é inspirado em Segundo Ramírez, um trabalhador agrícola que trabalhava na fazenda de Ricardo Güiraldes em San Antonio de Areco (foto abaixo), sendo, este, representado no filme por Adolfo Güiraldes (sobrinho de Ricardo Güiraldes, autor do romance).

Todos devem ler e conhecer a obra de Güiraldes, em especial este Don Segundo Sombra.

O filme, para quem quiser, está aberto à disposição, também através dos links do YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=NmSALSdrk04

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04 – JUAN MOREIRA (1973)

peliculas gauchas

Juan Moreira é um filme histórico, classificado como um drama, rodado em 1973, porém passado na argentino no final do século XIX. Dirigido por Leonardo Favio e estrelado por Rodolfo Bebán, é baseado exatamente no romance homônimo escrito por Eduardo Gutiérrez, que narra a vida do famoso herói e “bandido” argentino, o gaúcho e popular Juan Moreira.

Em resumo, Juan Moreira é um gaúcho bom e trabalhador que, como tantos outros, está sujeito a abusos e humilhações por parte dos mais poderosos. As injustiças cometidas levam Moreira a ser considerado um “gaúcho malo” para esses poderosos e as autoridades, sendo banido de onde vivia e convivia. Moreira, assim, enfrenta a polícia e sua história se espalha entre os compatriotas e trabalhadores locais, obtendo, a partir de então, o respeito e a admiração do povo.

O que pouca gente sabe, é que Juan Moreira é um dos mais importantes clássico da literatura gaúcha (“gaúcha” e crioula) e do romantismo hispano-americano, estando exatamente à altura de Martím Fierro e Don Segundo Sombra, por exemplo. Foi publicado em uma coluna, entre novembro de 1879 e janeiro de 1880, através do periódico “La Patria Argentina”, por Eduardo Gutiérrez, inspirado em uma crônica policial real, estrelada pelo lendário gaúcho de Buenos Aires (de mesmo nome) Juan Moreira, morto pela polícia em Lobos, em 1874.

A posterior, em 1884, Gutiérrez reescreveu o romance, agora como “minidrama”, a ser apresentado sob as lonas do circo, e essa peça, de mesmo nome, se tornou a peça fundadora do teatro River Plate, onde, mais tarde, o grande José Podestá também a roteirizou, colocando o romance de Guitiérrez no palco de seu circo, pela primeira vez em Chivilcoy, em 10 de abril de 1886.

Este romance de Gutiérrez foi levado cinco vezes ao cinema: duas vezes em filmes mudos e depois em filmes sonoros, primeiro com uma versão de 1936, dirigida por Nelo Cosimi , depois em 1948 , dirigida por Luis José Moglia Barth, e por último neste aqui, um clássico filme de 1973, dirigido pelo Leonardo Favio. Além disso, em 1897 “Pampa “, uma ópera em três atos, de autoria de Arturo Berutti (1858-1938), uma obra fundamental na história do teatro lírico argentino, foi estreada no Teatro da Ópera de Buenos Aires . “Pampa” também é baseado no romance de Gutiérrez, em um roteiro de Guido Borra.

Realmente uma obra fundamental. E só por isso (só?), já vale a pena…

E se estiver realmente curioso, veja a mesma, através do YouTube, pelo link:

https://www.youtube.com/watch?v=duHfmiU_ud4

 

05 – EL GRITO EM LA SANGRE  (2014)

filmes gauchos argentinos

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Este é um filme mais atual… De 2014. “El Grito em la Sangre” é uma história adaptação do romance “EL Sapucay”, de autoria do cantor Horacio Guarany, escrito em 1952.

O roteiro diz que, em algum lugar do interior da Argentina, a crença popular sustenta que, quando um homem morre traiçoeiramente, ele deve ser vingado por seu primogênito, para que essa alma descanse em paz. Esta é a história de Cali, um adolescente, cujo pai foi morto em uma corrida de cavalos, a poucos metros da chegada, e ele deve rapidamente se transformar em um homem forçado a vingar a morte. Calí busca vingança, mas primeiro encontra o amor de Lúcia e ajuda em um velho capataz da fazenda, que o adota como seu próprio filho. Quando a vingança é uma obrigação, há um eco de um largo grito no sangue: “um grito em la sangre”.

