O futebol é algo esplêndido. Não envolve apenas humanos, uma pelota e um objetivo – o gol -, vai além; é um campo que abriga almas sonhadoras, onde o único objetivo é escrever seu nome na história do universo.

Tratando-se de futebol e história, sempre ei de lembrar primeiramente de meus tempos de infância, onde, ao anoitecer, passava a ouvir no radinho gasto os jogos do Tricolor dos Pampas. Quando o jogo era a noite, sentava-me na varanda silenciosa em frente à casa e, ali, o meu pai, o frio da noite e as estrelas eram as minhas companhias.

Depois, enquanto a paixão – não pelo esporte, mas pelo time gaúcho – aumentava, passara a acompanhar numa pequena TV os vários jogos daquele período. Era época de Copa do Mundo, mas isso não me importava; as seleções nacionais não atraiam-me da mesma forma que o clube de três cores dos Sul me atraiu.

O rádio, a TV, os livros de história, tudo levava aquele guri em direção a uma única conclusão: havia um encanto maior nas coisas do pago.

De certa forma, para si a Libertadores da América tem sido a competição mais importante, pois foi ali que a paixão começou. No entanto, o Campeonato Gaúcho chamava também a sua atenção. Gostava de acompanhar não somente o seu time, mas também os demais.

Jurava avistar um orgulho no olhar de cada torcedor ao longo de toda a competição, e quando o Hino Rio-Grandense era entoado nos estádios, então, não sabia explicar. Apenas admirava. O orgulho de pertencer ao pago estava sempre estampado no rosto e na alma de cada vivente.

As guerras sempre fizeram parte do território Rio-Grandense. Primeiro os índios pelearam contra portugueses e espanhóis pelo então território da Província de São Pedro do Sul. Logo depois, os Farrapos pelearam contra as forças imperiais, visando o bem da República do Piratini.

Houve, também, uma peleia duradoura entre Chimangos e Maragatos por estas terras. No futebol, Seleção Rio-Grandense e Seleção Brasileira já se enfrentaram diversas vezes, e era, literalmente, uma peleia.

Seleção Gaúcha de Futebol – 1972

“Um povo que tanto lutou por liberdade não pode deixar de lado o seu orgulho de ser gaúcho” é o que lê. Tal fato relembra dos tempos em que o grito “Ah, eu sou Gaúcho!” era entoado no Beira-Rio, no Olímpico e, obviamente, no interior, onde a globalização ainda não afetou tanto a população e o futebol – felizmente.

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Os adversários vinham de São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, de todos os cantos do Brasil e do mundo, e em seus rostos estava a evidente mesclagem entre admiração e espanto relacionado ao tamanho patriotismo existente naquelas bandas sulistas.

Agora, crescido, aquele guri presenciou mais uma Copa do Mundo de Futebol. No entanto, a sensação não mudou. Continua admirando mais o seu clube de coração do que as Seleções Nacionais. Continua tendo fé de que o Campeonato Gaúcho é mais valioso do que o Mundial disputado pelos ‘melhores do mundo.

Talvez por não se sentir representado por alguma seleção, talvez por seguir achando mais encantadora as histórias de sua terra do que as história do globo todo. Se pudesse deixar o Rio Grande do Sul e viver em qualquer outro país, ele não faria, aliás, assim como prefere acompanhar um amistoso de seu time em Ijuí ao invés de ganhar ingressos para acompanhar a Seleção Brasileira em Moskow.

É estranho, mas é realidade. Afinal, ele cresceu vendo o futebol gaúcho com as suas características próprias, que o diferenciaram do futebol do restante do país; mais virilidade que habilidade, mais força que malícia, mais entrechoque que negaça; mais alma castelhana do que espírito brasileiro.

Neste período que passou da Copa do Mundo, voltei a sentar na varanda de casa, com o chimarrão numa mão e a mente repleta de histórias. O rádio esteve ligado, entoando as narrações dos golos de uruguaios e argentinos, e a minha concentração estará no Cruzeiro do Sul, visto no céu. Imagens de uma Seleção Rio-Grandense peleando numa Copa do Mundo será o meu sonho.

Sepé Tiaraju, que já defendera a Pátria Rio-Grandense outrora, estaria na defesa. Bento Gonçalves, com suas feições severas e olhar penetrante, seria um dos zagueiros e capitão da equipe. Nas laterais, poder-se-ia ter Silveira Martins e Júlio de Castilhos – Everaldo seria fortíssimo candidato à titularidade.

É preciso muito estudo e paciência para montar uma Seleção Rio-Grandense. Porém, o guri de forte imaginação e paixão pela Tradição Gaúcha via em Hermann Von Salisch alguém capaz de comandar com maestria e dignidade esta seleção, fazendo servir de modelo as suas façanhas a toda terra.

Estes e muitos outros que fizeram do Rio Grande do Sul um lar e razão de viver, já escreveram seus nomes na história, tornando, assim, suas epopeias de civismo e louvor dignas de imaginação e encanto.

Embora exista e resista, a real Seleção Gaúcha ruma cada vez mais ao caminho do esquecimento. Porém, a todos que colaboraram para a existência da mesma, e do futebol do Rio Grande do Sul, encantando gerações e honrando as cores do pago, serão eternamente lendas da Província das Chuteiras.

“Ser imortal é deixar frutos onde passa…”

#Futebol #História

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