O nome todos conhecem. Gildo de Freitas, o REI DOS TROVADORES merece um destaque mais do que especial aqui na Estância Virtual. Suas músicas são cantadas e regravadas até hoje por artistas não só do Rio Grande do Sul, mas do Brasil todo.
As músicas de Gildo de Freitas não são vagas e sim, contam histórias reais.
Encontramos um rico material, no qual conta toda a sua trajetória, e em forma de resumo, deixamos abaixo descritos.
A INFÂNCIA:
Leovegildo José de Freitas – O “Gildo De Freitas”, nasceu em 19/06/1919 ás margens de estrada de chão batido, que em 1919 era principal ligação entre Porto Alegre e o Litoral Norte, no Bairro Passo D’ Areia então zona rural de Porto Alegre. Entretanto muitos confundem o local de nascimento achando que foi em Alegrete quando na verdade ele possui o titulo de cidadão Alegretense mas não nasceu em Alegrete. Seu Pai Vergílio José de Freitas era Castelhano, e um sujeito mui difícil, o nome e sua mãe era Georgina Santos de Freitas.
Gildo começou trabalhar muito cedo, aos 8 anos já puxava uma carreta carregada com frutas pela vizinhança. Se nada vendia levava uma surra do velho Vergílio. Gildo tinha quatro irmãos(Juvenal,Alfredo,João José e Manoel José) e quatro irmãs(Maria Ledorina,Maria Geraldina,Maria José e Maria Esmeraldina) e de longe era o mais esperto. Esteve na escola(o nome da sua professora é Dona Paulina) apenas por seis meses a escola era onde é hoje o estádio do São José de Porto Alegre.
Desde os 12 anos, volta e meia fugia de casa. Certa vez descobriu uma cancha de carreiramento em Canoas e se ofereceu para cuidar dos Cavalos e depois para cantar e tocar gaita, instrumento que aprendeu a manusear em casa de maneira autodidata com a gaita do seu irmão Alfredo. Gildo comprou sua gaita 8 baixos apenas quando tinha vinte anos.
O INÍCIO NA TROVA E AS PELEIAS:
Por volta dos 16 anos já era praticamente imbatível nos versos, aprendeu com outros trovadores da época tais como Inácio Cardoso, Genésio Barreto, Zezinho Fagundes, Bena Brabo. Mas seus companheiros de trovas eram Felindro Pinto de Oliveira e Otávio Martim.
Aos 18 anos Gildo de Freitas animava bailes em diversos Locais da Região Metropolitana e um desses bailes foi interrompido no meio da noite pela policia. Otavio 17 anos, amigo de Gildo responsável pela música juntamente com o Gildo era um guri esquentado. Reagiu a ordem dos Milicos dizendo que não iriam parar com o som coisa nenhuma. Os Pms não admitiram ter suas ordem não obedecida. O clima esquentou, garrafas , cadeiras voaram para todos os lados e Otavio acabou baleado. Ao ver a queda do amigo, Gildo se resolveu entregar. Terminando com as brigas imaginou que o parceiro receberia atendimento logo. Acabou sendo pior, dominado apanhou ainda mais. E ao ser informado da morte do companheiro, revoltou-se tanto que jamais conseguiria encarar um homem fardado sem reagir de forma virulenta.
Por essas e por outras se diz que Gildo de Freitas, gaiteiro, trovador, poeta popular e um grande brigão jamais entrou em pé em uma delegacia. Em todas às vezes (foram varias) que foi preso precisou ser arrastado para a cadeia e por muitos policias.
CANTOR DAS MINORIAS:
Gildo de Freitas ao longo de sua vida nunca agüentou injustiças sem intervir – daquele seu jeito xucro dele. Um cafetão explorando prostituta, um marmanjo impondo sua força contra uma mulher ou uma criança; um sujeito humilhando um bêbado, nada disso era suportável aos olhos do justiceiro Gildo de Freitas. Politizado, assim que se tornou conhecido no meio regionalista ele se integrou aos comícios de campanha de Getulio Vargas, Leonel Brizola, João Goulart, Alberto Pasqualini entre outros ilustres trabalhistas.
Passou a usar sua música e seu talento nos desafios de trova em prol no que ele acreditava. A trova era a arma para defender seu ponto de vista e do ponto de vista dos fracos e oprimidos. Em seus últimos anos de vida uma das atividades que ela mais praticava era a distribuição de comida aos pobres. Essa faceta social é bem visível nas músicas que compôs e nos improvisos do repente gaudério tal qual nas músicas “vida brava” e até mesmo no clássico “Eu reconheço que sou um grosso” e “Infância Pobre” entre outras.
Gildo era hábil tanto ao falar sobre o que conhecia, como filosofia campeira, boêmia e casos de amor, quanto ao abordar assuntos aparentemente estranhos a ele, como misticismo, fantasmas, o mundo dos sonhos e até o movimento hippie. Exemplo disso é a música “Prova de Repentista” do Lp ‘De estância e estância.’