Horácio Guarany, além de figurar pelo filme, também foi autor do roteiro, junto a Fernando Musa, quem também dirigiu o filme, destacando também a lista de novos grandes nomes do cinema argentino, como o de Abel Ayala, Emilio Bardi, Luisa Calcumil, Maria Laura Cali, Ulises Dumont, Enrique Liporace, Florencia Otero, Carmen Vallejo, Roberto Vallejos.

Antes deste filme, Horácio havia participado (como já citado) em “La Vuelta del Martím Fierro”, de 1974, e em “Si se Calla el Cantor”, de 1973 (https://www.youtube.com/watch?v=zn2RoY7UG1Y). Só por Horácio Guarany, já vale a pena…

Assista também “El Grito em la Sangre”, esta obra prima do cinema crioulo argentino, através do YouTube, no link:

https://www.youtube.com/watch?v=ABPM-j3kIWc

06 – MARTIM, EL GAUCHO  (1952)

Le Gaucho

“Martím, El Gaucho” é um filme curioso… Porém interessante.

Foi rodado em 1952, sendo uma das primeiras tentativas de vender o Gaúcho para os Estados Unidos. Isso porquê viam o Gaúcho como um tipo vendável, e realmente muito próximo ao “cowboy” norte-americando, fruto dos “FarWest” rodados e vendidos por lá. Seu título original era “Way of a Gaucho” (O Caminho de um Gaúcho), sendo uma produção americana (de Twentieth Century Fox Film Corporation) e argentina, dirigido por Jacques Tourneur e conta com um elenco formado por Rory Calhoun, Gene Tierney, Richard Boone, Hugh Marlowe, Everett Sloane, Enrique Chaico e Jorge Villoldo, entre outros.

Outros filmes, nessa tentativa, também vieram depois, como o clássico “Savage Pampas”, em 1966, por exemplo (https://www.youtube.com/watch?v=tApwXnnEEpc). Porém, este filme se passa na Argentina próximo ao ano de 1875, e se concentra em contar a história de um tal Martín.

Após a morte de seu pai, um poderoso proprietário de terras, Miguel, decide voltar para sua casa, onde, durante uma festa realizada para comemorar seu retorno, começa esta luta, até a morte, na qual o gaúcho Martín mata um homem que calunia o novo chefe. Martín, um jovem gaúcho, é então condenado a se juntar ao exército, mas logo abandona a vida militar e decide liderar uma turma de gaúchos, para lutar contra os agentes ferroviários que se estabeleceram nos pampas argentinos. É claro que as “salinas” militares, que ele conheceu durante seu serviço, não facilitarão as coisas para ele.

Este Martím, porém, não devemos confundir com Martín Fierro… Seria um outro Martín (talvez, até possa ter sido inspirado no personagem de Hernández, mas história tem outro enredo).  Porém o mais curioso, e talvez o que o público menos compreenda (apesar de totalmente explicável, no contexto do filme) é de que as milongas entoadas durante as passagens da obra, são cantadas em inglês, lembrando totalmente os temas “countrys” americanos (algo tipo Bob Dylan, etc.). Mas é um baita filme… Mesmo!

Quem quiser, pode assisti-lo através do Youtube, pelo link:

https://www.youtube.com/watch?v=BHr5iAo3KJo

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07 – LOS GAUCHOS JUDIOS (1975)

gauchos judios

“Los Gauchos Judíos” (Os Gaúchos Judeus) é um filme classificado como um drama, rodado na Argentina em 1974/1975, dirigido por Juan José Jusid e estrelado por Pepe Soriano, Luisina Brando, Victor Laplace, María Rosa Gallo e China Zorrilla. Foi escrito por Ana María Gerchunoff, Jorge Goldenberg e Oscar Viale, que o adaptou do livro de Alberto Gerchunoff com o mesmo nome, sobre imigração judaica para a província de Entre Ríos, Argentina, porém produzido por Leopoldo Torre Nilsson, com músicas de Gustavo Beytelman e fotografia de Juan Carlos Desanzo.

