A Criúva é uma localidade muito importante para nossa cultura regional gaúcha.

Localidade distante da cidade, onde muitas das nossas danças foram recolhidas. Claro que não é por acaso dessa geografia cultural. Sabemos que localidades de serra, e mais distantes, sempre tinha dificuldade em receber as informações e as modas. Elas se demoravam para chegar, e (felizmente) demoravam para perde-las. Por isso de tantos motivos folclóricos primitivos terem permanecido intocados na região serrana da Mulada, da Criúva.

Terra de gauchadas. De pacholismo. De cultura… como podem ver!!! Era Dezembro, há aproximadamente dois anos e pico, num calorão que até o “inferno” tinha ciúmes, lá por São Marcos, do “cimo” da serra, num rodeio com festa campeira, das tantas que cruzamos por aí. A tarde apontando o sol passando um pouco do “pino”.

E o grupo mais gaúcho do evento estava bailando na sala. Era um grupo um tanto novo na época, de dançarinos não com mais de seis meses de dança, creio. Mas… pensa em pachola. E lá pelas tantas, depois de três temas, se inicia a última dança. Um Chotes-de-duas-damas bem tocado e bem dançado… bem no estilo serrano.

Afinal, o grupo era da lendária Criúva… a Criúva dos Bertussi, da Mulada… do Anú e do Fandango sapateado… das pesquisas da Folia do divíno, do São Gonçalo do Amarante e de tantos mateiros, meio de bugre e italiano, que ainda se vê por lá.

Num determinado floreio, um taura sofre um “carancho” (figura característica por roubar o lugar do dançarino atuante). De sopetão o “carancho” salta de vereda, lá na frente, e ocupa o lugar do tal dançarino se largando “cego” no chote. Sem saber do acontecido, pois foi algo totalmente espontâneo, ao estilo dos de antigamente, desolado e deslocado, não conformado com tal cerra a cara e já puxa da prateada que carregava no lado esquerdo da guaiaca, como todo bom serrano… e salta riscando o chão de fronte ao carancho, o tal novo dançarino das damas.

Chegando “quage” a cegá a ponta da corneta velha de guerra com o chão do assoalho. O novo peão não se assusta, pois é mateiro e traquejado igual, e continua o baile, “loco” de faceiro, bailando e floreando risos para as duas prendas, como se houvesse nada acontecido.

Ao descer do palco, o instrutor, mais apavorado que guaipéca em canoa, vendo o concurso todo já arruinado, chama o moço da cherenga pelo braço já no brete, de pronto… pruma charla: – Mas galo, como que tu puxa da faca bem no meio do palco, na frente dos jurados, logo no Chote de Duas Damas?

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O taura, naquela estampa de gauchão retruca:

– Ué, mas não pode?

O instrutor ainda tenta, vendo a situação perdida:

– “Má, homi” do céu. Claro que não, né!?

E pra finalizar o assunto, então:

– MAS NA CRIÚVA PODE!!!” Hahahaha! Fato verídico!

E então foi assim que nasceu a seguinte letra! -X-X-X-X- Aqui se dança de espora e pala de seda: Um jeito antigo que se vê, já pela estampa… – Notem que a fibra nasceu de uma velha templa, E com duas “china” sigo deixando na pampa! Que é num chote que me “espaio” e me destrincho: Salta faísca quando a poeira se sacode!… Se nunca viu… e se não deixa – meu amigo – Te digo e afirmo, que: lá na Criúva pode! Nasci no campo… trabalhei sentando enxada… Facão de mato… chapéu de palha na testa!… Homem biriva, meio bugre em chão serrano… E se duvidam: a minha estirpe já atesta! Mas com duas “dama” sou gaúcho… e já conduzo Para uma dança que todos olham faceiros!… Lá na Criuva não só pode, como deve: Danço pachola – no próprio estilo “mateiro”! Venha carrancho… mas não se meta no enleio… Que bem te digo que comigo ninguém pode… – Se te atravessa, risco a faca assoalho afora… E se reclama, te digo: na Criuva pode! E risca faca… salta calando… Venha na dança – força de lombo e cogote… Que risco a faca… sou muladeiro… Pode quem pode… e é assim que eu falo num chote!!!

Foto: Honeide Bertussi – São Jorge da Mulada – Criúva – Caxias do Sul/RS

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