A música começa com um locutor anunciando Gildo de Freitas e pedindo que a platéia desse o tema para os versos do Gildo e saltou logo um gaiato pedindo versos para a vovozinha debochando da capacidade do Gildo em fazer versos pra a vovozinha, o locutor partiu na defesa do Gildo mas como não seria diferente o Gildo de Freitas disse que faria os versos e cantou para a Vovozinha em improviso e deu uma lição no rapaz.
Assim era Gildo de Freitas fazia versos sobre qualquer assunto, pessoa, tema, situação. Prova maior que era o maior repentista não do Brasil, mas do Mundo. Era o improviso a marca de Gildo de Freitas e a partir dessa lógica ele falava e fazia versos sobre o que lhe desse na telha.
O INÍCIO DO SUCESSO E O DESAPARECIMENTO:
Em 1941 o Gildo casa com dona Carminha e passa a ter morada fixa em Canoas, mas continuam os contratempos com a policia. Gildo e Dona Carminha tiveram 5 filhos: Jorge Tadeu,Neuza de Freitas, Paulo Hermenegildo, José Cláudio e Leovegildo José.
Mas a década de 40 reservava muito sucesso ao Gildo, as trovas aqui no Rio Grande do Sul virou moda a partir de 1930 e dominavam festas, bailes, bares e programas regionalistas de rádio, desde os precursores, lançados pelo poeta Lauro Rodrigues, até os grandes hits da Gaúcha e Farroupilha como o Grande Rodeio Coringa. Havias artistas metidos a repentistas por todos os lados e um público cada vez maior e mais dispostos a avaliá-los entretanto Gildo já se destacava entre eles.Passou a freqüentar os espaços mais nobres dedicados a trovas e ganhar a vida com isso. Apesar de estabelecido em Canoas com Carminha, Gildo não costumava passar longas temporadas em casa. Ganhar a vida com trovas significava viajar por todo estado, apresentando-se para o publico do interior grande consumidor dos desafios de repente gaudério.
Era freqüente Gildo encontrar novos parceiros nas rodas de trova no mercado Publico da Capital – que situava-se próximo aos estúdios da Radio Farroupilha e servia de ponto de encontro dos músicos regionalistas- e com eles partir em viagens Rio Grande adentro.
As aventuras incluam shows, desafios, brigas e muitas outras fanfarronices- e também o leite das crianças, que nesse tempo ficavam em casa com a mulher. A foto ao lado é o resultado de uma de suas aventuras, na volta recebe a atenção e cuidados da dona Carminha.
Por volta de 1948/1949 desaparece de casa e chega a ser dado como morto na capital gaúcha mas reaparece na fronteira gaúcha. Em longa temporada passada no Alegrete, mal consegue caminhar, com problema de paralisia nas pernas.
Em uma comemoração de eleição em Alegrete é carregado em uma cadeira para se apresentar já que não consegue caminhar. Mas não impediu contato com pessoas ilustres do Rio Grande do Sul e fronteira Oeste, como Salgado Filho, Rui Ramos, Dr. Salvador Pinheiro Machado. Salgado Filho gostou tanto do Gildo e de seus versos que lhe prometeu passagens áreas para qualquer lugar do Brasil. E por causa desse desaparecimento compõe carta pra mamãe e Casinha do Pé de Umbú.
Em São Borja em 1950 conhece Getulio Vargas e entra em sua campanha política e por essa aproximação a policia para de perseguir, depois de ser detido umas quarenta vezes ao longo da sua vida até então, mas orgulhoso por jamais ter entrado em pé em uma cadeia.
GILDO DE FREITAS E TEIXEIRINHA:
Em 1953/1954 Gildo conhece Teixeirinha(1927-1985). Com quem estabeleceu entre 1955/1959 o que o artista mais popular do estado chamaria bem ao seu jeito de “uma parceria completa, dessas em que se mergulha de pé, barriga e cabeça”.
Sobre essa parceria, Nico Fagundes (apresentador do Galpão Crioulo) em depoimento recente ao jornal Zero Hora, escreveu que um duelo de versos entre Gildo de Freitas e Teixeirinha podia durar horas, e muitas vezes ficava sem vencedor. Um depoimento que mostra que Teixeirinha também era um exímio repentista. Mas Teixeirinha ficou famoso como cantor e compositor e Gildo ganhou fama como trovador.
Lamentavelmente não existe nenhuma gravação com estes duelos, imagine o valor histórico que uma gravação dessa teria hoje. Mas temos uma foto do Gildo e Teixeirinha em uma apresentação no inicio da carreira dos dois. Por volta de 1955 muda-se para o bairro Passo do Feijó e abre seu primeiro bolicho.