Por mais que possamos desperdiçar esta história, deixando-a passar despercebida, o filme recria parte da nossa história, com a chegada de um grupo de imigrantes judeus, que fugiam da perseguição na Rússia czarista e assim estabeleceu as primeiras colônias hebraicas na província de Entre Rios.

Este flagrante cinematográfico é bastante fundamental, inclusive para compreendermos as influências que tivemos, já no início século XX (principalmente), acerca das novas rotas de influência e das modas recebidas dos europeus (pós os ciclos da Guerra do Paraguai e Primeira e Segunda Guerras Mundiais – genericamente falando). Muito do que hoje praticamos e cultuamos, como cultura adaptada nossa, tem origem e influência dessa imigração judia e dos ditos povos germânicos, que aqui nos chegaram (a Entre Rios, Corrientes, Missiones, Missões rio-grandenses, região do Alto Uruguai, etc.) e muito nos deixaram.

Por curiosidade, este filme estreou na Argentina em 22 de maio de 1975, em 1976 chegando em Nova York e, somente em 1980, divulgado na Alemanha, e quem quiser assisti-lo, ele segue disponível através do YouTube, pelo link:

https://www.youtube.com/watch?v=2AW9j5H__CI

08 – ALTO PARANÁ (1958)

alto paraná

“Alto Paraná”, podemos dizer (também de maneira genérica) que é rodado em uma época posterior às influências europeias colonizadoras, contadas em “Los Gauchos Judíos”, pois se passa também numa zona litorânea argentina (a mesopotâmia argentina), também em uma zona ainda longe de um franco desenvolvimento social, cultural, econômico e tecnológico (para à época), porém dotado de manifestações locais, já próprias, geradas à partir dessas influências, porém longe de serem iguais ás de seus pólos propagadores da moda… Como: o Chamamé.

“Alto Paraná” é uma comédia clássica, rodada pelo grande diretor Castrano Catrani em 1952, mas realmente de ótima qualidade, sendo baseada nos romances do escritor Velmiro Ayala Gauna por José María Fernández Unsain, acerca dos causos de um tal de Don Frutos Gomez (personagem, inclusive, muito conceituado e quista na Argentina), policial gaúcho, sarcástico e astuto, que resolve os casos de acordo com seu próprio sistema.

Filmado em Paso de la Patria, representando a suposta cidade de “Capibara-Cué”, às margens do rio Paraná e em frente à República do Paraguai, com alta influência da cultura guarani, o filme é uma bela retratação das cenas e culturas que envolvem as selvas, rios e terras coloradas, desse litoral argentino, que nos devolve essas cenas, em forma de muita música, compostas em arpas, bandonas e verduleras de oito-baixos.

O filme, de tando sucesso que fez, teve uma sequência rodada, e intitulada Don Frutos Gómez, dirigida por Rubén W. Cavallotti em 1961. Porém nunca achamos nem assistimos essa sequência (ainda), infelizmente. Deve também ser uma baita obra “litoraleña”.

Os filmes litoraleños, porém, não são raros. Foram muitos, inclusive, como: “Los Isleros”, de 1951 (https://www.youtube.com/watch?v=S9yfbBicq-s); “Las Aguas Bajan Turbias”, de 1952 (https://www.youtube.com/watch?v=nbrc4jyXHfQ); “Isla Brava”, de 1958 (https://www.youtube.com/watch?v=8OS-I7GZgEw); “Esta Tierra es Mia”, de 1961 (https://www.youtube.com/watch?v=llOoF5B06Gc); “Los Orilleros”, de 1971 (https://www.youtube.com/watch?v=UsF43QodUVA); etc. Muitos mesmo.