OS PRIMEIROS DISCOS:
Com o declínio dos programas de radio ao vivo em 1961/1962, o Gildo de Freitas resolve largar a profissão de Trovador e resolve criar porcos. Mas como seu talento era para a música e repentismo e não para criação de suínos em seguida larga a vida de criador de porco e volta a lidar com trova e músicas. A música Cobra Sucuri de sua autoria e que Teixeirinha gravou em um Lp de 1963 “Teixeirinha Interpreta músicas de Amigos” chama a atenção do produtor da gravadora de nome Pereira e o Gildo é convidado a gravar um disco.
Em 1964 viaja a São Paulo para gravar o primeiro Lp, “Gildo de Freitas o Trovador dos Pampas” com clássicos como Acordeona , Baile do Chico Torto, Historia dos Passarinhos e que jeito têm a Mariana. Alias antes de provocar o Teixeirinha, Gildo com a música Que Jeito têm a Mariana, provocou Pedro Raimundo.
Já em 1965 é lançado o segundo Lp “O Trovador dos Pampas – Vida de Camponês” entre outras músicas estava Baile de Respeito que é a primeira música gravada pelo Gildo em provocação ao Teixeirinha.
Mantendo o ritmo em 1966 é lançado o terceiro Lp Desafio do Padre e o Trovador, onde Gildo trovou com o então padre Rubens Pillar(Que no fim dos anos 60 inicio de 70, largou a batina e casou, e foi Prefeito de Alegrete por 3 mandatos, ex deputado estadual, falecido recentemente), ainda tinha outros sucessos como definição dos Grito e também a presença de uma resposta ao Teixeirinha.
Gildo estava então atingindo o sucesso, muitas viagens, mas volta e meia precisava ficar hospitalizado devido aos problemas nas pernas e no pulmão.
Em 1968 chega o quarto Lp “Gildo de Freitas E Sua Caravana” e segue as provocações e respostas ao Teixeirinha.
Em 1969 é lançado o quinto Lp “De Estância em Estância” com mais uma provocação ao Teixeirinha “Resposta da Milonga” uma provocação ao sucesso do Teixeirinha que era “Milonga da Fronteira” e a briga estava chegando ao auge e o sucesso dessa tática era evidente pois até hoje essas trocas de versos gera repercussões.
A década de 70 marca o auge de Gildo de Freitas e as brigas com Teixeirinha começam a esquentar não mais sendo tática para vender discos e sim provocações de verdade.
Entre 1970 e 1980 ele grava mais oitos Lps entre ele sucessos como o Ídolo e Rei do Improviso. Mas seguem as complicações de saúde e até capa de disco ele fotografou em Hospital e reza a lenda que até Baile fez para a doentada animando o Hospital.
Em 1977/1978 é inaugurada a churrascaria Gildo de Freitas em Viamão e nesse tempo ainda existia o Rodeio Gildo de Freitas onde os peões tinha que provar que eram bons para ficar em cima dos cavalos “velhacos” como o Gildo mesmo dizia.
Em 1981 ele grava o lp Rei dos Trovadores e segue os contratempos com a saúde a briga com Teixeirinha é amenizada um pouco mas não impediu a “Resposta da Adaga de S”.
MORTE DE GILDO DE FREITAS:
Em 1982 são realizadas a ultima gravação, trata-se do Lp “Figueira Amiga” pela continental com a ultima provocação ao Teixeirinha com a música “Que negrinha Boa” e claro com a música Figueira Amiga. Em novembro de 1982 é levado aos estúdios da RBS TV por Antonio Augusto Fagundes e Ivan Trilha para sua ultima aparição pública em um Galpão Crioulo, além do apresentador Nico Fagundes estava as gauchinhas missioneiras e os Serranos. Foi a última oportunidade de ver Gildo de Freitas, sua última apresentação e talvez a única onde se viu ele debilitado e conformado.
Mas sua trova final foi em São Borja em data e local desconhecido para mim. Essa trova ficou conhecida como “Mensagem Final” que está em um Cd de nome “Rodeio Gildo de Freitas – Mensagem Final” da Usa Discos lançado em 2001, nessa apresentação fez versos em uma apresentação de mais de oito minutos praticamente se despedindo. Fique com um trecho da música:
….eu não vim pra essa terra
Pra dar pesar pra ninguém
Eu queria cantar sorrindo
E ver vocês sorrindo também….
…Eu vou parar não roubo espaço
Porque têm outros valores
Que são assim que nem eu
Nasceram para ser cantores.
Gildo de Freitas morreu em 4 de dezembro de 1982 e foi sepultado dia 6 dezembro em Viamão no cemitério velho.
Dia 4 de Dezembro que também foi a data da morte de Teixeirinha em 1985.”
Retiramos todas as informações deste site
Espero que tenham gostado de aprender um pouco mais sobre este ícone da música gaúcha.
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Forte abraço!