“Alto paraná” se encontra disponível no YouTube, através do link:

https://www.youtube.com/watch?v=ouL2Dr7awBM

09 – YA TIENE COMISARIO EL PUEBLO (1967)

filmes gauchos

“Ya Tiene Comisario el Pubelo” é uma refilmagem de 1967, de outro filme com o mesmo nome, rodado em 1936. Sua história, porém, narra as aventuras de um comissário corrupto, que transforma seu pequeno vilarejo interiorano em um grande inferno… Tudo, porém, narrado de maneira cômica: é uma comédia!

Curiosas e elegantes são as participações, no filme, dos artistas argentinos, Ramona Galarza e Jorge Cafrune, além de outros grupos e conjuntos musicais e de bailes criollos argentinos, durante a película.

As paisagens e cenas são realmente crioulas… E o filme não pode sair da lista dos quais devem de assistor.

Esta película está disponível, para acesso, através do link do YouTube:

https://www.youtube.com/watch?v=YPwvtJp-vUw

10 – EL ULTIMO PAYADOR (1950)

el ultimo payador

E, por fim, o filme mais antigo, de todos os aqui “linkados”, e aquele considerado um dos mais fundamentais do cinema argentino: “El Ultimo Payador”.

Não pela história, mas pelo filme mesmo: é um clássico.

“El Ultimo Payador” (“O Último Payador”) foi lançado em 1950, escrito pelo poeta e letrista de tango Homero Manzi (e dirigido pelo próprio Manzi junto ao francês Ralph Pappier), inspirado na vida do payador argentino José Bettinotti (1878/1915), personagem mítico da música argentina (autor de temas, como: “Como quiere la madre a sus hijos”, “Adiós que me voy llorando”, “Tu diagnostico”, “Que me habrán hecho sus ojos”, “Mis primeras hojas”, “Lo de ayer y lo de hoy”, “De mi cosecha”, etc.).

Bettinotti realmente marcou época, improvisando versos e décimas, fazendo serenatas e cantorias. Circulava por cafés e comitês políticos e acabou, assim, gravando muitos discos, onde, segundo contam, encontrou-se com o ainda jovem Carlos Gardel, livrando-o de um desafio, assim dizendo: “los que escuchan a mí\sabrán el hondo gemir\de mi alma sentimental\pero de otros el sentir\lo sabe solo decir\el canto de ese Zorzal”… E terminou seu improviso apontando para Gardel.

Os diretores queriam contar essa história desde 1946, quando um roteiro original foi rejeitado pela produtora. Com algumas modificações, o filme “Pobre mi Madre Querida” (https://www.youtube.com/watch?v=eO3JvzlMNgs), com o mesmo protagonista, foi lançado em 1948 (contando a história dramática de um garoto, criado no bairro boêmio da Boca, que é atraído por uma prostituta, abandonando, assim, o trabalho e a namorada para levar uma vida irregular. Mais tarde, empreendendo uma longa jornada, volta, a encontrou-a casada com seu melhor amigo – este também vale á pena). Dois anos depois, a versão definitiva, “El Ultimo Payador”, então chega ás telonas.

O tema principal do filme, a música “Pobre Minha Querida Mãe” (nome e inspiração para aquele filme de 1948), é uma composição original de Bettinotti, posteriormente corrigida por Homero Manzi e Sebastián Piana, e um melodrama clássico. Além de seus imensos méritos dramáticos, o filme reconstrói fielmente os cenários argentinos, do início do século XX: lutas dos trabalhadores, comícios de líderes partidários e os circos crioulos, berço do teatro e da música argentinos (tema citado já lá no início desta coluna). Em uma cena do filme, o protagonista ouve o tango “Mi Noche Triste”, de Pascual Contursi, considerado a primeira música de tango, onde os cineastas recriam essa cena impossível (porque o tango é de 1917, na verdade, um ano após a morte de Bettinotti) e associam Bettinotti à origem da música de Buenos Aires.

“El Ultimo Payador” também está, assim como todos aqui citados, disponível no YouTube, através do link:

https://www.youtube.com/watch?v=SFpk3nLAMlU


Espero que apreciem – novamente, sem moderação – pois é uma lista de qualidade, realmente. Só a nata do cinema Argentino, dotado de cenas conhecidas para quem admira está cultura tão rica!

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